O jovem médico leu com atenção os números que indicavam qual o índice dos resultados do novo tratamento, e suspirou. Bertha estaria ali em dez minutos, e ele teria que encontrar uma maneira de explicar em palavras simples o que estava por vir, e não seria fácil.
Depois de estudar os números mais de uma vez, Gilbert se preparou para a chegada de Bertha que não demorou a acontecer. Os dez minutos voaram, e a batida na porta do seu consultório lhe mostrou que era hora de sair da teoria e ir para a prática que o caso exigia.
- Bom dia, Dr. Blythe.- ele a ouviu dizer e responder.
- Pode me chamar de Gilbert. Acho que já temos um pouco de intimidade para nós tratarmos pelo primeiro nome, se você não se importar.
- É claro que não me importo. - Bertha concordou sorrindo, e naquele instante Gilbert percebeu o quanto ela era parecida com Anne, o que o deixou momentaneamente chocado, mas, logo voltou a se focar no seu trabalho e disse com os resultados dos exames de Bertha nas mãos:
- Seus exames chegaram.
- Tive algum progresso?- ela perguntou aparentando estar calma, mas, Gilbert podia ver pelos seus olhos que a ansiedade dentro dela não era nem um pouco branda.
- De certa forma sim, mas, devo informá-la que não posso garantir lhe uma vida longa e feliz.- Gilbert explicou, vendo o sorriso dela murchar um pouco, fazendo-o se sentir pesaroso por não ter como dar a Bertha o que ela desejava.
- Tudo bem, Gilbert. Eu não esperava nada muito diferente do que os outros médicos me disseram. Muito obrigada por sua boa vontade em me ajudar. - ela disse sem se mostrar abalada pelo que ele dissera. Aquela aceitação passiva era o que mais doía em Gilbert, pois lhe dava a impressão que o paciente tinha desistido de lutar, Porém, Bertha já tinha estado naquele caminho antes, e após ouvir de tantos médicos o que ele acabara de falar, era mais fácil aceitar que o fim estava próximo do que se rebelar contra o inevitável.
- No entanto, o tratamento mostrou uma melhora em seu quadro anterior, então, temos também uma boa notícia aqui. Sua vida pode ser prolongada por dois ou três anos, se assim você o desejar.- Bertha o olhou surpresa e disse:
- Eu não sei o que dizer. Essa é uma excelente notícia. É claro que desejo viver todo o tempo que a medicina me permitir.
- Então, continuaremos com o tratamento. Você pode fazer uma nova sessão depois de amanhã, faremos uma pausa de quinze dias, e então faremos mais uma. O que acha?- Gilbert perguntou com um sorriso.
- Excelente, Gilbert. Nesses quinze dias de pausa posso ir para casa, e depois retornar para a outra sessão?- ela perguntou ansiosa.
- Saudades da família?- Gilbert perguntou, olhando-a de forma compreensiva.
- Sim, de meu marido principalmente. Que tem me apoiado desde o início.
- Então, está liberada. O apoio familiar é sempre importante
- Eu concordo. E como está Anne? - Bertha não pôde deixar de perguntar.
- Ela está cada dia melhor. Suas pernas já estão mais fortes, e creio que logo ela estará andando de novo.
- Que ótima notícia.- Bertha respondeu, parecendo tristonha e Gilbert entendeu que não ter o perdão da filha era mais difícil para ela que a própria doença.
- Bertha, eu sei o quanto essa aproximação com Anne é importante para você, mas, tudo o que lhe peço é paciência. Anne tende a ser muito difícil quando está magoada. Ela não sabe lidar muito bem com esse tipo de sentimento, e acaba afastando a pessoa que a magoou. E você tem que concordar comigo que essa mágoa não é recente, e que ela teve anos para construir muros em volta de seu coração que não serão simplesmente derrubados no primeiro pedido de desculpas.
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Anne with an e- Corações em jogo
FanfictionAnne Shirley Cuthbert foi abandonada ao nascer em um orfanato por sua mãe biológica, mas ela nunca deixou de acreditar que sua vida mudaria. Aos nove anos de idade foi adotada por dois irmãos que a amaram desde o primeiro momento, e a levam para mor...
Capítulo 108- Redescobrindo o passado
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