O Silêncio Entre Nós

By lavienlena

428K 45.3K 10.2K

HISTÓRIA EM EDIÇÃO | LEIA A INTRODUÇÃO Após a morte do pai de Nina Davis, ela desenvolve uma fobia social que... More

Introdução | História em edição.
[02] Dia frio e atípico do verão de janeiro.
[03] Fobia social.
[04] Palavras.
[05] Café da manhã.
[06] Aula.
[07] Margot.
[08] O sorriso de Nina Davis.
[09] Austen e Dickens.
[10] O Demônio do Meio-Dia.
[11] Eu te amo.
[12] Bailarina.
[13] Aula de inglês.
[14] Ataque de pânico.
[15] Bolo de chocolate e as novas músicas do Ed Sheeran.
[16] Ciúmes.
[17] À noite.
[18] Última aula.
[19] Desculpas.
[20] Realidade.
21 | Running.
22 | Parents.
23 | Date?
24 | Anna.
25 | Depression.
26 | Flowers and poems.
27 | Angry.
28 | Natalie's party.
29 | Break up.
30 | Photograph.
31 | Valentine's day.
32 | About the date.
33 | Tower.
34 | Picnic.
35 | Fliperama.
36 | Day 1.
37 | Day 2.
38 | Day 3.
39 | Us.
40 | Apresentation.
41 | Beach day.
42| Destiny.
43 | Sick.
44 | The truth.
45 | The game.
46 | Insecurity.
47 | I never ever.
48 | We need to talk.
49 | Best friend.
50 | Another normal day at school.
51 | Shopping.
52 | Prom.
53 | Our after-party.
54 | Love.
55 | Good day.
56 | Happy birthday, Nina.
55 | Late.
56 | Messages.
57 | Girls.
58 | Letter
59 | Loving.
60 | The day (part I).
61 | The day (part II).
62 | Back home.
63 | Shower.
64 | Everything's gonna be fine.
65 | Future.
66 | New friend.
67 | Happy Birthday, Adam.
68 | Dance with me.
69 | Not that innocent.
70 | Necessary conversation.
71 | Happiness.
72 | Dreams.
[73] Aguente firme, Nina.
[74] Coisas novas.
[75] Significado.
[75] Tentando.
[76] Solidão.
[77] Reações.
[78] De volta para você.
[79] Decisões.
[80] Término.
[81] O Adeus.
Com amor, Lena.

[01] Fins e (re)começos.

21.7K 1.3K 527
By lavienlena

A morte nunca havia passado pela minha mente. Considerando que eu era apenas uma criança, toda a ideia existencialista que rondava a realidade de um fim para a vida parecia tediosa para um menino. A minha vida era cheia de luz, cor e alegria, como se não houvesse espaço para a morbidez do assunto. Minha mãe, a estonteante artista Diana Collins, fazia questão de fazer de mim o ser mais livre do mundo. Eu e ela morávamos sozinhos em uma casinha azul de dois andares no centro de Gaya, a capital de Moira, nosso país. Minha infância fora resumida no pavimento da rua sem muito movimento de carros desfilando, pelo verde cintilante da grama baixa do nosso jardim, do silêncio de me sentar à varanda para ler algum livro e de bisbilhotar minha mãe pintando seus quadros delicadamente. A destreza com a qual suas mãos magras e ossudas seguravam o pincel e o fazia deslizar pela tela como se tivesse todo o tempo do mundo para isso. Eu fazia questão de ser o mais silencioso possível para que ela não me percebesse olhando de esguelha pelo seu ombro. Assistir a sua arte nascendo era, de longe, a minha coisa favorita no mundo.

Vivíamos sozinhos porque meu pai fora embora antes mesmo de eu nascer. Não esperou a minha vinda para ter certeza de que não gostaria de mim. A mesma coisa com toda a família da minha da minha mãe. Não endossavam a ideia de, por ter sido criada em uma família de médicos, juízes e engenheiros, ela ser artista. Ainda que fosse promissora e que todos os seus professores da universidade ressaltassem que ela tinha talento, seus pais não enxergavam nada disso. Sendo assim, quando engravidou de mim estudando em Cambridge, teve de voltar do Reino Unido pois meus avós se recusaram a terminar de pagar pelos seus estudos. Cambridge era o sonho da vida dela. Concluiu seus estudos na Universidade de Gaya enquanto me amava por ter me esperado para saber.

Seus quadros fizeram sucesso. Um sucesso estrondoso, mas mesmo com todo o dinheiro, desfrutávamos de uma vida humilde e confortável. Diana fazia questão de guardar tudo para que, um dia, eu pudesse ser quem estudaria na Universidade de Cambridge.

— Não me importo com o que faça, Adam — Dizia. —, contanto que te faça feliz.

Quando fiz dez anos, meu tio Cody, único parente próximo, adoeceu. Veio, então, morar conosco em Gaya. Era um economista de sucesso morando na França. Seu câncer foi descoberto em estágio inicial, o que o fez conseguir ficar bem logo. Ainda melhor que antes, por aprender mais sobre a vida encarando a morte. Incentivava que a minha mãe fizesse uma pós-graduação na faculdade dos seus sonhos e, um dia, ela quase o ouviu. Na terceira semana de julho de 2013, minha mãe estava a caminho de expor seus quadros em uma galeria renomada de Londres, onde um dos seus professores de quando estudava em Cambridge, estaria. Ela tinha a esperança de que, quando o homem visse seus quadros doze anos depois, ele gostaria de tê-la de volta.

Eu me despedi da mulher de cabelos cacheados e pele morena no aeroporto. Lembro bem de como o seu vestido verde escuro brilhava do sol do aeroporto e como seu sorriso de "Até logo" acalentava meu coração. Ela me abraçou com força e disse:

— Eu te amo, Adam. Eu vou atrás do meu sonho, mas eu volto. — Beijou minha testa. — Nada de ler até tarde, ok?

A última coisa que ela me disse foi para que eu não lesse até tarde. Eu li, mas sabia que ela não brigaria comigo por isso. Dia 18 de julho foi o meu dia da despedida. Uma despedida inocente com promessa de retorno. Aquela fora a primeira promessa descumprida dela.

No dia dezenove, pensei na morte pela primeira vez. Não pensei pouco, mas incessantemente. A ideia se chocou contra o meu corpo magro e infantil como uma bola de demolição em um poste envergado. Se alojou nas minhas juntas e se expandiu por cada nanoscópico espaço entre meus infinitos átomos. Nunca mais esqueci a morte. Com doze anos, tudo o que eu fazia era pensar que todos nós iríamos morrer, mas que a pior pessoa que me poderia ter sido tirada, havia partido. Partira num acidente de trânsito em uma movimentada rodovia em Londres. Quinze pessoas morreram e eu queria ter sido a décima sexta. Sentia que uma vida sem a minha mãe não valia à pena de se viver.

Eu e meu tio passamos a semana seguinte em Londres, onde a enterramos. Fiquei mais tempo sentado na relva de frente à lápide, que em qualquer outro lugar daquela cinzenta e infeliz cidade.

DIANA MARIE COLLINS

"Acredito na necessidade de que as coisas aconteçam por uma razão misteriosa."

1981 — 2013

Ela dizia muito isso, mas não conseguia entender. Não até meu tio me entregar um envelope no nosso último dia ali.

— Quando eu e Diana éramos mais jovens, alguns anos antes de você nascer, nossa avó, Madalena, faleceu. Éramos muito apegados a ela, mas sabíamos que sua hora estava chegando.

Suas mãos pálidas afagavam minhas costas com calma e me aqueciam.

— Eu não entendia como sua mãe podia estar bem. Ela não parecia nem um pouco triste e eu, intrigado, queria saber o porquê, visto que só sabia chorar e me lamentar. Assim como você.

— Isso é para me confortar? No início, pensei que fosse, mas agora não acredito muito nisso.

— Deixe-me terminar. — Limpou a garganta. — Sua mãe me deu uma carta que a nossa avó deixou para nós dois. Essa que estou te entregando. Essas palavras não vão te trazer à felicidade novamente, muito menos te fazer superar isso. Elas só irão te fazer aceitar, como nós aceitamos.

— Duvido muito. — Murmurei.

— Sabe, Adam, todos nós sabemos que morreremos. Eu tive trinta e três anos para me preparar para este momento. Você teve doze e eu posso te dizer que não estou tão bem preparado. Eu aceito a partida da Diana. Ela aceitaria a minha. Quero que leia e escolha se vai aceitar também.

Ainda que cético e arredio, eu li. E ele tinha razão. Não que, depois da morte dela, eu tenha conseguido retomar inteiramente a quem eu era, mas eu aceitei e entendi o que ela queria dizer e passei a acreditar na necessidade de que as coisas acontecessem por um motivo misterioso. Eu levei cinco longos anos para desvendar as razões secretas, assim como meu tio.

Nossa vida se seguiu. Eu era um bom garoto na escola, gostava de jogar futebol e, ao entrar no ensino médio, comecei a levar mais a sério. Cody dizia que a minha mãe jogava futebol como ninguém na minha idade e implicava comigo dizendo que, com muito esforço, talvez eu chegasse aos pés dela. Também me apaixonei por uma garota, Natalie. E mesmo com a vida entrando nos trilhos e as feridas cicatrizando, eu sentia que não era assim para o meu tio. Parecia que, para ele, ainda faltava algo. Um algo que só encontrou quando mudou de emprego e conheceu sua chefe, Victoria Davis, arquiteta e CEO da Davis Construtora, empresa dos seus pais. De toda essa sua história com Tori — como prefere ser chamada —, eis o que pode ser considerado coincidência ou destino: há cinco anos, ela morava em Londres com a filha, Nina, e o marido, Mark. Ficou viúva após o falecimento súbito de Mark em um grande acidente no centro da cidade, no dia 19 de julho de 2013. Entre as bilhões de pessoas no mundo e as milhões em Moira e na Inglaterra, ambas as famílias perderam pessoas no mesmo acidente em um país diferente do de origem, para que Cody e Tori se encontrassem nos corredores da empresa dos pais — também falecidos há anos — de Davis. Queria acreditar em coincidências, mas era um grande fã do destino.

Um ano depois, Tori e Cody estavam noivos. A única coisa estranha em toda a história de uma quase família, era que eu não havia conhecido Nina Davis. Segundo a mãe, a menina sofria de Fobia Social, um tipo de Transtorno de Ansiedade. Ou seja, a Davis mais nova evitava todo o contato com outras pessoas, ainda mais pessoas novas. Tudo o que eu sabia sobre ela se resumia em: Fobia Social, bailarina, absurdamente parecida com Tori e era raro ouvir a voz dela. Ah, e também que ela não recebera nenhuma carta milagrosa capaz de ajudá-la a aceitar a morte do seu pai, como eu. Cinco anos depois de Mark partir no mesmo acidente que Diana, Nina tinha o sentimento latente de jamais ser capaz de vê-lo novamente. Sendo assim, trancava-se no quarto e lia ou dançava.

Sabia que as duas se mudaram de Londres para Gaya alguns meses depois do acidente. A morte de Mark fora traumática a ponto de Nina mal conseguir ouvir o barulho dos carros na rua, pois isso a causava crises de ansiedade incontáveis. Pesadelos e até... uma tentativa de suicídio. Tori julgou a ideia de assumir a empresa dos pais a melhor opção, pois, assim, podia dar sequência ao legado da família e poder tirar a filha da situação conturbada de lidar com o luto. Sendo assim, conheci Nina no dia do casamento do meu tio e da sua mãe. Nos quatro moraríamos juntos, contudo, nem sequer sabia com o que a garota de dezesseis anos se parecia. Estava receoso e ansioso para conhecê-la naquela tarde úmida do verão de janeiro, um pouco antes das aulas começarem. 

A festa estava bonita. Os garçons andavam de um lado para o outro bem vestidos segurando bandejas prateadas com champanhe. Pessoas que jamais havia visto e alguns rostos conhecidos passeavam pela grama do jardim da nossa casa azul. Fora decidido que eu e meu tio nos mudaríamos para a casa de Nina e Tori, mas não venderíamos a que morávamos. Eu não me sentia confortável com outra pessoa morando aqui.

Quando mãe e filha vieram para Gaya, Tori, como uma arquiteta e mãe preocupada, fez questão de projetar e construir uma casa longe o suficiente da cidade para que os barulhos de carro não servissem mais de gatilho para provocar crises e pesadelos em Nina. Estive na casa enquanto Nina viajava com Margot, sua cuidadora. Foi quando percebi o talento de Tori como a profissional que era. Projetara uma estrutura moderna toda em madeira e vidro que refletia as árvores da floresta e a vastidão do lago de frente para a residência. Soube, naquele momento, que sentiria enorme saudades da minha casa, mas não podia pedir que Nina se mudasse porque eu sentiria saudades. Não a conhecia, mas sabia que queria que ela ficasse bem.

Eu e Natalie havíamos havíamos chegado da igreja há menos de cinco minutos. O restante dos convidados estava a caminho, mesmo que a igreja não fosse tão longe de casa. Natalie, minha namorada, usa um vestido cor-de-rosa bem chamativo, como ela gostava. Seus saltos brancos eram altos, mas ainda não a deixam maior que eu, apenas do meu tamanho, considerando que era alta. Sua pele negra cintilava sob a luz solar do fim da tarde de verão e seus cachos soltos e cheios ressaltavam seu rosto magro e belo.

Natalie e eu nos conhecemos no primeiro ano do ensino médio. Ela era a garota mais inteligente e talentosa de toda a escola, mas, sem motivo algum, as pessoas não gostavam dela. Logo, Nat entrou para as líderes de torcida e mostrou o quão talentosa era — infinitamente mais que qualquer outra líder que já pisara no chão de Gaya. No início, estava completamente apaixonado por ela, até que, de súbito, as outras garotas passaram a empurrá-la a um padrão diferente de quem ela era. Fui obrigado a assistí-la sofrer para entrar em uma realidade que, além de não fazê-la bem, a mudou completamente. Permanecíamos juntos porque eu ainda gostava dela. Ou de quem ela era antes de ter que lidar com toda a merda que uma mulher precisa lidar para ser aceita.

Victoria estava muito bonita em seu vestido branco e longo. A vendo daquela forma, não diria que tem 36 anos; parece bem mais jovem, mas creio que isso seja dado pela sua simpatia e o sorriso constantemente sendo esbanjando em seu belo rosto. O cabelo estava como ela costuma usar, solto, ondulando à brisa veranil. Algumas flores amarelas estavam presos aos fios castanhos, dando-a o ar delicado que geralmente não tinha. Tori era o tipo de mulher forte como fibra de aço e não gostava de delicadezas ou sutilezas. Nunca conheci ninguém tão objetiva como ela e a amava por isso.
Meu tio sorria abertamente ao vento, com seu braço a contornar a cintura da esposa, exatamente como eu fazia com Natalie, mas era estranho como não conseguia me ver casando com ela naquele instante. No começo do nosso namoro, eu tinha plena certeza de que nós teríamos uma vida extraordinária juntos depois de um casamento espalhafatoso, exatamente como ela queria que fosse. Mas, olhando para quem nós éramos, nos amando apenas na frente dos amigos e da família, senti medo de que fosse sempre assim. De que fosse assim que o amor era. Entretanto, diferente do casal juvenil, ele parecia feliz como eu certamente nunca tinha visto antes. Jamais pensei que fosse possível vê-lo bem dessa forma depois da morte da minha mãe, mas lá estava ele, esbanjando alegria. E eu estava feliz por ele. Sempre foi como um pai e melhor que o idiota que eu (não) tive, estando comigo sempre que precisei. Acho que Cody merece, sim, toda a felicidade do mundo e, por Tori ser uma das mulheres mais incríveis do mundo, também merece.

— Ela está realmente muito bonita. — Natalie sorriu ao afagar meu terno. — E seu tio parece muito bem, Adam. Ele deve estar explodindo de alegria por tudo isso. Fico feliz por ele.

—  Sim, ele está muito melhor. É bom ver meu velho bem novamente. — Assenti com pequeno sorriso.

— Mas então, você já conheceu a filha esquisita dela? — Natalie franziu o cenho. Não gostei de ela ter usado esquisita. — As pessoas falam coisas sobre Nina Davis na escola de dança da cidade.

—  Ainda não. — Suspiro. — E por que acredita no que as pessoas dizem?

— As vezes as pessoas acertam. Quer saber o que dizem?

— Nem um pouco, Nat. — Suspirei.

—  Que por mais que seja estranha, é bonita e talentosa. Como a mãe dela 

— Ao menos são coisas parcialmente boas.

— Oh, não. Dizem que ela é gorda para o balé, parece ser surda e as vezes sai correndo da sala do nada. Quase nenhum professor tem paciência com ela, mesmo com todo o talento.

— E você compartilha desses discursos de ódio?

— Não são discursos de ódio. São opiniões. — Deu os ombros. — E não a conheço para confirmar nenhum desses boatos.

— Podemos mudar de assunto? Eu não gosto de falar coisas ruins das pessoas.

— Claro, você é um bom garoto. — Abriu um sorriso irônico que eu fiz questão de ignorar em nome da minha paz de espírito.

Eu e Natalie nos sentamos na mesa da família onde apenas uma senhora gentil que nos cumprimentou, estava sentada. Eu sabia que meus avós e outros membros da família não estariam no casamento do meu tio, então eu era a sua única família. Sua meia duzia de amigos e conhecidos perambulava pelo jardim, enquanto os muitos amigos de Tori riam e jogavam conversa foram. Achei estranho que apenas uma senhora, provavelmente mãe da Tori, estivesse ali, mas não me estendi em entender

— Meus pés estão doloridos e olha que, quando era eu quem fazia balé, as pontas não eram tão desconfortáveis. — Murmurou Natalie.

— Por que não tira os sapatos? Está em casa.

— Eu sei, mas isso é tão deselegante... - Nat suspirou e deitou a cabeça em meu ombro. — Sua família e a família da Tori estão aqui. Não quero causar uma má impressão.

— Quantas vezes terei que dizer que você não precisa causar nenhuma boa impressão a ninguém, Nat? Você sendo você já é maravilhosa. — Beijei sua têmpora.

Não enfatizei o fato da minha família ser apenas meu tio.

— Sim, eu sei, mas, bem, eu não sou Adam Collins que, com todo o seu charme natural, encantou minha família sendo ele mesmo e contando piadas horríveis! — Natalie tentou não rir ao lembrar da maldita piada que contei quando começamos a namorar quando fui jantar na casa de seus pais.

— Ah, nem foi tão ruim, ok? — Ri. — O que você dá a um pássaro azul doente? — Arqueei uma das sobrancelhas.

Natalie escondeu seu rosto corado com as mãos magras e revirou os olhos enquanto as afastava.

— Um tweetramento. — Nat me deu a língua e ambos rimos da piada, mais por ser ruim.

Tínhamos momentos bons como aquele, em que ríamos e nos esquecíamos das brigas, desavenças e momentos de tensão. Eu me apegava àqueles momentos para que o nosso relacionamento não desmoronasse aos nossos pés. Sentia-me mais confortável em ignorar todas as coisas ruins e me concentrar nos breves vislumbres de felicidade espontânea que compartilhávamos.

Dez minutos mais tarde, eu ainda estava no meu primeiro copo de champanhe. Eu costumava beber muito, ainda mais sabendo que teria de levar Natalie para casa e ainda falar com seus pais, mas acredito que eles não me matarão se souberem que bebi apenas um pouco.
Cody e Tori se aproximaram da mesa sorridentes depois de falar com todos os outros convidados. Em minha mente, a pergunta "Hoje eu conheço a Nina?" rondava cada pensamento e cada palavra prestes a sair pela minha boca.

—  O que acharam de tudo? — Victoria sorriu, deitando sua cabeça no peito do meu tio.

—  Foi tudo muito bonito, sra. Davis! Nós adoramos. — Natalie exclamau, totalmente animada.

Tori não mudou seu nome para colocar o Collins no final. Nem com Cody e nem com Mark.

—  Fico feliz, querida. E me chame de Tori, por favor. — Ela sorriu. — Você está linda, Natalie. Belo vestido. Você está um gato, Adam.

—  Valeu, Tori — Sorri abertamente.

— Eu quero finalmente apresentar a Nina a vocês. Na última semana, ela estava fazendo umas aulas em Verisya e voltou ontem. — Tori suspirou, receosa.

Meu tio sussurrou algo em seu ouvido e ela assentiu, abrindo um sorriso nervoso. Imaginei como devia ser difícil para a Tori ter que avisar sobre o transtorno de ansiedade da Nina para evitar comentários ruins como ela certamente já ouvia.
Um grito a chamar o nome de Nina soou pelo espaço. Uma garota sentada no canto do jardim, mais próxima às flores brancas — que cuidei depois da morte da minha mãe —, com um livro velho em seu colo, ergueu seu rosto e olhou em nossa direção. Ela piscou freneticamente por detrás de seus grandes óculos de grau com aros pretos e fechou o livro imediatamente, ainda ficando com um dedo na página marcada. A semelhança dela com a Victoria era assustadora. Ela é uma versão menor, aparentemente mais delicada e mais nova da mãe.

Nina se levantou com calma e andou até nós em passos tímidos. Ela usava um vestido amarelo mostarda midi colado na parte da sua cintura mas solto na parte da saia. Tinha mangas até seus cotovelos e combinava com a sua pele pálida. As pernas estavam cobertas por uma meia calça preta e usava um tênis branco desgastado e sujo. Um all star.
A primeira vez que a vi, todo o meu corpo se enrrijeceu. Ela era linda. Seu cabelo ondulado e comprido caía sobre os seus ombros cobertos pelo pano do vestido. Prestei atenção em como ela parou à nossa frente, mas não olhou para nenhum de nós, senão para a sua mãe. Olhei para as suas mãos e vi que ela lia Bukowski. Por vezes, eu gostava de Bukowski, mas não conhecia ninguém que tinha lido. Natalie gostava muito de literatura russa.

— Essa é a Nina, crianças. — Tori disse, ansiosa. — Nina, estes são Adam e Natalie. Adam é o sobrinho do Cody e Natalie é sua namorada. — A mulher explicou com um sorriso nervoso em seu rosto.

— Olá, Nina. Sou Natalie MacCarthy. É um prazer finalmente conhecê-la. — Natalie disse com um sorriso quase que rasgando sua face, enquanto esticava sua mão para Nina.

A garota claramente envergonhada só levantou seu olhar e tentou dar um pequeno sorriso sem mostrar os dentes. Victória tremeu e Natalie olhou torto com o sorriso falhado. Logo ela voltou a sorrir e recolheu sua mão. Tori deve ter agradecido por dentro, mas eu sabia que Natalie falaria sobre isso mais tarde.

— Oi, eu sou o Adam. É um prazer te conhecer, Nina. — Sorri ao dizer.

Nina simplesmente agiu da mesma forma como agiu com Natalie e eu não esperei nada diferente. Manti meu sorriso alegre e esperançoso. Diferente de mim, Victoria estava frustrada. Pairávamos em um silêncio constrangedor.

— Você pode voltar a ler, se quiser. — Cody sorriu para ela. — Obrigada, Nina.

Nina olhou para a mãe esperando uma confirmação. A mulher assentiu e a menina desapareceu em seu vestido amarelo por entre as silhuetas estranhas. Tori engoliu a seco e nos encarou.

— Eu sinto muito. — Ela murmurou.

— Não, está tudo bem. Tudo isso deve ser novo para ela, ainda mais agora, certo? Nós não nos importamos. Não queremos oprimí-la ou algo do gênero. Ela aparenta ser um amor. As pessoas da escola de dança falam muito bem dela. — Natalie assegurou em um tom amável. Um falso tom amável.

Meu olhar seguiu a garota calada até que ela voltasse a se sentar em seu lugar solitário perto das rosas. A vi arrumar os óculos no rosto e abrir seu livro novamente. Nina se concentraava demais na leitura, mas eu também estive quando li todos os livros dele. Por vezes, achava Bukowski um idiota, mas em outras, um gênio. Quase tive certeza de que ela o achava um grande idiota.

— Eu não pensei que ela fosse tão estranha. — Natalie disse assim que meu pai e Victoria sumiram da nossa vista.

— Não a achei nem um pouco estranha.

— Parece que o que disseram é verdade. E é mesmo gorda para o ballet. Tem coxas grossas, é baixa e nada de barriga negativa. — Natalie riu e eu ignorei o comentário. — Pelo menos é bonita como a Tori.

— São mesmo muito parecidas. — Limitei-me a dizer.



E

stou atualizando e mudando coisas aos poucos, devido ao fato de essa história ser antiga. Então qualquer dúvida, estou disposta a ajudar.

Obrigada por ler!

Continue Reading

You'll Also Like

3.3M 244K 35
Rafaela não precisava de um namorado. Pelo menos, não até terminar o ensino médio e passar no vestibular. O plano estava indo de acordo, até seu mel...
61.6K 1.5K 3
Antigo " Obreira Aprovada ". Romance cristão. " Você vai perder sua juventude seguindo a Jesus. Aproveita agora e depois se arrepende! " Essa era a...
461 50 12
ENEMIES TO LOVERS | TRIÂNGULO AMOROSO Em 1975, 'era de ouro' da Califórnia, Alice Rose Collins decide fugir dos pais conservadores para realizar o s...
5.8K 1.3K 11
† CONTO CRISTÃO † --- Mas todos podem ler! O interior de Bella está um caos. Após ser deixada esperando no centro comercial da cidade, enfrentado dif...