Capítulo 78

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Išbīliya — Outono, Outubro de 836 d.C.

As tropas marcharam no alvorecer do dia seguinte se dirigindo para uma colina perto de Išbīliya, chamada de Axarafe, onde Isa ibn Shuhayd, encarregado da operação, estabeleceu seu quartel general, após chegarem perto do crepúsculo. O contingente liderado por Musa ibn Musa al-Qasi, incluindo Jamila e seus cavaleiros, além da cavalaria liderada por Dom Rodrigo, juntou-se ao exército árabe.

O Hájib convocou seus principais comandantes, entre eles o muládi do principado de Banu Qasi, que levou Jamila, Yusuf e Brunilde, Jamal, seu segundo-em-comando e Dom Rodrigo, que levou Juan consigo.

— Precisamos enviar batedores para verificar as defesas em volta da cidade e a quantidade de tropas que os invasores possuem – disse olhando em volta.

— Eu sou uma viking – afirmou Brunilde em árabe com seu sotaque escandinavo — Posso me infiltrar entre os guerreiros e verificar as defesas da cidade.

— Isso seria perfeito – agradeceu Isa ibn Shuhayd — esperaremos dois dias pela sua volta para então decidirmos onde e como atacaremos.

— A não ser que os nórdicos resolvam atacar antes – interveio o muládi

Discutiram outros detalhes sobre o posicionamento das tropas e as defesas que deveriam construir em volta do acampamento muçulmano. O clima de tensão era palpável, Isa ibn Shuhayd desconfiava de Musa ibn Musa al–Qasi, Juan e Jamila sustentavam o olhar de ódio de Jamal em um mudo desafio, enquanto Yusuf se sentia preocupado com o oferecimento de sua filha.

Saíram da tenda e Juan acompanhou Jamila até seu acampamento, enquanto os últimos raios de sol iluminavam a colina.

— Irei com você – disse a berbere para Brunilde.

— Não! – exclamou rindo — Apesar de você falar bem minha língua, seu sotaque a denunciaria, sem contar sua pele morena.

— Ela tem razão – interveio Yusuf — o ideal seria eu acompanhá-la, você pode dizer que me aprisionou.

— Obrigada, pai – agradeceu a nórdica — mas essa missão tenho que cumprir sozinha.

— Tome cuidado, Brunilde – recomendou Juan — eles são impiedosos, se descobrirem que você é uma espiã...

— Não se preocupe – respondeu rindo — e vocês dois, vejam se conversam e se acertam.

Juan e Jamila se encararam constrangidos.

— Que Alá a acompanhe, minha filha – disse Yusuf beijando-a em ambas as faces.

— Venha pai, me ajude a me preparar – pediu com o objetivo de deixar o casal a sós.

Os jovens ficaram observando pai e filha se afastando em direção as tendas.

— Se você for matar Jamal, conte comigo – disse, de repente, Juan voltando-se para Jamila.

— Eu agradeço – murmurou ela dando um passo em sua direção.

Ficaram se encarando mutuamente os corpos tão próximos que ele sentiu o perfume dela de jasmim.

Se não fosse pelo movimento constante de soldados ele a teria tomado nos braços e a beijado.

— Se algo acontecer comigo – começou ela quebrando o silêncio — nossos filhos estão sob os cuidados da esposa do muladi. Eu contei sobre você e somente a você ela os entregará.

— Nada irá acontecer, vamos vencer os vikings, teremos Justiça pelos crimes de Jamal e, juntos, buscaremos nossos filhos – respondeu segurando as mãos dela entre as suas, sem se importar que alguém visse.

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde as histórias ganham vida. Descobre agora