Pais e Filhos - VII

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Claro que Tefi negou tudo, Mas Mar estava muito consternada ao ter ouvido esse nome.

- Por que disse que sua mãe se chama Sandra Rinaldi?

- Você escutou qualquer coisa... pobrezinha. A blacky está tão desesperada que quer encontrar uma mamãe a todo custo. Minha mãe me adotou porque não podia ter filhos, então é impossível que seja sua mãe.

- Mas você falou Sandra Rinaldi.

Tefi foi embora sem dizer mais nada. Mar pensou em Julia, a mãe de Tefi. Era impossível, claramente impossível. No entanto essa mulher lhe gerava algo especial. Naquele dia, quando se viram pela primeira vez através da vitrine da loja de roupas, antes de que ela lhe roubasse o vestido, esse olhar havia sido especial. Quando descobriram que ela o havia roubado, Mar viu dor no olhar de Julia. Cada vez que vinha na casa, sempre a cumprimentava com muita simpatia e se dispunha a conversar com ela. Tudo isso era porque Julia era uma mulher muito simpática e agradável, o oposto do que era a irritante Tefi, mas isso não queria dizer que fosse sua mãe. Além disso o que Tefi havia dito era verdade: se Julia havia adotado Tefi, era porque não podia ter filhos.

Comentou sobre com Jazmin e com Thiago. Ambos a animaram a falar com Julia; se havia uma mínima possibilidade, não devia descartá-la. Mas Mar se negou, não queria encher a cabeça com passarinhos coloridos. Mas foi Thiago, quem ignorando o pedido de Mar, falou com Julia. Viu como o rosto dela se desfigurou quando ele nomeou a Sandra Rinaldi.

- Por que disse esse nome?

Thiago lhe explicou que Mar havia ouvido Tefi dizer que seu verdadeiro nome era Sandra Rinaldi.

- E o que tem Sandra Rinaldi? - perguntou alarmada Julia.

- A mãe de Mar se chama assim... e como ela escutou que Tefi dizia...

Mas Julia se levantou e se foi, e de pura nervosia derrubou a cadeira do bar na que havia estado sentada. Thiago ficou perplexo por sua reação.

Julia estava comovida. Da maneira mais insólita seu passado havia voltado a ser presente. Ela havia tido uma íntima convicção a vida toda: seu deplorável pai havia lhe mentido sobre seu filho. Depois de quinze anos de não vê-lo, correu até o colégio do qual ele era diretor.

Pedro Rinaldi empalideceu ao vê-la. Por um segundo pensou que sua filha o havia perdoado, mas ela, sem cumprimentá-lo, lhe perguntou:

- Não morreu, não foi? Meu filho não morreu no parto. E não era um menino, era uma menina?

- O que está dizendo?

- Me responda! Era uma menina?

Seu pai negou com veemência, mas Julia adivinhou pelo tremor de seus lábios que mentia; mais uma vez, persistia e sustentava sua terrível mentira.

Julia agora entendia a inexplicável ternura que Marianella lhe produzia. Esse filho, que ela sentiu a ausência durante toda sua vida, talvez estava vivo. Talvez estava perto. Talvez era Marianella.

Regressou a fundação para falar com Thiago e com Cielo, e lhes explicou as razões de sua reação. Eles ficaram emudecidos quando lhes contou sua história, as duvidas sobre aquele bebê, e sua troca de identidade. Eram coincidências demais como para não se iludir. Havia uma possibilidade concreta de que Mar fosse aquele bebê que haviam lhe arrancado.

Thiago opinou que deveriam ser cuidadosos com Mar. O tema do abandono de sua mãe era o que a havia marcado a vida toda e a tornara uma pessoa desconfiada e relutante. A possibilidade de encontrar a sua mãe era algo que poderia desestabilizá-la.

Uma hora mais tarde começava a entardecer, e Mar estava com Rama, falando com o Chango, o representante que queria representar a banda. Na opinião de Mar, Rama se entusiasmava com muita facilidade e se enchia a cabeça com passarinhos coloridos. Segundo Rama, Mar era muito pessimista e não seria nada mau sonhar um pouco.

Chango não queria pressioná-los, simplesmente os estimulava a gravar uma demo, para ver se ele conseguia algo movendo-a em algumas rádios. Rama saiu com Chango para falar com o resto da banda, e Mar ficou resmungando sozinha, filosofando sobre os enormes tabefes que Rama tomaria se continuasse sendo tão sonhador.

Quando girou para sair com uma bandeja com a louça suja, ali estava Julia, que a olhava com um sorriso emocionado. Mar pensou, sem saber porquê, que não deveriam gravar essa demo, não deveriam sonhar com coisas impossíveis.

Julia lhe rogou que se sentasse por alguns minutos com ela. E enquanto o sol se escondia por trás da mansão, lhe falou daquela insólita e maravilhosa casualidade. Daquele bebê que a ela, Sandra Rinaldi, lhe haviam arrebatado, e dessa mãe que Mar estava buscando.

Quase Anjos - A Ilha de Eudamón (Português)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora