Capítulo XXXI

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Reino das Astúrias — Verão, Setembro de 835 d.C.

Juan galopou olhando fixamente para frente, estava entre os primeiros da fila ao lado de Rodrigo, segurava com força o cabo de sua espada, seu olhar fixo para frente.

O tropel ensurdecedor dos cavalos galopando chamou a atenção dos vikings, Juan observou-os correndo para fora da aldeia, formando uma barreira de escudos com o objetivo de intercepta-los, por isso ele golpeou mais uma vez o flanco de sua montaria que ultrapassou todos. Tinha que admitir era um animal soberbo, assim como a espada que agora carregava, feita com a lâmina do melhor aço de Toledo, ou como os árabes a chamavam Tulaytula.

Os escudos ficaram cada vez mais próximos e Juan sentiu seu coração disparar no peito com a emoção do combate que se aproximava.

— Por Cristo! — gritou enquanto fazia seu garanhão saltar por sobre a barreira de escudos ao encontrar uma brecha nas lanças apontadas em sua direção.

Sentiu o impacto do pesado animal contra a madeira dos escudos e saltou da sela pulando para detrás da barreira, rolando pelo chão com o impulso, usando o escudo para se proteger e segurando firmemente a espada.

Levantou– se rapidamente já golpeando a cabeça de um nórdico que não conseguira se erguer a tempo, seu cavalo escoiceava violentamente após se levantar da queda e logo disparou em direção à cidade.

Ouviu mais do que viu o choque do restante da cavalaria contra os escudos vikings, o ar se encheu de gritos de dor e ódio, Cristo e os deuses pagãos eram invocados por guerreiros sedentos de sangue.

Um guerreiro avançou contra ele tentando acertá-lo com o escudo, mas Juan usou o seu e por um momento mediaram forças, o nórdico tentou acertar sua cabeça com uma machado, mas ele abaixou e enfiou sua espada por baixo da borda do escudo inimigo perfurando o baixo ventre de seu atacante, o qual caiu ao solo com um grito de dor.

Agora a linha de defesa viking se desfizera, cavaleiros circulavam por entre os guerreiros desferindo golpes descendentes contra as cabeças destes, achando elmos e crânios.

Uma confusão de homens e cavalos tomou conta do campo de batalha, Juan avançou e cortou o pescoço de um viking com um golpe circular de sua espada, a cabeça do homem voou caindo no solo.

Um enorme guerreiro se aproximou e desferiu um golpe com seu machado, ele defendeu– se com o escudo e a percebeu que a lâmina penetrara no metal, por isso, em vez de medir forças tentando libertar o escudo simplesmente o largou e cravou sua espada no ventre de seu atacante.

O homem era um gigante e deveria ter a força de um, pois apesar da lâmina ter trespassado seu corpo ele agarrou com ambas as mãos o pescoço de Juan e começou a esganá-lo, inutilmente o jovem tentou libertar sua espada, quando estava quase perdendo a consciência pela falta de ar, irmão Rodrigues se aproximou em sua montaria e rachou a cabeça do viking.

— Lute irmão! Lute por Cristo! Lute para exorcizar seus demônios internos! — gritou com uma gargalhada Rodrigo, como se estivesse embriagado pelo odor de sangue e vísceras que se espalhava no ar,

Juan gargalhou como se estivesse perdendo a sanidade, observou um nórdico lutando com um irmão cavaleiro e correu até ele desferindo um golpe descendente perpendicular que o cortou do ombro à coluna, obrigando– o a fazer força para libertar a arma.

Sentiu o impacto de um golpe contra o corpo e rolou pelo chão, o viking que o acertara com o escudo avançou com uma espada em riste. Juan olhou em volta, sua espada ficara cravada no corpo do homem que acabara de matar, encontrou um pedaço de lança partida e segurou– a com força, quando o guerreiro se aproximou ele se ergueu de súbito cravando– a fundo no ventre de seu atacante.

Por um momento seus olhares se encontraram, os olhos do viking eram azuis-escuros, sua pele branca, o elmo caiu de sua cabeça e uma cabeleira loira se espalhou pelos ombros.

Para seu desespero Juan percebeu que acabara de matar uma jovem escudeira.

Ajoelhou– se passando a mão ensanguentada pelo rosto e ergueu o olhar para o céu soltando um grito de ódio e frustração.

Em seguida lágrimas começaram a escorrer por sua face ao mesmo tempo em que gargalhava e continuava a matança. 

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde as histórias ganham vida. Descobre agora