Aparentes fracassos - III

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Nico e Mogli estavam terminando de instalar Cristobal em um quarto vazio da mansão. Quando Cristobal perguntou onde Mogli dormiria, notou que seu pai se olhou com este e ficou triste.
- O que foi agora? - se antecipou Cristobal.
- Nada, Cristobal... nada. - disse Nico, advertindo Mogli com seu olhar.
- No nono, nata, Micola. Vuce saber.
- Sabe o que, pai?
- Mogli dever partir. - comunicou Mogli com um grande pesar a Cristobal.
- Por que?
- Outra vez com isso, irmão? - protestou Nico, deixando claro que já haviam tido essa conversa. - Mogli, voce dorme aqui com Cristobal...
- Non, Micola. Desta vez, Mogli partir. - disse, sereno.
- Por que, Mogli? - perguntou Cristobal entristecido.
- Tempo de aventuras terminar. Agora Micola e Cristobola ter família. Mogli dever buscar ele seu proprio caminhu. Mogli ser homem sem terra, sem raízes.
- Mas, Mogli... nós somos suas raízes... nós três, sempre nós três, se lembra? - disse Nico, já angustiado.
- Non Micola! - o repreendeu Mogli. - Nós ser guerreiros. Cristobola, pequeno guerreiro tambem. Guerreiros no non chorar.
- Mas não vá muito longe, Mogli. - suplicou Cristobal.
- Cristobola, pequeno amigo do meu coração... vuce saber que Mogli o ama com a alma. - disse e o acariciou com grande ternura. - Cristobola, Tristobola, Cristobolon... vuce ensinar horizonte a Mogli. Ensinar a falar espagnol, a ir ao bathroom. Tristobola vai estar sempre aqui e aqui. - disse apontando a sua cabeça e ao coração. - Vuces guardem a Mogli aqui, e aqui. - disse apontando o coração e a cabeça de pai e filho. - Não sentir falta... se sente falta do que non voltar... e nós... sempre vamos voltar.
- Te amo muito, Mogli. - disse Cristobal chorando.

Mogli apoiou sua mão sobre a cabeça de Cristobal, e o abençoou em seu dialeto.
- Oblolongo, munir, carruna, caprazon.

Com muita dignidade, os três se secaram as lágrimas. Se olharam e, de repente explodiram, os três ao mesmo tempo, com o ritual com o qual festejaram cada descobrimento que fizeram durante anos.

- Ua olo, ua olo, ua, ua, ua! - gritaram sacudindo suas mãos e se palmeando mutuamente.

Depois Mogli colocou seu morral no ombro, e se afastou pelo corredor. Antes de desaparecer, voltou a olhá-los e sorriu.
- Tristobolongo... cuidar muito do irmãozinho, sim?

E se afastou. Nico e Cristobal se olharam, muito tristes. Até que Nico se perguntou em voz alta:
- Que irmãozinho?

Ainda tristes pela partida de Mogli, Nico e Cristobal foram buscar as ultimas coisas que haviam ficado no loft, e ao descer se toparam com Alex, que os cumprimentou muito amavelmente e se apresentou.
- Eu sou Alex, nos conhecemos?
- Sim, nos conhecemos e eu estava te esperando, Alex. - disse Nico.
- Venho da parte de Cielo... - disse Alex, lendo um papelzinho verde. - Ela me disse que aqui se alugava um loft.
- Vem! - se impacientou Nico e o fez entrar no loft.

Nico ao menos encontrou que, enquanto mostrava o loft a Alex, fazer a ele todo tipo de advertencias dissimuladas e se assegurar de que Alex anotasse em seus papeizinhos os maus conselhos amorosos que lhe deu para abordar Cielo, era uma boa maneira de se esquecer da tristeza pela partida de seu grande amigo, de seu irmão, Mogli.


Quase Anjos - A Ilha de Eudamón (Português)Where stories live. Discover now