Livro 2 - Capítulo III

79 22 3
                                    

Trujillo – Primavera, Junho de 834 d.C.

Yusuf chegou à cidade de Trujillo, onde o Suleymán Ibn Martín residia. Não foi difícil encontrar o palácio em que ele residia, todos sabiam onde era e, felizes, apontavam a direção, obviamente o homem era bem quisto pela população.

Era uma propriedade extensa, maior até que o palácio de Mérida. Jardins, fontes e pomares bem cuidados demonstravam a riqueza do muladi.

Foi recebido e levado até o salão de audiência, decorado com tapetes no chão e samambaias e flores penduradas em vazia.

Suleymán entrou acompanhado de Jamila.

— Yusuf! – exclamou a jovem correndo até ele e beijando-o nos dois lados do rosto.

— Minha menina! – disse tentando controlar uma lágrima que tentava escapar — Sinto muito por seu pai.

— Obrigada – emocionada Jamila segurou as mãos de seu mentor entre as suas — Graças a Alá você está bem! Brunilde e Ibrahim? Como estão?

— Venha meu amigo – interveio Suleymán —– Deve estar cansado, estávamos nos preparando para o almoço, as notícias podem esperar o corpo de recuperar.

Caminharam juntos por alguns corredores e saíram em um jardim interno onde havia uma mesa baixa e almofadas em volta. Pratos, copos e talheres estavam dispostos e todos se sentaram.

Servos entraram com travessas com carne de carneiro, legumes e pão, servindo a todos. Outros serviam água e sucos de jarras de prata.

Jamila estava ansiosa e entrou novamente no assunto após algum tempo.

— Me conte como está minha amiga e meu irmão – pediu embora sua vontade fosse perguntar sobre Juan.

— Brunilde fugiu com as escudeiras na embarcação viking, Ibrahim foi enviado em uma embaixada ao reino dos francos – respondeu sentindo tristeza ao lembrar-se da filha que encontrara para logo perder novamente.

— Eu te disse minha flor – interveio o muládi.

— Não quis duvidar, meu esposo, mas Yusuf, talvez soubesse algo mais do que você, como por exemplo, os planos dela – respondeu se virando para Suleymán.

— Ela disse que navegaria até o oceano, talvez tenha voltado para casa, somente Alá sabe – explicou Yusuf.

— E Mahmud? Ele não se dignou a me dar satisfações – rosnou entredentes.

— Seu irmão manterá a paz com o Emir até que reforce suas tropas e faça novas alianças, inclusive com os reis cristãos – respondeu — Ao menos foi isso que consegui descobrir, também não voltei a falar com ele.

— Sim, Suleymán me contou que ele planeja os termos de uma nova aliança – disse se virando para o esposo.

— Você terá sua vingança, minha flor, eu juro em nome de Alá – prometeu o muládi.

O almoço continuou por um tempo e conversaram sobre amenidades, quando terminaram Suleymán pediu licença e deixou-os sozinhos.

— Caminhe comigo, meu mestre – convidou Jamila se dirigindo ao jardim.

Andaram por entre as flores e pequenas árvores por um estreito caminho que circulava o local.

— E Juan? – perguntou em voz baixa sem se conter.

— Foi escoltado por uma tropa do Emir até a fronteira com o reino das Astúrias, sob pena de morte se voltasse – começou — Mas retornou sozinho bem no dia de seu casamento, se eu não impedisse ele teria tentado levá-la e seria morto.

— Por Alá! – arfou assustada com a possibilidade.

— Tive que colocá-lo desacordado, quando ele acordou você já havia partido – explicou com voz triste — O convenci a ir embora, maktub, se estiver escrito vocês voltarão a se encontrar – concluiu resignado, pensando também em Brunilde.

— Ele sofreu muito? – perguntou com os olhos marejados de lágrimas.

— Tanto quanto você deve estar sofrendo agora.

— Não tive opção, acredite em mim Yusuf, estou grávida e meu irmão ameaçou me enviar para o Cairo e vender minha criança como escrava – murmurou.

— Por Alá! – exclamou horrorizado.

— Eu o amo tanto e a nossa criança que estou gerando – disse tocando o ventre — Que aceitei me casar com Suleymán.

— E o muladi sabe?

— Sim, ele diz que amará meu bebê como dele e me devolveu certa liberdade, além de jurar que combaterá o Emir e ajudará a me vingar de Jamal.

— Que Alá apodreça os ossos desse cão! – rosnou Yusuf — Ele foi transformado em comandante de confiança do Emir e enviado para a fronteira.

— Ainda terei minha vingança – afirmou com convicção — Mas devo ser paciente.

— Estou aqui para servi-la, se me quiseres como conselheiro – se ofereceu fazendo uma mesura.

— Obrigada, meu bom amigo, é tudo o que eu mais desejo. 

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde as histórias ganham vida. Descobre agora