Capítulo 73

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Išbīliya46 — Outono, Setembro de 836 d.C.

Ibrahim observou as galeras vikings subindo o rio Guadalquivir47, uma névoa fria deixava a visibilidade baixa naquela manhã fria de outono, por isso as embarcações navegavam lentamente, movidas pelas forças dos remos. Há mais de trinta dias haviam deixado uma Gijón em ruínas. Ao partirem no dia posterior ao saque seguiram para alto mar, sempre mantendo a costa à vista.

Dias depois desembarcaram na cidade muçulmana de Alasbuna48, após um cerco, conseguiram invadir e ocupar o local. Durante treze dias os nórdicos se mantiveram na cidade, saqueando-a, matando e estuprando indiscriminadamente. O jovem árabe ficou chocado com tamanha violência. Guerreiros nórdicos embebedavam-se do alvorecer ao cair da noite, promovendo uma orgia de violência e destruição. Bairros inteiros foram destruídos, nem mesmo a mesquita49 da cidade escapou. Haestin era o maior incentivador da pilhagem.

Bjorn permitiu que Ibrahim desembarcasse e servisse como tradutor. Assim ficou sabendo que o governador da cidade, Wahballah ibn Hazm, conseguira fugir antes do cerco e que provavelmente enviara mensageiros para o Emir de Córdova, de quem era vassalo. Apesar de ser uma cidade aliada de Abdemarrão, o jovem não ficou satisfeito com a forma cruel como os árabes daquela cidade foram tratados.

Não foi surpresa quando a população resistiu levantando armas contra os invasores, atacando-os durante a madrugada ou quando estavam no campo, ameaçando inclusive incendiar os navios ancorados na praia próxima à cidade.

No décimo quarto dia, voltaram ao mar e continuaram a circunavegação da Hispânia em direção sul, atacaram e invadiram as cidades de Cádis50, Medina-Sidonia51 e Algeciras52, saqueando-as para partirem logo em seguida.

Os knorr já estavam repletos de produtos pilhados, além de escravos, mas a ânsia de sangue de Haestin e Bjorn parecia não ter fim, estavam obcecados em saquear o máximo possível a Hispânia e depois chegarem a Roma.

Agora se aproximavam de Išbīliya, uma das maiores cidades do Emirado, se continuassem seguindo o rio acima chegariam a Córdova, a capital do Emirado. Por um momento Ibrahim desejou que os vikings chegassem até ela. Imaginou eles conduzindo Abdemarrão, o Emir que mandara executar seu pai como escravo para a Escandinávia, mas logo afastou tal pensamento.

Vira morte demais desde que a viagem se iniciara, às vezes se pegava pensando em como pudera amar Brunilde, afinal ela era uma viking, participara de excursões de saques parecidas com aquela. Fora capturada saqueando a região próxima à Mérida e depois a encontrara em meio a um saque na Frísia, tinha que admitir, aquele era seu estilo de vida.

Mas quem pode controlar o coração? Pensou logo em seguida, a amava justamente por ela ser uma alma livre, reconhecia seu lado violento e selvagem, fora justamente isso que o encantara, o total oposto do que ele era, calmo e centrado.

Será que ela conseguira alcançar sua irmã? Chegara a torcer para que os vikings subissem o rio Guadiana em direção a Mérida, mas respirou aliviado quando o tempo ruim afastou a esquadra do litoral naquele ponto. Sabia que as tropas de seu irmão não seriam páreo para uma esquadra daquela magnitude.

Pensou em Mahmud, o que será que acontecera em Mérida desde que a deixara? Sua irmã teria conseguido se reunir com Juan abandonando Suleymán? Duvidava que ela assim o fizesse, era honrada demais para cometer adultério.

Desde que fora capturado na Frísia nunca mais tivera notícias da família ou de Brunilde, sabia apenas o que Bjorn contara, que após ele se entregar ela partira com suas escudeiras e os guerreiros árabes que a acompanhava desde que partiram fugidos de Mérida, já que Haestin nunca a perdoaria pelo que fizera livrando-o de ser sacrificado aos deuses pagãos.

Pensar na família o deixava triste, mas agora estava em Al-Andalus, próximo o suficiente de Mérida e por isso buscava uma oportunidade de fugir.

De repente, à distância vislumbrou os contornos de uma cidade por entre a névoa.

Haviam chegado a Išbīliya.

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde as histórias ganham vida. Descobre agora