Capítulo 35

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Mérida — Outono, Outubro de 835 d.C.

Jamila apertou com força a correia de seu escudo redondo e depois sacou a cimitarra que estava embainhada na cintura. Seu garanhão percebendo que o momento da luta se aproximava bateu as patas impacientes no chão.

Toda a cavalaria estava perto do portão, logo atrás vinham a infantaria. Alguns soldados se preparavam para retirar as traves que reforçavam o portão. A madrugada estava quente e não demoraria para que o sol nascesse.

As sentinelas no muro informaram que tudo estava tranquilo no exército do Emir. No porto, os soldados dele estavam cercados, haviam conquistado o local, mas não conseguiram furar o bloqueio, se contentando em impedir que suprimentos chegassem pelo rio.

Arautos corriam pela cidade anunciando que os portões seriam abertos, caberia aos cidadãos decidirem se ficariam em suas casas ou tentariam furtar o bloqueio.

Ela olhou para o lado direito, Suleymán lhe sorriu enquanto controlava seu cavalo castanho, como ela segurava um escudo e uma cimitarra, do seu lado esquerdo Yusuf movimentava o braço com a cimitarra, como se quisesse aquecer os músculos.

Seu irmão Mahmud estava um pouco a frente, juntamente com seus guerreiros de confiança.

A relação com irmão estava tensa, desde que ele a obrigara a se casar e piorara durante a viagem para Oviedo quando ele rira que ela pensava em cometer adultério, em razão dos poemas que declarara no banquete real.

Naquela ocasião ela recuperara sua cimitarra que estava com Yusuf e quase a levantara contra o próprio irmão, mas seu antigo mentor a impedira.

Ela fora beijada por Juan, e retribuíra com o mesmo ardor, mas conseguira evitar que o desejo que sentira a fizesse se entregar a ele. Era um segredo que sempre carregaria, mas quando chegou a Trujillo pode encarar seu esposo altivamente, conseguira resistir à tentação, como, ela não fazia ideia, pois o amava com ainda mais intensidade.

— Preparem– se! — gritou Mahmud retirando– a de seus pensamentos.

Os portões foram abertos e a cavalaria saiu da cidade em um galope ensurdecedor, seguida da infantaria.

Tomaram a direção de Trujillo, mas as fogueiras do acampamento do exército do Emir interpunha– se no caminho. Soldados assustados que estiveram dormindo saíram de suas tendas o se levantaram do local onde dormiam, enquanto sentinelas gritavam o alarme.

Romperam pela primeira linha do cerco, composta de cercas feitas de galhos e uma pequena vala que os cavalos saltaram com facilidade.

Jamila decepou a cabeça de um soldado que tentou interceptá-la, seu irmão, Yusuf e Suleymán cavalgavam em volta dela.

Percebeu que a ação levara o pânico ao acampamento inimigo, o que possibilitaria a infantaria passar pelo cerco.

De repente ela olhou para o lado e reconheceu Jamal, que saíra de uma grande tenda.

— Cão traidor! – gritou irada e virou sua montaria na direção dele.

Brandindo a cimitarra galopou atropelando quem se interpusesse em seu caminho, desferindo golpes em todas as direções.

Jamal sacou sua cimitarra e aguardou cercado por seus soldados, de repente sua montaria foi ao chão em razão de um golpe em suas patas dianteiras, o que a fez ser jogada para frente. A jovem rolou no chão e logo se levantou desferindo um golpe que partiu o elmo de um soldado enquanto se defendia com seu escudo de outro.

Agora ela estava cercada, Jamal se posicionaram atrás de uma linha de soldados.

— Me enfrente se for homem! – gritou novamente lutando bravamente para não ser capturada, pois percebera que os soldados tentavam feri-la e não mata-la.

— Quero ela viva! – gritou em resposta aos seus soldados — Quem arrancar um único fio do cabelo dela irá ter uma morte dolorosa!

Os adversários apertaram o cerco enquanto ela lutava para não ser capturada, forrando o chão com os cadáveres de seus inimigos.

Quando parecia que seria capturada sue esposo, Mahmud e Yusuf irromperam debandando os soldados por um momento.

— Venha! – gritou Yusuf por cima do estrépito da batalha enquanto estendia a mão.

Mahmud e Suleymán atacavam os soldados do Emir e Jamila agarrou a mão estendida montando agilmente, em um movimento acrobático, na garupa do cavalo de seu mestre.

Enquanto galopavam para longe, ela olhou por cima do ombro, Jamal continuava perto da tenda, cercado por seus guerreiros de confiança.

Sua vingança teria que esperar. 

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde as histórias ganham vida. Descobre agora