A Invasão de Angeles - III

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Alguns minutos mais tarde, houve uma reunião de emergencia no escritório de Bartolomeu. Malvina chegou apressada ante a insistencia de seu irmão. Ali já estavam ele e Justina.

- Isso é uma invasão! Em menos de vinte e quatro horas nos invadiram o rancho! - começou Bartolomeu. E parou em seco a Malvina que ia perguntar alguma tontisse. - Perguntas agora não, lesada. Não só chegou Thiaguinho de supetão, senão que tivemos que tomar a empregada intrometida que seu noivo nos enfiou goela abaixo, e agora, além disso, ele se ofereceu para dar aulas aos pivetes!

- Really? - perguntou Malvina, encantada com a ideia de ter Nicky por perto.

- Voce entende que isso não pode acontecer? - a fulminou Bartolomeu.
- Não pode, e não acontecerá, meu senhorrrr. O senhor se encarrega de Thiaguinho; a lesada, com todo respeito, se encarrega de dissuadir seu prometido, e eu me encarrrrego da empregadinha rrrrebelde.

E cada um saiu para cumprir sua missão. Bartolomeu, a comprar a passagem com a que pensava despachar seu filho. Malvina, a tratar de dissuadir seu namorado, ainda que na realidade não sabia nem do que se tratava e nem de como encará-lo. E Justina, a colocar as patinhas da insolente na rua.

Mas a governanta mais uma vez enfrentou a dificil tarefa de encarar a jovem explosiva. A encontrou perambulando pelo andar de cima, com uma pequena bolsa com forma de macaco verde.
- O que faz aqui? - a repreendeu Justina.
- Estou procurando o quarto de serviço. Onde eu vou dormir?

Justina sorriu em seu interior, a pobre desgraçada ignorava que não passaria nem uma mísera noite ali. Mas aproveitou a ocasião para levá-la ao sótão, a habitação mais afastada da mansão, onde ninguem poderia ouvir seus gritos nem os prantos que provocaria na jovem.
- Siga-me! - lhe disse, com seu torso erguido e suas mãos recolhidas na altura do peito, e se dirigiu até a escada que conduzia ao sótão.

Apenas entrou na pequena habitação de madeira, Cielo sentiu algo que lhe oprimiu o peito. Pensou que era o pó acumulado nesse lugar que, sem duvidas, ninguem usava para nada, mas sabia que havia algo mais. Não era só uma opressão, era mais uma angustia que queria sair a tona. Cielo observou fascinada a parte de trás desse grande relógio que enfeitava a mansão. Seu mecanismo era de uma estranha beleza, parecia tirado de um filme antigo.

Justina a deixou passar, fechou a porta, e se dispôs a maltratá-la de tal maneira que a ranhenta terminaria suplicando que a deixasse sair.
- É evidente que voce não serve para nada. Nem para fazer uma torrada, nem para lavar um copo, nem para abrir a porta...

E de repente parou em seco. Foi tão abrupto o silencio que Cielo girou para ver o que acontecia. Justina estava pálida. Enquanto ela havia começado a falar, Cielo havia aberto a bolsinha com forma de macaco e começado a tirar seus pertences, para ir se instalando no sótão. A primeira coisa que havia tirado era um porta-retratos. Justina sentiu que um frio de morte lhe recorria a espinha dorsal: sem lugar a duvidas, a menina dessa foto era a desgraçada que, há dez anos atrás, ela e seu senhor haviam mandado para morrer no bosque.
- Quem é essa menina? - perguntou com um fio de voz.
- Esta? Sou eu, dona, com meus velhos, quando eu tinha dez anos.

O senhor Bartolomeu estava certo, a mesmíssima Angeles Inchausti havia lhes invadido a mansão.


Quase Anjos - A Ilha de Eudamón (Português)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora