O Espírito da verdade - I

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Nicolas não prestou nenhuma atenção quando Cristobal entrou correndo para lhe contar sobre sua descoberta; estava pendente do telefone, ao que o ligariam para lhe dar os resultados do exame que haviam feito essa manhã em Cristobal.
- Não me escuta, Bauer? Temos que falar! - gritou exasperado Cristobal ante a falta de reação de seu pai.
- Sim, sim, já vou, filho.
- Já é já! - gritou o pequeno. - Estou te dizendo que encontrei uma habitação secreta na mansão! Tenho certeza que tem a ver com Eudamón.
- Muito bom, filho. - disse Nicolas sem registrar.
- Está surdo, Bauer? Temos que ir já investigar essa habitação!

Nesse momento o telefone tocou, e Nicolas o atendeu antes de que tocasse pela segunda vez. Se afastou um pouco de Cristobal e disse:

- Olá.
- Doutor Bauer, aqui é o doutor Lamar.
- Olá, obrigado por ligar. Já tem os...?
- Pode ficar tranquilo, Bauer, seu filho não herdou a doença de sua mãe. Está completamente saudável.

Como um dique superado pela água, Nicolas relaxou a tensão de tantos dias. Com o telefone na orelha e o cabo enrolado, abraçou seu filho, chorando, enquanto não deixava de agradecer ao doutor Lamar por telefone.
- Obrigado, Lamar, obrigado por tudo... obrigado ao senhor, a sua equipe, obrigado a todas as enfermeiras, as secretárias do primeiro andar, a recepcionista... diga a todos muito, mas muito obrigado! São os melhores! Que equipe é essa, hein, Lamar!

Quando Nico finalmente desligou, estranhado por essa incompreensível reação, Cristobal se animou a perguntar.
- O que aconteceu, pai?
- Acontece que te amo, filho, isso acontece. Agora me conte dessa pista que voce descobriu! - lhe respondeu feliz.

Nico estava tão feliz que correu com seu filho pendurado em seu ombro até a mansão, queria contar a notícia para Cielo, para Malvina; queria agradar seu filho com sua investigação, queria fazer tudo. A vida voltava a ser linda. Assim que chegaram na mansão, se encontraram com Malvina; Nico a abraçou e a beijou como há muito tempo não o fazia, a afastou de Cristobal e lhe sussurrou que seu filho estava saudável, e Malvina se emocionou, não tanto como expressou, mas alguma emoção genuína havia nela.
- Então agora sim nos casamos? - lhe perguntou ela.
- Nos casamos já! Quando quiser! - exclamou Nico, feliz.

Malvina correu para buscar Barti para que colocasse em ação com suas influencias e contatos no registro civil. Cristobal insistiu com a pista, mas Nico antes queria contar a notícia para Cielo, no entanto cedeu quando viu o enojo de Cristobal.
- Vem, dá para entrar tambem pelo escritório de Bartolomeu. - lhe disse o pequeno e o conduziu até alí.

- Sim? - se ouviu Barto dizer quando bateram na porta.
- Sou Nico.
- Entre, Bauer.

Nico entrou, no escritório estava Bartolomeu, reunido com Malatesta.
- Ah, perdão, não sabia que estava ocupado.
- Necessita algo, Bauer?
- Não, não, pode esperar.
- Não, não pode esperar! - se queixou Cristobal.
- Filho, Bartolomeu está ocupado, depois falamos com ele. Quer falar de algo que encontrou... - explicou a Bartolomeu, que sorriu tenso.
- O doutor Malatesta já estava de saída! - disse cortante Barto.

Malatesta se levantou, olhou para Nico um tanto intrigado, e se retirou. Nesse momento tocou o celular de Bartolomeu, e ele atendeu, se desculpando com um sorriso.
- Que? Não, com "b" grande, lesada, branco com "b" grande. - e desligou. Olhou Nico, e sorriu para Cristobal. - Diga-me, che...
- Cristobal disse que descobriu uma habitação secreta... e como sabe, nós estamos fazendo uma investigação, e ele pensa que pode estar relacionada.
- Que lindo! O mini Bauer arqueólogozinho! - festejou Bartolomeu rindo a gargalhadas. - Não creio, che... sim, é uma habitação secreta, mas não há nenhuma múmia lá dentro.
- Posso vê-la? - perguntou Nico.
- Obviously! - disse Barto, se levantando e fazendo girar a parede da biblioteca.

Nicolas se surpreendeu ao ve-la girar, e olhou com muita curiosidade a habitação com seus painéis coloridos, o pedestal com o simon e o computador com seu monitor em forma de monstro.
- Isso... - explicou Bartolomeu. - não é nenhuma relíquia arqueológica. O finado Inchausti era um inventor, fazia brinquedos, se divertia com essas coisas... e este era seu cantinho secreto.
- Que curioso. - disse fascinado, sem deixar de observar o lugar.
- Basicamente o que tinha aqui era o monitor das câmeras de segurança da mansão... e deve ter usado como esconderijo em suas trapisondas com as empregadas! - e riu a gargalhadas, mas ficou sério ao ver que Nicolas lhe indicava com um gesto que essas piadas não eram apropriadas diante de Cristobal.

Ainda que a façanha era muito interessante e simpática, Nico não encontrou relação alguma entre a habitação e Eudamón, e assim disse a Cristobal, que insistia.
- Não, filho... o que pode ter a ver isso com Eudamón?
- Isso é o que temos que investigar, pa! Tenho um palpite, e voce sempre diz que temos que seguir nosso palpite...
- É verdade. - disse Nico. - Se Barto te permitir, siga seu palpite, continue investigando e me conte o que averiguar. - lhe propôs para conte-lo.
- Quando quiser, che. - disse Barto sem nenhuma intenção de voltar a abrir sua habitação secreta para o mini Bauer.

Antes de regressar a sua casa, Nico pediu a Cristobal que o esperasse, e foi procurar Cielo, a quem encontrou em seu sótão, ainda convalescente pelo desmaio e a porrada. Nico se preocupou, mas ela lhe assegurou que estava bem.
- E voce, como está? Tem olhinhos contentes...
- Cristobal está são, Cielo! - exclamou Nicolas.

O rosto cansado de Cielo se iluminou, e o abraçou, tão feliz e aliviada como ele.
- Que felicidade me dá ouvir isso, Indi!
- Já sei.. - disse ele olhando-a com devoção. - E a voce, o que aconteceu?
- Desmaiei... e tive outro sonho, sabe? Sonhei com minha mãe, mas já me esqueci de tudo...
- Cielo... não pode seguir escapando disso, tens que fazer algo, esses desmaios e esses sonhos não são normais.
- Vou fazer algo, Indi. Não diga nada, mas o doutor Malajeta me recomendou uma clínica para desmemoriados.
- Excelente! - aprovou Nico. - E conte comigo para o que precisar... tem que reconstruir sua história...
- Voce tambem é médico para desmemoriados? - brincou ela.
- Não, mas sou arqueólogo. - disse ele - E isso fazemos os arqueólogos... buscamos restos, objetos, pequenos retalhos do passado, para reconstruir a história.
- Talvez seja isso o que eu necessito. - deduziu Cielo olhando-o fixamente nos olhos. - Um piripipólogo que me ajude a reconstruir minha história.
- Quando voce me necessitar, aqui vou estar.
- Sim?

Ambos se olharam com um amor maior do que podiam conter, teriam se beijado novamente se nesse momento não tivesse entrado Malvina.
- Gordi! Sabia que estava aqui! Imaginei que havia vindo contar a minha ami Cielo o de Cristis, que bom, não? Agora, já que os tenho juntos, me mato, conto aos dois!
- O que, Malvina?
- Falei com um amigo de Barti, Luisito Blanco, com "b" grande, que louco, não? Bom, esse amigo tem contatos no registro civil e nos fez um favorzão.
- Que favor?
- Nos conseguiu um turno no registro civil, para já!
- Como para já? - disse Nico um tanto tenso.
- Sim, gordi, já! Nos casamos em tres semanas! Não é demais?


Quase Anjos - A Ilha de Eudamón (Português)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora