Capítulo 75

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Luco de Ástures e Oviedo — Outono, Setembro e Outubro de 836 d.C.

Os soldados carregaram Dom Iglesias e o depositaram em sua cama sob as ordens de Juan, que mandara chamar padre Paulus.

Curvando-se sobre o pai examinou seu corpo, uma lança se cravara em seu abdômen, trespassado a cota de malhas. A haste fora rompida perto do corpo, provavelmente para facilitar o transporte.

Os olhos do Duque estavam fechados e da respiração irregular.

— O que aconteceu? – perguntou para os soldados que ficaram próximos a cama.

— Chegamos a Gijón durante o ataque viking, Dom Iglesias ordenou o ataque, mas os bárbaros se voltaram para nos enfrentar. Durante a luta o Duque foi atingido e nossa tropa desbaratada – explicou o soldado com ar cansado — O resgatamos do campo de batalha e recuamos.

— E a cidade? – perguntou.

— Foi saqueada – respondeu laconicamente.

Com cuidado, o jovem retirou a cota de malhas, as argolas haviam se rompido com o golpe.

— Preciso de vinho e água fervendo e uma faca com a lâmina em brasa, além de panos limpos, agulha e linha, a mais forte que conseguir e uma tenaz – ordenou para o castelão que o observava com expressão assustada.

— Sim senhor – disse o homem e saiu correndo.

Com um punhal Juan cortou a túnica e a camisa por baixo dela e examinou o ferimento. A lança se cravara no centro do corpo, fora um milagre Dom Iglesias não ter morrido, mas o ferimento era gravíssimo e o jovem não tinha certeza se conseguiria salvá-lo.

— Cristo! – exclamou padre Paulus, após algum tempo, entrando no aposento na companhia do castelão trazendo uma jarra de metal, enquanto dois servos carregavam uma bacia de madeira com água e os outros objetos que o jovem pedira.

Sem dar atenção ao sacerdote Juan trabalhou rapidamente. Primeiro limpou o ferimento com a água em seguida apalpou a borda com a ponta dos dedos para verificar a profundidade.

— Vou ter que retirar a lança – murmurou pegando a tenaz e firmando-a no toco da haste.

Com um puxão retirou-a e satisfeito constatou que a lâmina estava inteira, se ela tivesse se fragmentado dentro do corpo de seu pai ela estragaria o ferimento, causando pus que antecedia a podridão da carne.

Em seguida despejou a água quente observando o sangue escorrendo misturado a ela, limpou o ferimento com o pano e jogou o vinho, também quente. Percebeu que Dom Iglesias estremecia, por fim encostou a lâmina incandescente de uma faca que estivera sendo aquecida em um pequeno fogareiro de carvão que um soldado trouxera da cozinha.

O Duque soltou um gemido mais forte retesando seu corpo e então pareceu relaxar.

Com habilidade o jovem costurou o ferimento usando a agulha e a linha de pesca que o castelão trouxera, uma técnica que aprendera quando servira com os Cavaleiros da Ordem de São Tiago de Compostela. Gostaria que irmão Rodrigo estivesse ali, ele possuía uma habilidade única que aprendera com um médico judeu, ou mesmo Ibrahim, ou Yusuf, ambos tinham mais conhecimento médico do que ele.

Em seguida, despejou mais vinho fervendo e cobriu o ferimento com os panos limpos.

— Ele irá sobreviver? – perguntou padre Paulus

— Não sei padre, fiz o meu melhor – respondeu com voz cansada.

— Onde está a Duquesa? – perguntou o capitão que trouxera o Duque.

A GUERREIRA INDOMÁVELWhere stories live. Discover now