87 - Os Subalternos

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"Diário de bordo, suplemento. Quem fala é o Capitão Meko Kaire do Galeão de Atena e, por meio deste registro, informo que a regulamentação para tocadores de música está revogada em meu navio, de modo que a alferes-engenheira Lunara pode escutar suas músicas antes de dormir. A não ser, é claro, que minha imediata se oponha."

Lunara escutava repetidamente a última gravação do Capitão Meko Kaire em seu gravador pessoal sempre que encerrava seu turno, como se para relembrar de como ele achava que ela fazia um grande trabalho. Era algo que a deixava um pouco triste de saudade, mas também a fazia rir brevemente das bobagens e principalmente da Imediata Geist super nervosa na gravação.

Ela não era a única triste naquele navio.

O clima era fúnebre por todo o Galeão sob o comando de Geist, que também experimentava uma certa apatia ao ocupar a cadeira de seu antigo Capitão, um homem tão energético e adorado pelos tripulantes. Certa noite, finalizado o turno do dia, foram todos surpreendidos no convés pelo violão triste que Seiya tocava sentado no castelo de proa, cantarolando melodias morosas. O violão que havia sido um presente do próprio Capitão e Seiya o tocava de maneira muito delicada e triste; logo ele, sempre tão alegre e confiante, ultimamente parecia mergulhado no luto.

Mesmo o Oceano Pacífico parecia fazer jus ao nome e nem por um dia sequer acossou o navio com suas armadilhas, seus tufões ou suas sereias; navegaram dias e dias em uma enorme calmaria, como se o próprio oceano estivesse em luto pela perda de um marujo tão enorme. De alguém que havia respeitado os Mares e se apaixonado pelas águas.

A tripulação funcionava perfeitamente, cada qual à sua função, e não havia qualquer animosidade contra a Capitã Geist, e ela sabia melhor do que se ressentir à frieza com que todos respondiam às suas ordens. June foi alçada à condição de imediata e a alertava sobre a moral da tripulação apenas para cumprir também com sua função de auxiliar-médica, pois na verdade sabia que não havia muito o que ser feito, pois apenas o tempo poderia amenizar a dor.

Tudo que tinham a fazer era seguir com a missão do Galeão: havia ainda três Relíquias para serem seladas e eles cumpririam com aquela missão pelo Capitão Meko Kaire. E por Atena, é claro.

O Galeão deixou a Polinésia do Pacífico Sul e desceu perto do continente Antártico para atravessar a Terra de Fogo ao sul da América mais distante para desaguar finalmente no Atlântico Sul, por onde deveriam subir quase toda a costa brasileira, pois constava na Carta Náutica de Nicol que, de modo misterioso, a Relíquia do Mar estava no coração da Amazônia.

Ao entardecer de mais um dia calmo no Galeão, Seiya e Lunara já preparavam-se para encerrar seu turno para dormirem mais uma noite triste sem o Capitão Kaire. June, na condição de imediata, soprou um apito grave para anunciar o primeiro sinal, que era para acordar quem não havia acordado para ocupar o turno da noite, como era de costume. Na cantina do convés inferior, três marujos sentados ouviram o primeiro sinal e olharam para a escada ao mesmo tempo.

E então encararam-se, cada qual com seu próprio rosto cansado.

— O final do dia é um dia que se acaba. — disse o primeiro, Tales era seu nome.

— Não para nós. — comentou Téo ao seu lado.

Eram dois homens mais velhos, de barbas mal feitas; o primeiro era mais parrudo, enquanto o segundo era tão mirrado e alto que andava um pouco curvado. Na mesa sentou-se uma mulher de pernas fortes, mas de mãos delicadas; o cabelo preso em um coque. Ela trazia três canecas de chá amargo para eles.

— Ouviu algo, Ofélia? — perguntou Tales, o parrudo.

— Parece que o grupo de Elias não encontrou nada. Eles partiram com um dos garotos, mas não acharam o caminho nas matas e tiveram de retornar, porque já estava escurecendo.

Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de SeiyaWhere stories live. Discover now