Várias descobertas - VII

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Não era a descoberta da oficina por parte de Cielo nem seu próprio descobrimento da existencia de Luz o que ocupava Barto agora, se bem ainda não o havia decidido, já resolveria como se desembaraçar de ambos problemas. O que o havia absorvido todos esses dias era outra descoberta que fez no dia seguinte ao tremor.

Ainda que Cielo era a empregada, Justina não permitia que ela tocasse em nada de seu senhor: nem a roupa, nem a comida, nem o quarto, nem o escritório. Justina se ocupava de todas suas coisas. Mas desde o enfrentamento que tiveram por conta de Luz, como represália, havia deixado de faze-lo, com o qual o próprio Bartolomeu teve que arrumar o caos que havia ficado no escritório depois do tremor. Muitos livros haviam caído, e nisso estava, levantando-os do chão e acomodando-os, quando descobriu um pesado cofre que nunca havia visto antes. Se perguntou o que seria isso, não era seu e presumiu que estaria ali desde os tempos do finado Inchausti. Ao levantá-lo viu que havia se aberto, e no interior havia uma estranhíssima chave de metal, alongada, com um símbolo na parte de empunhar.

Não era uma chave comum, de uma porta comum; talvez fosse a chave da cidade, que alguma vez haviam dado ao velho Inchausti. Mas Bartolomeu reconheceu o símbolo da empunhadura da chave, uma espécie de escudo apoiado sobre um par de asas. Demorou alguns segundos para lembrar de onde o conhecia, e com uma exclamação de júbilo, correu para a parte da biblioteca que estava atrás de sua poltrona. Havia ali, por trás de alguns livros, na altura de seus olhos, uma ranhura debaixo do mesmo símbolo, entalhado na madeira da biblioteca.

Bartolomeu a havia descoberto há muitos anos antes e havia pensado que se tratava de um cofre de segurança onde a velha Amália, talvez, guardava dinheiro, mas nunca havia podido abri-la. O serralheiro ao que havia chamado havia lhe dito que isso não era um cofre, nem sequer era uma porta. Havia se esquecido do assunto, até esse dia.

A similaridade dos símbolos era suspeitosa... meteu a chave na fechadura, e entrou! Com grande expectativa a fez girar sobre seu eixo, como uma porta giratória, e de repente Bartolomeu se encontrou no interior de uma habitação secreta, justamente atrás do escritório no qual havia se sentado durante tantos anos.

A habitação era quadrada; as paredes, com excessão da giratória, que era uma parede biblioteca, estavam revestidas com uns painéis quadrados, de uns trinta por trinta centímetros, de todas as cores, e no centro da habitação havia uma pequena plataforma, e sobre esta, um estranho objeto que no principio Bartolomeu não reconheceu. Fazia muito frio e cheirava a mofo.

Bartolomeu estava exultante; pensou, por fim, ter descoberto o cofre de segurança, onde a velha deve ter guardado muitos milhões, e se entusiasmou com a ideia de poder mandar tudo ao inferno e sair para viajar pelo mundo em veleiro. No entanto, não havia milhões a vista, só esse objeto, ao que Bartolomeu se aproximou para olhar de perto, e levou um grande susto ao ver que se tratava de um Simon, um brinquedo muito popular dos anos 80, que consistia em imitar uma sequencia de sons e cores que o brinquedo produzia.
- Velho louco! - exclamou, não sem fascinação, Bartolomeu.

Mais uma vez comprovava que a mansão era uma caixa de surpresas, repleta de portas enganosas e passagens secretas. O velho Inchausti havia sido um menino grande, inventor, que se divertia com essas coisas. Tentando seguir a lógica do velho Inchausti, Barto entendeu que havia protegido seus milhões com esse Simon, e que talvez, jogando e conseguindo ganhar, as arcas se abririam para conduzi-lo direto ao veleiro.

O ligou e, para sua surpresa, o brinquedo funcionava perfeitamente. Começou uma partida, o Simon acendeu a tecla vermelha, fazendo um som. Bartolomeu o imitou... e assim, repetiu a sequencia que o brinquedo propunha durante várias movidas, até que se equivocou e escutou o caracteristico som que indicava um erro. De repente um dos painéis quadrados que revestiam as paredes se abriu e saiu um enorme punho fechado montado sobre um mecanismo retrátil, que deu um forte bofetão na nuca de Bartolomeu.
- What the hell! - exclamou dolorido e afagou o lugar onde havia recebido o golpe.

Quase Anjos - A Ilha de Eudamón (Português)Where stories live. Discover now