36 - O Coração de Atena

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A brisa noturna soprou seu vestido muito sujo e rasgado nas pontas. A rosa ainda guardava um doce perfume que lhe trazia um enorme conforto; Saori se espetou, no entanto, nos duros espinhos do caule, e viu de seu dedo verter uma gota de sangue que pingou no ladrilho bonito daquela sacada.

Ficou ali observando, como fizera tantas vezes em sua vida, a rapidez com que sua pele fechou-se estancando o sangue. Entrou em seu antigo quarto; agora revirado e entulhado de coisas e muito sujo. Encontrou sua escrivaninha vazia de suas coisas, exceto por um vaso sem flores que fazia parte da própria estrutura de madeira. E ali colocou a rosa que, mesmo naquela escuridão, parecia vibrar um tom de vermelho bonito. Tudo ao redor dela tinha tons tons arroxeados e notívagos, mas aquela rosa encantada parecia brilhar sozinha.

Ela sentou-se em sua antiga cama, agora muito empoeirada e com muitas tralhas em cima dela. Respirou fundo com o báculo deitado no seu colo quando lembrou-se dos eventos terríveis daquela noite; como se as dimensões que havia cruzado houvessem atrasado algumas horas de sua memória, que lhe pertenciam, mas continuavam longes.

Lembrou-se de Seiya e levantou-se de sobressalto, muito preocupada.

Correu para a porta e encontrou o rosto preocupado de Alice.

Ela a abraçou chorando, suas mãos tocando seu corpo para ter certeza de que estava mesmo ali.

— O que aconteceu? — perguntou ela, desesperada.

— Mii... — tentou acalmar Saori, mas ela continuava a abraçar a amiga de forma muito comovida.

Saori bem sabia que para ela estar desesperada daquela forma era porque algo grave havia acontecido. Mas, antes de qualquer coisa que precisasse saber, Saori sabia que tinha ali um coração que precisava acalmar. Deixou o báculo e abraçou a amiga com toda a força que podia, para que ela pudesse ver que ela estava mesmo ali. E que seguia forte.

— Onde estava? — perguntou finalmente Alice, procurando seu rosto.

E Saori olhou por sobre os ombros da amiga, que virou-se para olhar o báculo de ouro que permanecia de pé sem apoio algum no ar.

Ela contou o que havia se sucedido no desfiladeiro até a milagrosa visita do Cavaleiro de Ouro. Seu fatídico encontro com o Camerlengo do Santuário e o presente que havia trazido de volta junto com uma missão.

— São três noites já que está sumida. — contou finalmente Alice. — A cidade inteira está te procurando.

Saori assombrou-se, pois até então imaginava que Seiya ainda sofria no desfiladeiro precisando de sua ajuda.

— Seiya está no hospital mais afastado, muito ferido, mas vai ficar bem. — disse Alice. — Ikki sumiu de novo, pra variar, e o Shun foi até Jamiel.

— Jamiel? — perguntou Saori e Alice confirmou.

— Disse que vai buscar algo para os olhos de Shiryu.

— E o Hyoga? — perguntou Saori finalmente.

— Está no Coliseu. Ele tinha certeza de que voltaria.

Mas ela não, sentiu Saori. Alice preocupava-se demais com ela, pois ela era muito mais do que uma Deusa para ela.

— Estou bem, Mii. Estou aqui agora. — disse.

Alice ainda chorava, no entanto. Chorava, pois se Saori estava ali não era graças à ela. Ela havia falhado. Com sua Deusa, mas muito pior do que isso. Com sua amiga.

— Me desculpe, Sa. — perguntou-se ela em voz alta. — Eu não estou à altura de te proteger.

— Jamais diga isso, Mii. — falou Saori novamente a abraçando. — Foi você que esteve comigo desde o começo.

Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de SeiyaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora