Capítulo 38

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Oviedo — Outono, Outubro de 835 d.C.

Padre Paulus observou o bispo de Oviedo e o bispo de Compostela, ambos tinham algo em comum, eram gordos e hipócritas, interessados mais em angariar poder para si e para a Igreja que representavam do que cuidar da vida espiritual de seus rebanhos.

E agora era justamente isso que acontecia, ambos reclamavam com o rei de irmão Rodrigo, o líder da Ordem de São Tiago de Compostela. O sacerdote não gostava muito do ex-fidalgo era verdade, o considerava um fanático e se tinha algo que padre Paulus não gostava era de fanáticos.

A animosidade piorara cm a vitória contra os vikings em Santander, graças aos cavaleiros da Ordem. A entrada triunfal de irmão Rodrigo com seus cavaleiros paramentados e uma fila de prisioneiros com as mãos amarradas pelas ruas de Oviedo lembrou muito à Padre Paulus os antigos desfiles triunfais dos generais romanos26 que lera em livros da biblioteca em Roma.

Mas tinha que admitir o homem era corajoso, abdicara de suas terras, fortuna e posição e fundara uma ordem de cavaleiros com o único objetivo de combater os árabes e expulsá-los da Hispânia, reconquistando assim o território perdido há mais de um século.

O fato de seu amado pupilo Juan, ter se juntado à Ordem o fizera olhá-la por outro ângulo. Os cavaleiros faziam voto de castidade, obediência e pobreza e se dedicavam a treinar e combater.

Não queria tal destino para Juan, mas ao menos o jovem tinha um objetivo na vida.

Quanta diferença do rapaz inconsequente que ele conhecera antes de chegarem à Mérida dois anos antes e ele se apaixonar por Jamila, a filha do Sheik berbere que fora traído e executado após se rebelar contra o Emir de Córdova, uma culpa que ele carregava, ao menos uma parcela, pois fora ele o mensageiro com a mensagem do rei Afonso para que o pai de Jamila se rebelasse.

Depois que foram expulsos de Mérida, após a fracassada rebelião, o jovem Juan nunca mais conhecera a paz.

Não havia uma noite em que o padre não rezava pela alma de seu pupilo.

E agora temia que Juan sofresse outro revés, pensou enquanto observava o rei Afonso, II, conhecido como O Casto, ouvindo a arenga de seus superiores eclesiásticos. Sentado perto do rei estavam alguns Duques, pertencentes ao Conselho Real, entre eles o Duque de Luco de Ástures, Dom Iglesias, pai de Juan.

O homem viera com um plano pré-determinado, pois o bispo de Compostela passara primeiro em Luco de Ástures para pedir apoio.

Ele desejava que seu filho se casasse com a viúva de Manoel, seu primogênito, como uma forma de mantê-la e ao neto no castelo, pois o pai de Madalena pretendia casá-la novamente, afinal era uma jovem bela e saudável.

— Esse herético, que se autoproclama Irmão Rodrigo, não comparece à missa quando eu a presido, não mostra humildade, não acata minhas ordens, os donativos que ele recebe de fidalgos e do povo deveriam ser destinados em primeiro lugar à Igreja! – reclamou o Bispo de Compostela.

— Ele não se submete nem mesmo a mim, Bispo de Oviedo, eu que sou o responsável pela Madre Igreja em toda Hispânia! – atalhou o outro Bispo.

— Os Bispos tem certa razão, meu rei – interferiu Dom Iglesias — Ele comanda uma tropa de cavalaria maior ainda que a de Vossa Majestade.

— Isso é verdade, meu rei – afirmou o Duque de Oviedo, responsável pela cavalaria real.

— E o que vocês sugerem? – perguntou o rei claramente desconfortável — Ele vem combatendo os árabes com coragem, graças a ele e sua Ordem, consegui assentar vários vilarejos cristãos onde antes não havia nada!

— Se Vossa Majestade permitir, sugiro que a Ordem seja extinta, que seus integrantes sejam considerados heréticos caso não obedeçam e não voltem para suas famílias, ou não se juntem à cavalaria real – sugeriu o Bispo de Oviedo.

— Preciso meditar – decidiu o rei dando por encerrada a audiência. 

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde as histórias ganham vida. Descobre agora