Davi e eu somos bons juntos, isso é um fato bastante gritante, tanto no trabalho quanto, que Deus me ajude, na cama! Mas é ai que entra minha cabeça ferrada... é ai que entra minha mãe louca, minha família morta por causa da minha mãe louca, meu tio chegando à cidade, o caos que está prestes a acontecer na empresa... é ai que entra minhas lágrimas, minhas cicatrizes, minhas dores!

E se eu tivesse uma vida normal? Se eu tivesse conhecido Davi em outras circunstancias? Aliás, será que eu teria conhecido Davi se não tivesse acontecido nada do que aconteceu na Flórida? Com certeza não! Eu levo uma de minhas mãos até o peito sentindo-o mais apertado. Meu corpo tremia um pouco com meu choro silencioso.

Eu gosto da ideia de nunca ter conhecido Davi? Balanço a cabeça em negativa respondendo minha própria pergunta. Mesmo com as dores, ainda que eu saiba que mesmo sentindo tudo o que eu sinto por Davi, mesmo tendo acreditando em algum momento, que poderíamos ter começado alguma coisa, que nada vai poder realmente acontecer entre nós, eu tenho a certeza de que eu jamais teria conhecido alguém que me fizesse sentir como ele me faz, eu tenho a certeza de que nenhum homem jamais teria me olhado como Davi faz e se tivesse algum, não teria o mesmo efeito sobre meu corpo...

Talvez eu fosse feliz com minha família viva e saudável, claro que eu daria qualquer coisa pra poder tê-los de volta comigo sem todo o drama, claro, talvez eu tivesse me casado com aquele carinha gentil e doce que ficava corado só de eu dizer um 'oi' a ele, talvez eu e minha mãe teríamos aberto nosso próprio ateliê de artes e eu viveria numa casa próxima a dos meus pais com meu marido, talvez eu poderia ir aos shows de meu irmão quando sua banda ficasse famosa...

– Talvez! – digo em voz alta voltando a por meu braço aberto, mas eu jamais saberia o que aquela palavra significa! Eu sempre pensei, ou melhor, acreditei que as pessoas não são metades umas das outras, você precisa ser inteiro para poder então deixar alguém entrar em sua vida e não completar você, mas somar! Eu pensava assim antes de minha mãe surtar... ainda penso na verdade. Você precisa ser inteiro, precisa ser completo... e eu não sou!

Estou quebrada e não dá pra montar de volta porque alguns dos pedaços se perderam e estão danificados demais para tentar colocar de volta, eu não sou inteiramente minha e não posso me dar e nem receber ninguém. Acho que é isso que me faz chorar. Eu, pela primeira vez em anos, queria ser capaz de amar de verdade, eu queria ser capaz de ser amada sem que a pessoa que me ame tenha que passar por desafios e momentos difíceis como Chris e Lance passam comigo, como meu pai passou com minha mãe, ele a amava, eu sei que sim... ele não teria ficado com ela até o fim se não a amasse e eu sei que esse amor que meu pai sentia era mais forte do que muitos amores que as pessoas dizem que sentem, o amor dele era firme, forte era aquele que expandia e você notava mesmo quando minha mãe não estava por perto, você via o amor dele em seus olhos quando falava na esposa, quando via sua foto ou só ficava lá parado pensando...

Sempre quis aquilo na minha vida também, claro até tudo desmoronar! Ainda tenho medo da Angela louca, medo dela sair de onde quer que esteja dentro de mim e destrua tudo como minha mãe fez, eu não posso arriscar, não posso! Mantendo-me fechada eu também mantenho a louca trancada.

Sei que minha mãe tinha um transtorno bipolar e mais alguns probleminhas não diagnosticados e isso não quer dizer que a pessoa seja louca, de forma nenhuma... se ela tivesse cuidado de si mesma, se não tivesse misturado toda aquela droga ilícita com seus remédios, ela estaria bem, se ela não tivesse que beber para pintar, ela estaria bem... eu não posso culpar sua doença quando ela não tem culpa alguma! Minha mãe foi a culpada da própria desgraça, ela escolheu foder ainda mais sua mente quando se envolveu com meu tio!

Mas eu ainda tenho medo. Medo de desenvolver a doença e perder o controle como minha mãe, eu sei que ela não bebia para pintar, ela também odiava ser como era, ela também tinha medo... e eu tenho o mesmo sentimento, e se eu seguir o mesmo caminho? Se eu achar mais fácil beber e sei lá mais o que só pra fugir desse medo? Fugir da doença, eu sei que fugir não ajuda em nada... mas ainda sim, às vezes eu não me sinto capaz de lutar se eu ficar como minha mãe.

SALVA PELO CHEFE (COMPLETO)Where stories live. Discover now