Quase Anjos - A Ilha de Eudamón (Português)

Pais e Filhos - II

O dia em que declinou a oferta de uma negociação, Nico adivinhou pela cara de decepção da juiza que a sentença não seria favorável.

Ao longo do julgamento, a advogada reclamante havia conseguido demonstrar muitos fatos que os prejudicavam: que não tinha um trabalho estável e que sua situação financeira, depois de meses sem trabalhar devido precisamente ao julgamento, não era muito folgada. Se demonstrou que, pela profissão de Nico, Cristobal havia passado a maior parte de sua vida viajando, sem se estabelecer em um lugar, e que por isso sua educação formal sofria constantes interrupções; em tão somente três ciclos escolares havia estudado em cinco colégios. O fato de que Cristobal fosse uma espécie de gênio e, alem disso, muito instruído não foi levado em conta.

Também se fez constar que, profissionalmente, sua vida estava dedicada a busca da ilha de Eudamon. A advogada havia apresentado dois informes de dois respeitadíssimos arqueólogos que haviam qualificado a crença na mítica ilha de Eudamon como um "delírio" e como uma "fantástica ingenuidade". Se demonstrou também que a delicada situação financeira de Nico se devia a grande quantidade de dinheiro gasto na "ingenua e delirante" busca de Eudamon; empreitada na que, claro, arrastou a Cristobal. Se deixou constância de que nessas viagens o menor havia estado em zonas de emergência sanitária, com o risco que isso significava, sobretudo para um menino asmático.Se uniram, também, três perícias psicológicas que expunham os possíveis danos ocasionados ao menor com as mentiras sobre sua identidade e, segundo a advogada reclamante, se levou em conta a experiencia traumática de ter sido vítima de um sequestro, acontecimento que, como mínimo, deixava em evidencia as sérias deficiências de Bauer para garantir a segurança do menor. Malvina teve que se retirar ao toilette quando mencionaram esse ultimo ponto.

Depois das alegações finais, a juíza anunciou que no dia seguinte se faria a leitura da sentença. Nicolas pediu por meio de seu advogado, faze-lo um dia depois. Tanto Marcos como Carla se negaram; ele porque somente queria fastidiá-lo, e Carla porque desejava terminar imediatamente esse julgamento. No entanto, Nico insistiu. Quando a juíza perguntou ao advogado de Nicolas o porquê da insistência em adiar um dia, foi Nico quem respondeu:

- Porque amanhã é o aniversário de Cristobal, e quero estar com ele.Se produziu um silencio generalizado na sala, depois do qual Nico olhou a juíza e disse:

- Olhe os pais que reclamam a meu filho... uma mãe que nem sequer se lembra do dia em que o teve.

Mas como a reclamante não esteve de acordo em adiar a leitura da sentença, o pedido não lhe foi concedido.

No dia seguinte, todos se reuniram na mansão para festejar o aniversário de Cristobal mas, ainda que se esforçaram, foi muito difícil lhe arrancar um sorriso. Cristobal sabia que nesse dia conheceria a sentença, e pelo excessivo otimismo de seu pai, intuía que as coisas não iam bem. Nico havia decidido não se apresentar na leitura, na que estaria sendo representado por seu advogado. Ele não perderia o aniversário de seu filho.

Cristobal abriu cada presente tentando se mostrar feliz. Nico lhe presenteou um triceraptor de controle remoto, e a pedido do próprio Cristobal, contratou um mago. Lhe chamou muito a atenção que seu filho quisesse isso, já que ele não gostava dos magos; ficava mais entediado porque sempre descobria todos os truques.Sua avó Berta, ou a mãe de seu pai, como preferia ser chamada, lhe presenteou uma múmia que falava. Malvina lhe deu um jogo didático para crianças de seis meses a dois anos. Cielo lhe presenteou uma velha câmera fotográfica.Os TeenAngels lhe deram um flamante demo que haviam gravado, além de um interessantíssimo jogo de estratégia. Monito, Aleli e Lleca lhe deram uma enciclopédia arqueológica, claramente escolhida por Nico. Todos se surpreenderam quando Luz, que quase não falava com ninguém, se aproximou e lhe presenteou um par novo de walkie-talkies, e Justina lhe deu um cofre com forma de caixão. Bartolomeu lhe deu um puxãozinho de orelha e deu de presente um par de meias.