Capítulo 45

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Oviedo — Inverno, Janeiro de 836 d.C.

Brunilde lançou o soldado pela porta da taberna. Ela e duas de suas escudeiras estavam no local bebendo há quase duas horas. Quando entraram no grande salão que possuía algumas mesas podres de madeira, com cadeiras da mesma qualidade e um grande balcão de mogno onde o taberneiro servia canecas de madeira de cerveja e vinho, havia poucos fregueses, a maioria com aparência de camponeses ou artesões.

Mas assim que o sol se pôs no horizonte nublado e a noite chegou com o taberneiro acendendo as velas de sebo de odor fétido, as pessoas simples voltaram para sua casa e soldados começaram a chegar, bem como algumas mulheres usando maquiagem pesada que a nórdica logo identificou como prostitutas.

Ela e suas companheiras estavam sentadas em uma mesa, uma vela ardia no centro e comiam sem apetite um ensopado insosso que o taberneiro vendia.

Os soldados começaram a ocupar o local observando-as em silêncio, não era para menos, assim como suas amigas, Brunilde vestia roupas e botas de couro, um colete com placas de metal e as espadas e machados na cintura deveria ser uma visão nova para aqueles homens, ao menos foi isso que ela pensou em um primeiro momento.

— Por Cristo! Elas se parecem com os pagãos bárbaros que atacaram Santander e foram vencidos pela Ordem dos Cavaleiros de São Tiago de Compostela! – ela ouviu uma voz dizer em alto tom.

— E desfilaram como escravos por Oviedo! Havia algumas mulheres entre eles, as roupas são as mesmas! – outra voz gritou mais exaltada.

— Rapazes, deixem-nas em paz! – uma voz mais cordata foi ouvida — Elas fazem parte da escolta da embaixada árabe que chegou hoje a tarde para se encontrar com o rei.

— Pois eu pouco me importo! Malditas bárbaras escoltando hereges – gritou a primeira voz e Brunilde olhou para o lado para encarar quem proferiu aquelas palavras.

O homem era alto, quase dois metros e tinha um tronco largo, usava calças, botas e uma túnica militar, em sua cintura havia uma espada embainhada presa por um cinto, onde sua enorme mão pousava no cabo.

Brunilde conhecia o tipo, idiotas valentões que acreditavam em sua força bruta, mas que não tinham o mínimo de inteligência. Que saudades de Ibrahim, pensou por um momento, sentindo a velha dor da perda.

Ele iria servir, pensou satisfeita, em seguida com um sorriso maroto se levantou da cadeira e se virou para o homem.

— E você deve ser um porco usando uma arma - respondeu em moçárabe para surpresa do homem.

O soldado soltou um rugido idêntico ao de um touro enfurecido e avançou com os punhos cerrados desferindo um soco circular, mas a nórdica era ágil e se agachou escapando e imediatamente desferiu um golpe com a base da mão aberta acertando a ponta do queixo do gigante que cambaleou para trás, antes que ele se recuperasse ela chutou-lhe o genital fazendo-o soltar um ganido muito pouco másculo.

Envolvendo seu pescoço com os braços o arrastou até a porta da estalagem que abriu com um pontapé, jogando-o de cabeça na rua onde ele ficou caído desacordado.

Voltou-se para o interior da estalagem, suas companheiras continuavam sentadas, entretanto, seus machados estavam agora ao lado dos copos de bebidas delas.

— Mais alguém vai querer conversar com essas bárbaras? – gritou segurando displicentemente o cabo de seu machado.

Os fregueses voltaram os rostos para seus copos, alguns soldados ergueram ambas as mãos em sinal de paz e voltaram a se sentar em suas mesas.

Com um sorriso de escárnio Brunilde se sentou novamente, mas antes que colocasse sua caneca de cerveja nos lábios a porta foi aberta e Jamila entrou no recinto.

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde as histórias ganham vida. Descobre agora