64 - Desmascarado

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No Templo das Estrelas, o Camerlengo Arles prepara o corpo recém falecido de seu irmão Sião na câmara no fundo do templo. Com um turíbulo aceso, ele balança o incensário para cobrir o corpo frágil de seu irmão com uma camada de uma fumaça espessa e azulada; o corpo do Sumo Pontífice Sião está deitado em um banco de pedra largo em uma pequena câmara. Àquele tempo, suas estantes ainda estavam cheias de livros dos mais variados tamanhos, larguras; carregando conhecimentos das mais antigas civilizações ao redor do mundo.

Arles ajeitava a barra da batina branca com adornos em ouro de seu irmão, as contas eclesiásticas ao redor do pescoço e o longo cabelo grisalho com duas mechas que lhe caíam até o peito. Um rosto muito enrugado pelo tempo, pois aquele senhor viveu por mais de duzentos anos desafiando a vitalidade de um homem comum. Mas ele não era um homem comum. Sobrevivente da última Guerra Santa, Sião foi um dos únicos a sair vivo de uma terrível batalha e, por esse motivo, governou por todo esse tempo o Santuário de Atena.

Até que o tempo inabalável finalmente colheu sua vida.

Ao seu irmão, o Camerlengo Arles, ficaria a tarefa de preparar o seu corpo para o funeral e seu enterro. Bem como vestir o elmo de ouro de Sumo Pontífice temporariamente até que o escolhido sucessor de Sião finalmente fosse nomeado novo Pontífice, o que deveria ocorrer dali a alguns dias.

Deixou o turíbulo no chão, que ainda queimava suas ervas aromáticas, e caminhou até a estante cheia de livros à sua frente. Em um espaço entre tomos, ele pegou um cálice que havia preparado, respirou fundo, fechou os olhos e tomou o líquido completamente, devolvendo a taça dentro da estante.

Ajoelhou-se diante daquela santa figura.

— Descanse em paz, meu irmão.

Levantou-se e saiu do pequeno cômodo para encarar o seu próprio destino.

Saiu do Templo e encontrou um Cavaleiro de Ouro esperando-o, a Armadura de Gêmeos no corpo e o elmo de duas faces nas mãos, seu rosto bondoso e calmo ajoelhado esperando a saída do Camerlengo.

— Este é um lugar destinado somente ao Grande Mestre Sumo Pontífice e ao seu Camerlengo. — falou a voz de Arles usando seu elmo de ouro, mas sua batina negra. — O que faz aqui, Saga de Gêmeos?

O homem diante dele levantou-lhe, os olhos calmos, e falou com sua voz grave.

— Todos no Santuário me admiram e me adoram como se eu fosse um deus. Cumpri com todos os requisitos e tenho guardado o Selo dos Mares por anos a fio. Por que não fui escolhido sucessor?

O Camerlengo respirou fundo ao responder.

— Meu sagrado irmão Sião escolheu Aioros, pois ele possui a bondade, a inteligência e a coragem próprias para ser o próximo Pontífice do Santuário.

— Não me julgo inferior a Aioros em nenhum desses aspectos. — respondeu Saga. — Diga-me, Camerlengo Mestre Arles, você foi a pessoa mais próxima do Papa Sião, por que não fui escolhido?

O Camerlengo Arles sabia exatamente o motivo, pois era, afinal de contas, o confidente e braço direito de seu irmão, o Papa Sião. E por dias e noites confabularam sobre a importante escolha que ele teria de fazer.

— Meu irmão Sião sentia uma grande indecisão e dúvidas terríveis em seu Cosmo, Saga. Aspectos que não são permitidos a um Sumo Pontífice de Atena. — falou a voz mais calma do Camerlengo. — Ele bem sabia do respeito que você inspira no Santuário e de quão dedicado é para com sua missão. De minha parte, sempre que o olho nos olhos, vejo que existe um veneno profundo em seu corpo o qual nem mesmo eu sei do que se trata.

As palavras pairaram entre os dois como a fumaça do turíbulo que queimava dentro do Templo das Estrelas. Feito uma estrela que morre de repente, o punho de Saga de Gêmeos avançou e entrou no peito do Camerlengo Mestre Arles, que imediatamente perdeu a respiração. Próximo como estava, as últimas coisas que viu foram os cabelos esbranquiçados de Saga e seus olhos avermelhados de loucura.

Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de SeiyaWhere stories live. Discover now