Você em primeiro lugar

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Olá,

Hoje vamos descobrir quais são os planos da Hange sobre o futuro da Leona e como ela se sente namorando o Levi.

Boa leitura.

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Hange deu um longo suspiro e deixou as costas escorregarem pelo encosto da cadeira. Papéis aguardavam assinatura. Se tratavam de permissões para os marleyanos serem empregados em empresas paradisianas. As folhas precisavam ser carimbas, anexadas aos currículos dos forasteiros e colocadas em envelopes. Yelena e Connie passariam o dia seguinte ajudando os marleyanos a conseguir trabalho.

À esquerda encontrava-se uma pequena pilha de cinco folhas, esta já preparada para o capitão da polícia. Eram fichas de estrangeiros que iriam para a prisão por crimes cometidos dentro das muralhas; um deles por assalto à mão armada, e quatro por crimes de ódio. Preenchê-las deixou Hange enraivecida. As coisas são assim. Um copo d'água não se nega a ninguém, mas o que fazer quando a pessoa pega o copo e joga na sua cara? É de se esperar que a mão amiga volte com um porrete. Não podia fazer mais nada por eles, agora os forasteiros criminosos pertenciam ao departamento da Polícia Militar.

Contemplou a papelada inacabada, ponderando se era possível terminá-la antes do anoitecer. Pela posição do sol, deviam ser quatro da tarde. Usar o sol para acertar as horas a fez lembrar de Erwin. O falecido comandante adorava descansar sob os raios solares. A pele de Erwin quase sempre estava quente; do tipo que te enternece quando você toca. Leona herdara isso dele, ambos adoravam ficar no solzinho. Devem ter sido lagartos em vidas passadas - talvez Erwin fosse um agora.

Leona descansava com a nuca apoiada no vidro resistente da janela, de braços cruzados e olhos fechados. Ao lado a cadeira usada para alcançar o largo parapeito repousava esquecida. As pernas curtas balançavam longe do chão. Como sempre, não usava nada nos pés. Em momentos como aquele, onde Leona fazia, deliberadamente e sem ter conhecimento, releituras dos costumes do pai, Hange tinha o pressentimento de que o espírito de Erwin enxergava por meio da filha. O pensamento causava calafrios.

Apoiou o lado do rosto na palma da mão e olhou para a garotinha tão parecida com o dono antigo da sala. Leona não tinha olhos azuis ou sobrancelhas grossas, e o nariz era bem mais parecido com o da mãe, no entanto, pai e filha compartilhavam características aos montes. Quando Leona endurecia a cabeça erguida e se punha em posição de autoridade, ficava igualzinha a Erwin. Nas ocasiões onde algo lhe era negado, Leona murchava os olhinhos como seu pai costumava fazer. Fora a determinação intensa demais para o bem de Leona. Bom, nesse caso, a culpa pertencia a Hange igualmente, pois a persistência também corria no sangue dos Zöe.

Leona, perante o peso do olhar da mãe, abriu os olhos. Viu a mãe e mostrou os dentes de leite num sorriso alegre. Hange retribuiu. Logo depois, a comandante erguia-se da escrivaninha para ir até a janela onde a filha descansava. Leona girou o corpo, ficando com o lado esquerdo no vidro e ambas as pernas sobre o parapeito. Hange sentou na extremidade aposta. Lá fora, o instrutor aproveitava o fim da tarde para treinar os novos recrutas. Hange pestanejou, acabara de sofrer um déjà-vu.

— Eu gosto do sol.

Disse Leona, encostando a bochecha no vidro quente. No instante seguinte, ficou de quatro no parapeito e, sem cuidado nenhum, engatinhou até Hange. A comandante estendeu os braços para ajudá-la, e em seguida Leona subia em seu colo. A menina sentou atravessada, com as perninhas comprimidas no vidro.

— Eu sei. Quando você era bebezinho, eu e você sentávamos aqui. Você adorava.

Leona apoiou a cabeça em seu peito, gemendo feito um gatinho manhoso. Os raios solares atravessavam o vidro e batiam direto nos olhos da garotinha, destacando a cor escura da íris. Leona apertou os olhos e meneou o rosto para fugir da violência solar.

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