A Ilha de Eudamón

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A mudança não foi lenta, nem gradual. Foi imediata, uma mudança contundente. No mesmo momento em que Bartolomeu e Justina eram colocados na prisão, todos as crianças e jovens da fundação passavam a ser tutelados por Nico e Cielo.

A comemoração durou até bem a entrada da noite. Todos se juntaram na sala de jantar, para cantar e dançar. Mar tentou incluir Thiago na festança, mas ele mal podia se mover, estava como arrasado por um rolo compressor. Ela permaneceu a noite toda junto a ele.

No meio da emoção e alegria, Jazmin se aproximou de Tacho, lhe segurou a cabeça, e lhe deu o beijo mais intenso de sua vida.

- Me jura que não ficou com o bochechudo. - ordenou ele.

- Nunca mais volte a desconfiar de mim, combinado? - foi a resposta dela.

- Então me jura.

- Me peça mais uma vez, e vai me perder para sempre.

Então Tacho, que acreditava nela, deixou seu orgulho e a beijou.

Nico percebeu que Rama não estava ali e saiu para buscá-lo. O encontrou aos beijos com Brenda na escuridão do pátio coberto.

- É uma menina! - exclamou Nicolas enquanto tentava separá-los. - E é a filha do comissário! - acrescentou, e para que parassem de se beijar, acendeu a luz.

Depois de sua intervenção paternal, ambos sorriram, mas Nico percebeu que estavam chorando. Rama lhe explicou que Brenda ia sair de viagem para o Paraguai, onde sua mãe morava, já que queria se afastar de seu pai. Então Nico compreendeu que aquilo era uma despedida, e voltou a apagar a luz, antes de deixá-los a sós.

Não estavam acostumados a uma felicidade duradoura, no entanto, cada dia tinha mais e melhores noticias.

Nico ligou para um colega do secundário, que era um excelente professor, e este começou a lhes dar aulas imediatamente. Lleca se queixou, visto que já era quase dezembro, e quando todos estavam terminando o colégio, eles começavam.

- E o melhor de tudo, - disse Cielo rindo. - É que vão estudar durante todo o verão para ficarem em dia!

Monito, quase com lágrimas de emoção, ajudava os entregadores do supermercado a descarregar na cozinha os pedidos que faziam a cada semana. Os garotos viam alimentos que nem sabiam que existiam. A alimentação havia mudado, o clima havia mudado; agora havia música, havia cheiros agradáveis, havia sempre alguém rindo, alguém brincando. Lleca jogava futebol na sala, enquanto os jovens tentavam ensaiar para a gravação de sua demo. Alelí e Luz se davam melhor que antes, ainda que sempre brigavam por suas bonecas. Luz nunca queria emprestar Alitas.

No dia em que Nico e Malvina tiveram que ir assinar o papel do divórcio, ele lhe disse, a pedido de Thiago, que podia continuar morando na mansão, e ela sorriu com tristeza.

- Já expliquei a Thiago que prefiro ir embora.

- Está grávida, e não tem um centavo.

- Vou me virar. - disse ela, doída, mas digna, e pegou um envelope. - Este é o resultado do DNA.

Ele a olhou e se formou um nó em seu estomago. Ainda que não houvesse nada que o unia a essa mulher, tinha um desejo profundo de que esse filho fosse seu.

- Eu sinto que é seu. - disse ela com a voz estrangulada. - Sinto, e tenho a esperança de que esse filho faça muito feliz a nós dois. Já que vai ter uma mãe como eu, merece um pai como você.

- Não o abriu?

- Não. E te juro que não o falsifiquei, nem nada disso... assim como me deram na clínica, o trouxe.

Quase Anjos - A Ilha de Eudamón (Português)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora