Capítulo 14

180 41 9
                                    

Por ser feriado e por eu ter terminado de escrever hoje o volume 2...vai mais um capítulo de presente.

Mérida- Primavera, Maio de 833 d.C.

Jamila ajeitou as placas da couraça peitoral, sentia os músculos do corpo inteiro doloridos, principalmente onde as lanças com pontas rombudas a acertaram, mas lutara bem e não precisara sacar a cimitarra.

— Ŷamĩla bint Abd al-Ŷabbãr ibn Zãqila e Jamal al-Mahnub! – gritou o arauto anunciando a luta final.

Jamal também vencera todos seus adversários e agora a enfrentaria, ela observara as lutas dele, foram vitórias rápidas, nenhum adversário, mesmo os que foram atingidos no escudo suportaram a violência do impacto da lança, vindo a cair pesadamente no chão ao primeiro choque. Em contrapartida, nas poucas vezes que ele fora acertado, mal estremecera na sela da montaria, um enorme garanhão castanho.

Se quisesse vencer, ela teria que usar sua agilidade e destreza.

Enrolou novamente o turbante no rosto e montou em seu garanhão. Trotando lentamente se aproximou do tablado onde o Emir e seu pai estavam e os cumprimentou, de soslaio percebeu o jovem embaixador do reino das Astúrias olhando-a fixamente e não conseguiu impedir que um leve sorriso aflorasse em seus lábios.

Em seguida, se afastou e se posicionou no canto da pista, Jamal a imitou.

Encararam-se a distância, até que com um golpe violento seu adversário fez seu garanhão disparar em direção a ela. Tocando suavemente os flancos de sua montaria, Jamila galopou de encontro a ele.

Jamila percebeu que Jamal descia levemente a ponta de sua lança, visando provavelmente o centro de seu escudo, contando com sua força para derrubá-la com um só golpe. Ela contraiu os músculos da perna prendendo-se firmemente à sela, ao cruzarem, largou a lança e curvou todo o corpo para trás, chegando a encostar a cabeça nas ancas de sua montaria, sentindo o deslocamento de ar produzido pela lança de seu adversário.

A multidão urrou de surpresa e explodiu em gritos de viva e aplausos.

Imediatamente, Jamila se ergueu e fez seu corcel se virar bruscamente em direção a Jamal. Ele percebeu a manobra, mas agora era tarde demais para se colocar de frente para ela, pois toda vez que ele manobrava, ela repetia seu movimento, sempre se mantendo às suas costas, cada vez mais perto.

A jovem sacou a cimitarra de sua cintura e golpeou, com força, o flanco de sua montaria com os calcanhares, avançando ainda mais, Jamal desistiu e largou a lança, não conseguiria manuseá-la em tão curta distância e por isso também se armou com sua cimitarra e se virou para enfrentá-la.

O choque entre as lâminas, mesmo sem corte, provocou faíscas. O ruído delas se chocando contra os escudos produzia um som agudo, enquanto a multidão continuava gritando. Mas ela estava tão concentrada que somente tinha ouvidos para o tinir das armas.

Trocaram golpes por alguns instantes, controlando as montarias com a pressão das pernas, circulando em volta deles mesmos. Jamal tentava usar sua força, golpeando com violência o escudo de Jamila, esta, por sua vez, usava de sua velocidade e por três vezes sentiu que a cimitarra acertava a cota de malha que o guerreiro usava, mas não com força suficiente para derrubá-lo.

O guerreiro sorriu com escárnio e ergueu o braço para desferir mais um golpe contra o escudo dela, crente de que conseguiria derrubá-la com o impacto, mas a jovem o surpreendeu, pois saltou de sua montaria em sua direção, agarrando-o pelo tronco e levando ambos para o solo.

Com um grito de raiva Jamal se colocou em pé, mas Jamila já estava preparada e aplicou vários golpes com sua cimitarra fazendo-o recuar na defensiva.

Em um dos ataques ela simulou uma finta para a direita e quando ele ergueu o escudo para interceptar o golpe ela desviou a lâmina, agachando-se agilmente e estocando-a com violência contra seu baixo ventre que ficara desprotegido, acertando-o de baixo para cima.

Jamal grunhiu de dor se curvando levemente, Jamila aproveitou e sem lhe dar a chance de se colocar em posição defensiva desferiu um chute contra seu queixo, fazendo-o cair de costas no chão.

Ela, então, encostou a ponta da cimitarra em seu pescoço descoberto.

A multidão explodiu novamente em júbilo, ela vencera.

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde as histórias ganham vida. Descobre agora