Capítulo 91- Amor e mágoa

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Reunindo sua coragem, ela abriu a porta, e quando colocou os pés para fora, Anne sentiu um baque dentro de si, ao ver Gilbert sentado no chão, com as costas encostadas no batente da porta, a cabeça pendendo para o lado esquerdo, e o rosto exausto de quem passara pelo mesmo inferno da noite que ela. Por que ele estava ali, ao invés de ter dormido no quarto de hóspedes? Ela não queria sentir nada ao ver aquela cena, mas, não adiantou dizer para o seu coração parar de doer com a imagem de seu marido dormindo daquele jeito tão desconfortável, e quase se esqueceu de tudo o que havia acontecido no dia anterior. Sua vontade era sentar-se ali com Gilbert, deitar a cabeça dele em seu colo, e fazê-lo dormir como faria com os gêmeos em sua barriga dali a alguns meses. No entanto, ela se forçou a endurecer suas emoções, deixando de lado qualquer outro sentimento que não fosse o de raiva, se aproximou dele, tocando-lhe o ombro de leve e disse:

- Gil, você precisa acordar. - Ela ouviu Gilbert resmungar algo e depois abrir os olhos bem devagar, endireitar o corpo, e fixar seu olhar nela como se não acreditasse que ela estivesse ali. A voz de Gilbert saiu enrouquecida quando ele disse:

- Anne, que bom que está aqui, fiquei preocupado. - A voz dele soou tão cansada, que Anne teve que engolir em seco para afastar a onda de ternura que a atingiu, ao olhar para aquele rosto que não conseguia deixar de amar. Porém, logo tratou de responder, disfarçando sua infelicidade.

- Não precisa se preocupar. Eu posso muito bem tomar conta de mim mesma sozinha. - Seu tom soou duro demais, contudo fora essa exatamente a intenção. Ela precisava colocar uma distância segura entre eles, e tratá-lo assim era o único jeito.

- Anne, a gente precisa conversar. - Gilbert disse se levantando do lugar onde passara a noite toda sentado. O que será que ele esperava ganhar com aquilo? Uma medalha de abnegação por ter abdicado de seu conforto e ficado ali em sua porta como seu guarda-costas?, ela pensou.

- Não precisamos não. Tenho coisas mais importantes para fazer do que perder meu tempo com você.- ela disse, se encaminhando para cozinha , mas, quando deu dois passos, sua vista ficou turva, e teve apenas tempo de ouvir Gilbert gritar seu nome, e então, a escuridão total a envolveu.

Quando recuperou a consciência, Anne percebeu que estava deitada na cama em seu quarto, e Gilbert estava sentado ao seu lado segurando sua mão. Ela tentou desfazer o contato, mas o rapaz não permitiu, pois parecia estar disposto a ficar por perto, mesmo Anne fazendo de tudo para que ele se afastasse, pois de repente, ela percebeu que ter seu marido tão próximo era pior do que ter passado a noite sem ele. O aroma da colônia que Gilbert usava a estava deixando desnorteada, e Anne se remexeu na cama tentando não pensar na tentação daqueles olhos castanhos.

- Como está se sentindo? - Gilbert perguntou parecendo realmente preocupado com ela.

- O que aconteceu? - a ruiva perguntou sem olhá-lo diretamente.

- Você desmaiou. Creio que não jantou ontem, não é? - aquilo era uma afirmação, e não uma pergunta, o que fez Anne responder:

- Não.

- Você sabe que não pode ficar assim. Precisa pensar nos bebês. - O tom de Gilbert a deixou irritada, fazendo-a dizer:

- É obvio que penso nos bebês. Quer insinuar que não me preocupo com meus filhos?

- Nossos filhos.- Gilbert a corrigiu, e Anne fingiu não notar o tom magoado que saiu do lábios dele.- De qualquer forma, eu preparei o café da manhã para você.- ele se levantou e foi até a cômoda perto da porta e pegou uma bandeja que havia deixado ali a alguns minutos atrás, e a trouxe até Anne.

- Você não precisava se preocupar com isso. - Ela disse, sentindo-se contrariada. Não queria ter motivos para agradecê-lo por nada, pois caso contrário sua raiva atual poderia se transformar em outra coisa, e não era isso que desejava.

Anne with an e- Corações em jogoWhere stories live. Discover now