30 - Deuses e Crianças

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A noite na cidade grande é de enorme movimentação nas enormes avenidas, os arranha-céus esvaziando enquanto os bares e calçadas vão se enchendo de pessoas ansiosas para viver seu final de dia de alguma forma mais lúdica do que nas horas vespertinas.

A praia já não tem mais os banhistas, mas junta um tanto de gente interessada na noite e no barulho do mar: casais, amigos, boêmios.

Não longe dali ficava a enorme construção de um Coliseu, feito ao estilo da clássica arena romana que havia atravessado eras. Pois esse moderno Coliseu também encontrava-se em ruínas, acometido por um incêndio criminoso.

Metade de sua construção derrubada.

E, acima desses escombros, onde antes lutavam guerreiros para enorme deleite de uma plateia apaixonada, estão sete jovens feridos em silêncio.

Em seus olhos jovens a vergonha, a confusão, o espanto, o medo, a ansiedade ou a dor. Em todos eles. Apenas crianças ainda.

Seiya procurava no céu as suas estrelas, mas não as encontrava. Olhou, portanto, para o lado, e viu seus amigos.

— Proteja Atena. — disse Shun.

Seiya olhou para Saori sentada com seu vestido branco. Os pés, calçados em uma curiosa sandália, cruzados à sua frente. Era só uma menina.

Ele era acostumado com a imponência e os ritos do Santuário; a marcha do Camerlengo, o sagrado das ruínas e das histórias, a figura silenciosa e altiva de uma mulher fabulosa acima do Pontífice, a rigidez de Marin. Estar naquela cidade ao lado de seus amigos, cuidando de orfanatos, lavando louças e experimentando sorrir e brincar era um outro Mundo para ele. Um Mundo onde Deuses jamais desceriam. Sequer poderiam existir.

Seiya tinha certeza que no dia anterior havia jogado uma almofada em Saori. Sem sombra de dúvidas que a amaldiçoou dezenas de vezes antes de dormir e pouco foi educado quando logo se reencontraram. E então lembrou-se de outras vezes em que quase se bateram quando eram muito menores.

Proteja Atena.

Atena era Saori.

— Como é ser uma Deusa? — perguntou Seiya, honesto.

A pergunta pegou a todos desprevenidos, pois após aquela demonstração imponente e a história de Éris sendo contada, havia um clima tenso entre todos eles. De muita dúvida e confusão. Como seguir? Como ir adiante? Eram ainda crianças. E haviam deuses.

Saori também não esperava a pergunta, já que ninguém nunca havia perguntado aquilo para ela.

— Eu... não sei. — disse ela. — Não é muito diferente, eu acho.

— Você se machuca? — tentou ele novamente.

— Sim. — respondeu ela. — Mas eu acho que eu melhoro mais rápido que o normal.

— Isso é legal. — comentou Seiya com Shun ao seu lado e o amigo concordou.

— Você também pode curar outras pessoas?

— Eu ainda não controlo meu Cosmo. — disse Saori. — Mas... já consegui fazer isso. — falou ela, olhando para Alice. — Na verdade, vocês são muito mais poderosos do que eu.

Havia um sorriso em seu rosto quando olhou para todos eles.

— Eu vi todos vocês lutando batalhas incríveis, que eu jamais seria capaz de suportar ou fazer igual. — falou ela enquanto olhava para cada um deles ali, pois ela de fato havia os visto lutar bravamente em diversas situações.

Seiya concordava com aquilo e lembrava-se dela contra os Cavaleiros Negros; não havia absolutamente nada de especial nela, nenhum preparo, nenhum conhecimento. Sequer existia um resquício daquele Cosmo enorme que ela havia manifestado.

Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de SeiyaWhere stories live. Discover now