Capítulo 67

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Oviedo — Verão, Julho de 836 d.C.

Jamila observou em silêncio o salão, estava trajando um vestido longo azul e vermelho. Apesar das servas terem ditos que o valor dela daria para sustentar uma família de camponeses por um ano, ela se sentia desconfortável nele. Nunca usara antes vestidos cristãos.

Mas ela era uma prisioneira, embora estivesse sendo tratada com todo o luxo disponível da corte.

Quando chegara escoltada foi alojada em um quarto espaçoso na ala residencial do castelo. O aposento era arejado, pois possuía uma grande fresta na parede que permitia a entrada de luz e arejava o ambiente. Uma cama espaçosa e confortável, uma cômoda e uma grande arca de madeira, além da pequena mesa com uma cadeira completavam a mobília.

Tapetes no chão e tapeçarias nas paredes, além de um grande vaso com flores tentava deixar alegre o ambiente. Em um canto afastado havia uma banheira de madeira e vasos de metal onde ela poderia fazer suas necessidades.

Foi informada que uma serva estaria sempre parada do outro lado da porta, pronta para atender a qualquer pedido seu, bem como seriam servidas cinco refeições diárias.

Mas apesar de tudo, era uma cela, pois ao testar a maçaneta da porta constatou que ela estava trancada. Soldados ficavam no lado de fora e a torre era alta demais para pular.

Por dois dias ficou no local, passava as horas na janela observando o castelo e a paisagem em volta, pensando em seus filhos e em Juan. Ainda não se conformava com a morte dele e não passava uma hora sem que se pegasse com lágrimas nos olhos causadas pela tristeza e saudade.

Quando vieram lhe servir o almoço teve uma surpresa, juntamente com os dois soldados que escoltavam a serva carregando a bandeja, padre Paulus adentrou no aposento.

— Jamila – cumprimentou-a com um sorriso triste.

— Padre! – exclamou a jovem observando-o entrando.

A serva colocou a bandeja em cima da mesa e se retirou na companhia dos soldados.

Jamila se sentou na cama e começou a chorar, sentindo a tristeza de ter que contar ao sacerdote, que fora como um pai para Juan, o destino dele.

— Shhhhhh, eu sei minha menina – consolou-a sentando-se ao lado dela e pegando suas mãos entre as dele.

— Juan....

— Sim, eu sei, os soldados que a escoltaram contaram ao Duque Iglesias – afirmou dando tampinhas de leve nas mãos dela.

— Meus filhos – murmurou contendo os soluçõs e as lágrimas — Juan me disse que estão em Luco de Ástures, no castelo do pai dele.

— É verdade, não se preocupe, estão sendo muito bem tratados, o Duque, apesar de não os ter reconhecido oficialmente, os trata como se fossem seus filhos e não netos – explicou com um sorriso triste.

— Qual será meu destino, quando poderei vê-los? – perguntou ansiosa — Yusuf e Brunilde? O que foi feito deles?

— O rei decidiu que você deve se casar com um nobre – disse desviando o olhar para a janela, como se constrangido — Yusuf e Brunilde estão aqui em Oviedo, foram conduzidos por cavaleiros que serviam Juan e estão sendo bem tratados, embora sejam prisioneiros.

— E se eu me recusar? – rosnou sentindo-se ultrajada com a possibilidade de ser obrigada novamente a se casar.

— Fui enviado para aconselhá-la a aceitar – respondeu com um suspiro cansado e triste — Yusuf e a filha dele responderão caso você não acate a decisão do rei.

A GUERREIRA INDOMÁVELWhere stories live. Discover now