Išbīliya — Outono, Outubro de 836 d.C.
Ibrahim não conseguira escapar, a cidade estava dominada pelos vikings, os sobreviventes que não haviam sido mortos ou escravizados, mantinham-se dentro de suas casas destruídas. Ninguém podia sair da cidade, com exceção dos nórdicos.
Por isso ele se dedicara ao tratamento dos feridos, tanto árabes como nórdicos e transformara o pátio do palácio onde Bjorn e Haestin estavam hospedados em um hospital improvisado. Ao menos naquele local os dois povos conviviam pacificamente.
Durante dias se estafou trabalhando, era uma forma de manter a mente sã, o fato de estar em sua terra natal, mas impossibilitado de fugir era um fardo terrível que poderia levá-lo a algum ato desesperado.
Os vikings pareciam não ter pressa de saírem da cidade destruída. A quantidade de saque fora grande, havia rebanhos de carneiros prontos para o abate e todas as noites ocorriam festas em volta das fogueiras, regadas a cerveja e hidromel e que se estendiam até de madrugada.
Mas naquela tarde um exército muçulmano se aproximara da cidade se instalando em uma colina.
Seria a chance que tanto esperava? Se os árabes atacassem para reconquistar a cidade ele poderia tentar fugir na confusão, ou então se esconder entre os escombros, supondo que os vikings fossem vencidos.
E mesmo se os nórdicos vencessem, haveria muita confusão na cidade e a chance se apresentaria, mas teria coragem de abandonar seus pacientes? Sentia-se útil pela primeira vez na vida, nunca fora um guerreiro, jamais conseguira se destacar na guerra como Jamila e Mahmud, mas aprendera muito com a prática e se considerava um bom médico, tanto que Bjorn lhe entregava tudo que ele pedia.
Conseguira vários jovens muçulmanos para ajudá-lo no hospital improvisado e até mesmo autorização para distribuir comida entre os pobres habitantes da cidade. Era a forma que encontrara de minorar o sofrimento causado pelos nórdicos.
O dia terminara e a madrugada avançava, ele se sentiu extremamente cansado, conversava com Sigmund, um velho curandeiro viking enquanto examinavam um ferido.
— O braço dele cheira podridão, temos que cortar – sugeriu Ibrahim.
— Concordo – respondeu o velho – Posso amputar hoje mesmo, por que você não vai descansar? Está acordado desde a madrugada.
— Você também – respondeu Ibrahim se levantando.
— Eu sou velho, não preciso de sono – respondeu rindo.
— Certo, acho que vou dormir um pouco – disse se virando.
Nesse momento percebeu uma guerreira parada a alguns passos de distância observando-o atentamente. Ao encará-la sentiu um estremecimento em todo corpo e suas pernas quase falharam levando-o ao solo.
— Alá misericordioso – murmurou observando espantando a mulher se aproximando com passos decididos.
— Você precisa descansar – disse o velho nórdico o amparando.
— Eu o levo – afirmou a mulher pegando-o pelo antebraço e praticamente arrastando-o para uma abertura em uma parede do palácio a alguns passos de distância.
— Por Alá – conseguiu murmurar ainda espantado antes que seus lábios fossem violentamente beijados enquanto seu corpo era pressionado contra uma parede.
Quando a mulher parou de beijá-lo ele recuperou o fôlego e encarou os olhos profundamente azuis dela.
— Brunilde...
— Por Odin! – disse ela ainda abraçada a seu corpo — Pensei que você estivesse morto.
— Bjorn me salvou de ser sacrificado – murmurou aspirando o perfume natural de seu corpo e cabelos.
— Eu chorei por você, seu desgraçado – rosnou ela voltando a beijá-lo com violência.
— Venha – ordenou Ibrahim após se separarem puxando-a pela mão e levando-a pelos corredores do palácio até um quarto localizado no andar térreo.
O aposento era iluminado por uma vela de sebo que Ibrahim acendeu com uma pederneira57 após fechar a porta e colocar um pedaço de madeira, apoiando-a no chão para que ela não fosse aberta por fora. Havia uma cama com colchão de palha e nada mais.
— Como, o que você está fazendo aqui? – perguntou Ibrahim tentando colocar os pensamentos em ordem.
— Temos tempo ainda – respondeu ela se aproximando e jogando-o de costas na cama. Em seguida jogou o escudo e as armas no solo e desnudou-se com pressa sob o olhar atônito dele.
— Brunilde...
— Cale-se e me ame – rosnou praticamente arrancando a roupa dele.
Em seguida ela montou se afundando em sua carne, galopando-o com força, arranhando seu peito com as unhas e mordendo seu pescoço, enquanto ele apertava sua cintura para que o contato íntimo não se desfizesse, alternando com carícias em seus seios. Não demorou para atingirem um clímax juntos, seus músculos tremendo descontrolados.
— Por Freya! Como eu o amo – murmurou Brunilde mordendo o lóbulo de sua orelha.
— E eu a amo – respondeu ele recuperando o fôlego — Não imagina como sonhei com você durante todo esse tempo junto ao seu povo.
— Você dormiu com alguém? – perguntou ela com um rosnado, os olhos brilhando sob a luz da vela.
— Por Alá! Nunca! – respondeu rindo — Como poderia? Se é somente você que tenho em meus pensamento?
Brunilde sorriu feliz e se aconchegou no peito dele.
— Agora, minha pequena selvagem – disse brincando — conte-me o que você está fazendo aqui.
Brunilde contou rapidamente tudo que acontecera desde que eles se separaram na Frísia, sua viagem e o reencontro com Jamila, o nascimento dos gêmeos, a nova rebelião contra o Emir e a morte de Suleymán. A aliança entre Mahmud e o rei cristão e sua posterior traição que resultou em sua morte. A prisão de Jamila, dela e de Yusuf e seu novo casamento. A libertação deles e sua viagem até o principado de Banu Qasi e a fuga de sua irmã de Luco de Ástures. A morte do pai de Juan e seu reencontro com Jamila. Por fim, a decisão de aliarem forças contra a invasão viking e sua missão de reconhecimento.
— Por Alá – murmurou triste com a sina de sua irmã e de seu irmão Mahmud.
Um dia deveria prantear o irmão morto, mas não naquela ocasião.
— Você deve voltar – disse ele preocupado — o sol não tardará a se levantar e você não conseguirá mais sair da cidade sem chamar atenção.
— Venha comigo – pediu ela.
— Não ouso, podemos ser pegos tentando fugir e não somente eu, mas você pode ser executada – respondeu — Bjorn é gentil comigo e tem me tratado como um amigo, embora eu seja um prisioneiro, mas Haestin me odeia e te odeia, se eles nos pegarem juntos nem o filho de Ragnar conseguirá nos salvar.
Brunilde meditou por um momento, entendia o risco de levar Ibrahim com ela, ele tinha razão e não desejava arriscar a vida do homem que amava.
— Está bem, eu vou, mas eu volto – disse beijando-o e levantando para se trocar rapidamente.
— Eu a esperarei – murmurou ele enquanto saíam discretamente do quarto.
Caminharam pelos corredores destruídos até a abertura na parede lateral que dava acesso ao pátio externo.
Brunilde aproveitou a escuridão e o beijou.
— Não ouse morrer! – rosnou ela mordendo seus lábios.
— Não se preocupe, você não vai se livrar de mim tão fácil – respondeu feliz.
Ela beijou-o mais uma vez rapidamente nos lábios e saiu caminhando com passos apressados enquanto ele a observava saindo para o pátio.
— Que Alá a proteja – murmurou voltando para o interior do palácio.
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A GUERREIRA INDOMÁVEL
Romance"O que acontece quando uma jovem guerreira se vê entre o amor e sua convicção?" Século IX d.C., a península ibérica dominada pelos árabes se vê envolta em fortes tensões sociais. Uma embaixada enviada pelo último rei cristão à Mérida tem o objetivo...