A Grande Revelação - II

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Cielo correu para confirmar a notícia, e não precisou perguntar nada; pela cara de todos os garotos se deu conta de que Bartolomeu não havia mentido. Tacho estava no Escorial.

- Bartolomeu o havia salvado de uma causa... e agora a reabriu. Mandou Tacho para o Escorial... - confirmou Rama.

- Nunca tinhamos que te-lo enfrentado! - se lamentou Mar.

- Mas o que é esse lugar?

- É o lugar mais ferrado ao que podem te mandar. - graficou Lleca. - É como uma cadeia para moleques.

- Mas pode mandá-lo assim sem mais nem menos?

- Veio do nada, e o levou, só para nos mostrar que segue tendo o poder. - se lamentou Rama, desgarrado pela partida de seu amigo.

- Do nada, não. - retrucou Mar. - Nos disse que o pai de Nacho queria vê-lo preso por ter batido no filho dele.

- Já me cansei. - disse Thiago. - Vou enfrentar e denunciar o meu pai para a polícia.

- Não. - disse Cielo tratando de manter a calma, e perguntou algo que a preocupava: - Onde está Jazmin?

Todos se olharam. Ninguém sabia.

Assim que Jazmin soube o que haviam feito com Tacho, se sentiu muito culpada e desesperada. Tacho estava ali por sua culpa. Não só porque Bartolomeu era um lixo, estava lá por ter batido em Nacho, e se isso também era mentira, ainda assim era sua culpa por ter brincado com Nacho.

Já era de noite quando chegou no Escorial. Por fora parecia um velho colégio. Estava rodeado por um muro e custodiado por uma vara de segurança. Rodeou o edifício, se trepou em uma árvore, e dali pulou até a muralha e o cruzou.

Começou a avançar pelos jardins, muito escuros, e com muito fedor de mijo de gato. Avançou, assustada, até que encontrou uma porta. O lugar, além de horrível, era muito escuro e silencioso. Jamais o teria imaginado assim.

Não sabia muito bem o que faria, nem sequer confiava em que poderia ter êxito. Só queria que Tacho soubesse que ela estava lá, que nunca o deixaria sozinho. Queria lhe demonstrar, e dessa vez era crível, que o amava. Que ele, e somente ele, era seu amor.

Mas antes de poder fazer algo, de repente se acenderam as luzes, e dois guardas a descobriram. De nada serviram seus gritos e súplicas, com excessiva violência a arrastaram para tirá-la de lá. Nesse momento, Tacho estava no refeitório, muito intimidado por um grupinho de internos que o olhavam dando risada, certamente tramando algum tipo de batismo para o novato, quando ouviu os gritos de Jazmin. Ouvir sua voz nesse lugar lhe pareceu absurdo, inesperado.

O guarda que os vigiava enquanto comiam gritou quando o viu se levantar e sair correndo, mas Tacho não parou. Saiu para o corredor, no final do qual estavam levando Jazmin. Tacho sentiu uma emoção indescritível, ali estava ela, buscando-o, ajudando-o. Ele correu, tentou freá-los, mas o guarda já havia chegado a ele e o ameaçou com uma paulada. Jazmin chorava e lhe dizia que o amava, que fosse forte, que iam tirá-lo dali. Ele também disse que a amava e que seria forte por ela, mas que por favor fosse embora. Muitos internos se aproximaram e chegaram mais guardas. E de repente, entre todos os gritos e amontoado de gente, Tacho e Jazmin viram, com um alívio que os comoveu até as lágrimas, a Nico e Cielo, muito sérios.

Cielo pressentiu que Jazmin havia ido buscar Tacho, e se dispôs a ir atrás dela, mas Thiago voltou a insistir em falar com Nico; estava convencido de que se necessitava um homem adulto para ajudá-los a enfrentar a Barto. Cielo sabia que, assim que soubesse, Indi enfrentaria Barto, e este levaria adiante todas suas ameaças. No entanto, reconheceu que precisavam dele e foi buscá-lo.

Sem lhe dar mais detalhes, contou que Tacho estava no escorial, e lhe pediu que a acompanhasse para resgatá-lo, sem dizer nada a Bartolomeu.

- Por que não? - indagou Nico.

- Não me pergunte, me acompanha a buscar Tacho?

Ele aceitou, claro, chamou seu advogado e juntos foram ao escorial. Fizeram um grande escândalo quando entraram e viram o tratamento que estavam dando a Jazmin e Tacho. E o responsável do lugar se viu intimidado quando o advogado de Nico detectou uma irregularidade na ata de ingresso de Tacho. Faltava uma ordem do juiz de menores. O diretor do escorial, nervoso, ligou para Bartolomeu quem, sabendo da situação, se apresentou no lugar, fingindo sua indignação ante Nico, e exigiu que, como já o havia apontado antes, anularam o ingresso, porque faltava a ordem do juiz.

O resultado foi que Tacho regressou nessa mesma noite para a fundação. E Bartolomeu se mostrou complacido, ainda que por baixo assegurou a Cielo que o que acabaram de viver só havia sido uma amostra grátis.

Uma hora mais tarde Jazmin conduzia Tacho pela mão a seu quarto. De fundo se ouviam as vozes dos garotos. Ela o deteve no corredor em penúmbras e lhe acariciou um hematoma que ele tinha em uma têmpora.

- O que você fez foi incrível, cigana. - disse Tacho, e riu comovido. - Está louca! Como vai se mandar assim?

- Ninguem vai separar nós dois. Nunca.

- Ah, estamos juntos então?

- Sempre, ainda que você seja um pentelho idiota, ainda que não acredite em mim quando digo que nunca tive nada com Nacho. Você e eu sempre vamos estar juntos.

- Vai continuar falando ou vai demonstrar?

Ela lhe deu o beijo mais apaixonado que pôde, queria que não lhe restassem duvidas, queria que sua demonstração fosse definitiva. Ela estava disposta até a se enterrar no escorial por ele. E ele, por fim, acreditou.

Quase Anjos - A Ilha de Eudamón (Português)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora