- Ah, é um soldadinho de quinta. - disse Nico sem retroceder ante a arma que Bartolomeu empunhava.
- De quinta, não... estou te apontando com uma Luger calibre 45 do ano 39. De coleção...
- Não complique mais ainda sua situação com esse brinquedinho... tem meia hora para fazer o que te disse.
- Abra a porta, vamos. E não faça idiotices, Bauer. Tem muita gente inocente que pode sair lastimada...
- Está me ameaçando com os garotos?
- Eu? A meus pivetinhos? Que equivocado está...
- Meia hora. - disse Nico, e abriu a porta.
Saiu praticamente atrás de Bartolomeu, e o viu, marchando até a mansão. Nesse momento Thiago saia do colégio, e olhou a ambos. Bartolomeu parou um segundo, e olhou para seu filho.
- Thiaguinho... aqui se dividem as águas. Agora vai ter que pensar muito bem de que lado vai estar.
E seguiu seu caminho. Thiago olhou estranhado para Nico, e viu seu rosto tenso.
- Aconteceu algo?
- Vamos para dentro, Thiago, temos que conversar.
- Sobre o que?
- Sobre o que tentaram me dizer todo esse tempo e eu não escutei.
- Se nos fechou o cerco - comunicou Bartolomeu a Justina e a Malvina. - A empregadinha se lembrou e contou tudo a Bauer.
- What? - tremeu Malvina.
- Tudo, tudo, meu senhor?
- Supõe que Luz é sua irmã, se isso é o que está perguntando. Agora escutem... este é o plano.
No mesmo momento, havia outra reunião no pátio coberto. Alí estavam Nico, Cielo, e os adolescentes. Todos com um misto de felicidade e pânico. Jazmin estava abraçada a Mar. E Thiago rodeava com seus braços os ombros de Tacho e Rama.
- Lhes dei um ultimato... - comunicou Nico. - Se não forem embora, vamos dar batalha.
- Se pensa que vou me retirar... por favor, vamos dar batalha, vamos aniquilá-los! - disse Bartolomeu batendo com um punho na mesa do escritório.
- Vamos ir pela via legal, mas temos que nos cuidar. Nunca fiquem sozinhos, nunca deixem os pequenos sozinhos. É por precaução. Se Bartolomeu é o que vocês dizem...
- É pior. - disse Thiago com seus olhos inundados de lágrimas. - É muito pior do que eles contam, Nico.
- Temos que estar alertas, fiquemos sempre comunicados, saibamos onde estão uns aos outros. Isso pode se converter em uma guerra... - advertiu Nico.
- Temos que atacar pelo lado mais fraco, os pequenos, com munição pesada. Aqui não há tutia... - sussurrou no principio Bartolomeu, com sangue nos olhos, até que deu um grito, como convocando sua tropa: Então que vamos as trincheiras!
- Tem trincheiras? - perguntou Malvina.
- É o que temos para hoje, senhorrrr... - disse Justina palmeando Malvina.
- Barti... Nicky te disse algo, se estava enojado comigo...?
- Sabe de tudo, lesada. Tudo. Estamos em guerra.
- Mas temos a nós. - concluiu Justina.
- Já não estão sozinhos, gente. Estamos todos juntos nessa, e vamos vencer.
Todos olharam para Nico e Cielo, com um alívio que não podiam expressar. Por fim, tinham dois pais que os protegiam.
Quando se cumpriu o prazo dado por Nico, se abriu a porta do escritório, e saíram Bartolomeu e Justina, erguidos, sérios e com um gesto de dignidade. Desde o setor dos garotos chegavam Nico e Cielo. Ambos casais se detiveram e se olharam a distancia. Cielo passou a mão pelas costas de Nico, dando-lhe animo. Justina tirou um pelinho do terno de Bartolomeu, e o palmeou com força.- Vão embora? - rompeu o silencio Nico.
- Você vai? - perguntou Bartolomeu a Justina, girando sua cabeça até ela.
- A nenhum lado, meu senhorrrr.
- Eu tampouco, che... - disse Barto desafiando Nico com o olhar.
- Por que não facilita, don Bardo? Assine a tutela dos garotos e vá embora. - propôs Cielo.
- Daqui só me tiram com os pés esticados. - respondeu ele.
- Em caixão de madeira, com ferragens de ouro. - completou a imagem Justina.
- Você não fale tanto, e se preparem. Vou pedir um DNA para Luz. Se chega a ser minha irmã, vou me encarregar de que você viva cento e vinte anos, para que passe muito tempo presa.
- Essa é sua resposta, Bartolomeu? - perguntou Nico.
- Correto.
- Então consiga um advogado. Está avisado.
- Você também.
E ambas duplas se retiraram ao mesmo tempo. Bartolomeu e Justina voltaram ao escritório, onde Malvina estava escondida, evitando se cruzar com Nico. Ele e Cielo subiram para o sótão.Depois de toda a tensão, Nico relaxou. E foi aí, realmente aí, quando começou a dimensionar tudo o que Cielo havia lhe contado. Acabavam de ligar para o advogado para iniciar o processo contra Bartolomeu.
- Está com medo? - perguntou Nico.
- Com você do meu lado, jamais.
- Eu tenho um pouco de medo.
- Eu tenho muitíssimo. - confessou ela. - Mas esta nós venceremos, Indi.
- Como não o percebi antes?
- É que quando a pessoa é pura de coração, custa ver a sujeira alheia. Eu também demorei muito para ver, e isso que eu moro aqui, com os garotos... tudo passava diante de meus olhos.
- Me sinto tão mal... as vezes que os julgamos, que demos sermões porque roubavam... e era Barto, Cielo!
- Angeles. - corrigiu ela. - Sempre vou ser Cielo, mas agora também sou Angeles...
- E é a herdeira.
- Isso agora não me importa. Saber que sou Angeles é o suficiente.
- És meu anjo. - lhe disse ele, olhando-a com devoção. - Posso fazer algo que há muito, muito tempo quero fazer?
- Faça o que quiser.
Nico a tomou pelo queixo, e lhe deu um longo beijo, doce e apaixonado. E desde aquele dia jamais se separaram.
ESTÁ A LER
Quase Anjos - A Ilha de Eudamón (Português)
Teen FictionNuma noite de fevereiro de 1854, três pontos luminosos desenham no céu um triangulo perfeito: três relógios idênticos começaram a funcionar ao mesmo tempo, e um deles está no sótão da mansão Inchausti. E ainda que pareça uma cena ocorrida por azar...