O Duelo - II

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Desde o momento em que Nico enfrentou Bartolomeu, Malvina estivera fugindo de seu marido, se rastejando por toda a casa. Mas finalmente ele a encontrou, quando ela havia querido se esconder no bar dos garotos. Nico não deu rodeios.

- Quero o divorcio.

- What?

- Já falei com meu advogado. Te recomendo que o assinemos de comum acordo; tenho provas de que você organizou o sequestro de Cristobal para que você mesma o salvasse, e sair como uma heroína.

- Essa é a maior mentira que jamais...

- Cale a boca, pedaço de lacra! Sequestrou o meu filho! E me traiu com Ibarlucia. Não volte a falar comigo.

- Mas, Nicky, te juro que não é assim... não pode me deixar, estou grávida e...

- Também quero um DNA. Chamei um especialista, em meia hora vamos falar com ele.

E saiu, sem lhe dar tempo de replicar. Malvina ficou destruída, quebrada, se perguntando como foi que sua vida chegou a esse ponto.

O médico geneticista ficou perplexo quando lhe informaram que o haviam convocado para fazer três exames de DNA.

- É uma piada? - perguntou, confuso.

- Lamentavelmente, não. - respondeu Nicolas. - Onde há mentiras e traições, acontecem essas coisas.

Lhe explicaram que necessitavam fazer um teste de DNA para verificar se Luz e Cielo eram irmãs; outro para comprovar se Julia, ou Sandra Rinaldi, era a mãe de Mar; e outro para ratificar se o filho que Malvina esperava era de Nicolas.

Então o geneticista explicou que no caso de Julia e Mar bastava com o consentimento de ambas. Julia, que estava na reunião, sorriu para Mar e disse:

- Claro que sim.

- Sim, claro. - disse Mar, desengonçada e nervosa. Thiago segurou suas mãos.

- No caso de confirmação de sua paternidade - disse o médico a Nico. - necessitaremos do consentimento da mãe.

Malvina, que não parava de chorar, assentiu. O médico manifestou que devia informar-lhes que a coleta ultra-interina da amostra implicava alguns riscos, mínimos, mas riscos enfim. Ante isso, foi Nico quem desistiu.

- Então não. Esperaremos que o bebê nasça.

- Façamos-o já. - disse Malvina, não queria atravessar sua gravidez com essa duvida e essa dor.

- Não. - disse Nico.

Por ultimo, o geneticista informou que no caso de Cielo e Luz, tinha um processo de identidade e uma sucessão no meio. Como estava aberta a busca pelas herdeiras, seria um juiz quem deveria ordenar ambas provas. Cielo assegurou que se encarregariam de obter essa ordem.

Nesse momento Justina estava de butuca, ouvindo tudo, e decidiu que, antes de perder a sua menina, se marcharia para muito longe dalí com Luz. Mas Bartolomeu lhe deu ânimos para enfrentar.

- Com tudo o que fizemos, Tini... o que é para nós dois fraudar um exame de DNA?

A espera dos resultados foi desesperadora, tanto para Julia como para Mar como também para Tefi. Julia sentia que estava próxima de cicatrizar uma ferida de quinze anos, e não podia parar de pensar em tudo o que ambas haviam sofrido, sobretudo Mar. Tefi tinha a impressão de que todo seu mundo se desabava: não suportava a ideia de compartilhar sua mãe, e muito menos com alguém a quem detestava com todo seu ser.

Para Mar a espera havia lhe gerado um conflito, e havia desatado nela uma crise de angustia que não podia explicar. Thiago a acompanhou cada dia, cada minuto, e tentava entender o porquê de Mar estar tão irracional, briguenta, e por que chorava com frequência, sem motivo aparente.

Numa noite em que Mar, intempestiva, havia expulsado aos gritos a alguns clientes do bar porque haviam se queixado da demora para atende-los, Thiago a levou até a fonte para conversarem.

- O que você tem, meu amor?

- Nada, me deixe sozinha.

- Jamais vou te deixar sozinha. O que é? Tem medo de que o DNA dê negativo? Tem medo de ter se iludido para nada?

Mar começou a chorar. Não era isso, não era esse medo. Era verdade que a possibilidade de ter se iludido para nada lhe dava angustia. Tinha muitos desejos de encontrar sua mãe, e Julia seria uma excelente mãe, muito amorosa. A possibilidade de que essa ilusão se terminasse lhe dava angustia. Mas não era isso o que a deixava assim, era outra coisa.

- O que, meu amor? Tenta me explicar...

- Tenho pânico de que dê positivo. - pôde dizer ela finalmente.

Thiago não compreendeu. Ela lhe explicou que tinha se habituado a dor de ser órfã, tinha suportado uma vida de maus tratos e humilhações, e até tinha chegado a aceitar o fato de ter sido abandonada. Se agora dava positivo e ela resultava ser filha de Julia, uma mulher a quem um lixo de pai havia lhe arrancado sua filha para deixá-la como um pedaço de nada numa paróquia; se isso resultava ser assim, quem repararia esses quinze anos de injustiça? O que faria com todo o ódio que ia sentir se isso se confirmasse? O que faria com esse avô tão sinistro que a havia privado de sua mãe, e a ela de sua filha, durante os primeiros quinze anos de sua vida?

Mar não se equivocava, e o comprovou no dia que finalmente receberam os resultados de DNA. Enquanto esperavam na clínica, ela segurando a mão de Thiago, e Julia acompanhada de seu marido, Mar pensava que a sigla DNA, cujo significado ignorava, lhe resultava parecida a DNI. Era isso o que estavam esperando, um documento que talvez lhe dissesse qual era sua verdadeira identidade.

Quando o médico geneticista as fez entrar, só as duas, e lhes comunicou, estirando o documento, que havia sido demonstrado o vínculo biológico alegado, Julia se estremeceu, e com um sorriso entre lágrimas, traduziu para Marianella.

- Sou sua mãe.

Mar se deixou abraçar, comovida. Mas logo se desculpou e saiu do consultório. Sem dizer nada, se afastou, e Thiago olhou para Julia, que apareceu atrás dela. Julia lhes comunicou o resultado e Thiago saiu correndo atrás de Mar. A alcançou em uma praça, na frente da clínica, onde ela o abraçou e escondendo a cabeça em seu peito, chorou com um pranto de menina, com um pranto velho e guardado durante muitos anos.

Quase Anjos - A Ilha de Eudamón (Português)Место, где живут истории. Откройте их для себя