Capítulo 62

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Galiza — Verão, Julho de 836 d.C.

A escolta composta de vinte cavaleiros do esquadrão de Juan trotava pela trilha em meio à planície recortada de montes e morros, ao longe um rio brilhava com os raios de sol da manhã.

Haviam partido ao alvorecer do castelo de Santa Cristina, agora dominado pelos cristãos.

Jamila trotava ao lado de Juan em silêncio, ele a observava de soslaio, ela parecia abatida e não era para menos, perdera o irmão, seu mentor Yusuf e sua melhor amiga Brunilde estavam aprisionados, embora o jovem houvesse dado sua palavra de cavaleiro de que nada de mal aconteceria com eles.

Recordou-se da luta que tiveram no interior do castelo quando ele a vencera, ainda sentia arder e doer o ferimento que ela lhe causara e que Yusuf gentilmente costurara, antes de ser levado, juntamente com Brunilde, como prisioneiros, mas dor maior era a que sentia na alma. Como puderam mudar tanto? De um casal apaixonado para inimigos. Como ela pudera esconder que ele era pai de um casal de gêmeos? Mesmo tendo a oportunidade de lhe contar a verdade?

O fato de ela ter lhe enviado as crianças após a morte de Suleymán não desculpava a mentira contada. Sentia-se traído e magoado, mas apesar de tudo montada guarda em frente a porta do quarto no qual ela ficara detida durante a noite. Tentara entabular uma conversa por entre a porta fechada, mas ela não respondera.

De repente ouviram um tropel de cavalos vindo da direção sul. Ao se erguer na sela, para observar melhor, Juan constatou se tratar de árabes, pelos estandartes que tremulavam em algumas lanças apontadas para o céu.

— Inimigos! – ouviu um cavaleiro na retaguarda gritar.

— Seus guerreiros? – perguntou Juan encarando-a.

— Não, eu vim encontrar meu irmão apenas com Yusuf e Brunilde – respondeu tão curiosa quanto ele, erguendo-se na sela para ver melhor.

— Conto trinta! – ouviu outro cavaleiro gritar.

Estavam em menor número e tinham ordens de escoltar Jamila até Oviedo, não queria arriscar a vida de seus homens e não sabia se eram homens de Mahmud ou do Emir, já que este último tinha várias tropas operando na fronteira em razão do acordo feito com o irmão dela.

— Vamos fugir! – decidiu Juan golpeando com força o flanco de sua montaria e puxando a de Jamila pelas rédeas.

Galoparam por dez minutos se aproximando de um bosque de onde o rio parecia fluir, mas não conseguiram se distanciar o suficiente. A esperança de Juan era despistar seus perseguidores por entre as árvores, mas de repente, saindo detrás de um monte logo à frente outro grupo de vinte cavaleiros cortou seu caminho.

— Preparem-se para lutar! – gritou Juan sacando sua espada e colocando o escudo no braço esquerdo.

— Por Alá! – gritou Jamila — É Jamal! – completou apontando para o líder dos cavaleiros que se aproximavam pela frente.

Estavam perto o suficiente para que Juan visse a fisionomia odiosa do homem que traíra o pai de Jamila e assassinara seu irmão.

— Uma espada, Juan, pelo amor de Alá! – implorou Jamila estendendo a mão.

Juan jogou as rédeas da montaria para ela e estendeu-lhe uma espada de reserva que carregava na sela de seu cavalo.

Então galoparam juntos em direção ao inimigo.

***

Jamila cavalgara ao lado de Juan em silêncio, podia sentir toda a mágoa e ressentimento dele e não o culpava, mas perceber que ele a tratava como uma inimiga e prisioneira a magoava.

A GUERREIRA INDOMÁVELWhere stories live. Discover now