Pais e Filhos - V

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Quando Malvina lhe deu a grande notícia, Nico se lembrou das palavras que Mogli havia lhe dito antes de partir, e se surpreendeu, mais uma vez, com a sabedoria de seu amigo.

- Grávida? Mas você tem certeza?

- Sim, Nicky... muita certeza. Estou grávida. Fiz três testes de gravidez. Não quis te dizer antes porque estava com o tema do julgamento... mas agora que perdeu o Cristobal...

- Não o perdi.

- Sim, perdão, perdão... digo, agora que ele não está aqui, pensei que talvez essa noticia te alegrava um pouco. Vamos ter um filho, meu amor.

Nico a abraçou. Claro que o alegrava, a ideia de ter outro filho era algo que lhe dava muita felicidade, e não se considerou em condições de colocar na cabeça que talvez seu matrimônio fosse um erro. Mas fez um grande esforço para se conectar com essa noticia, lhe pediu desculpas por não ser efusivo, por não saltar de alegria como teria feito em outras circunstancias, mas a separação com Cristobal o tinha devastado.

- Pegue na minha barriga. - lhe disse ela. - Isso é um sinal, uma esperança, um pouco de felicidade em meio a tanta dor, não?

Concordaram em não comentá-lo ainda, já que ainda não havia chegado o terceiro mês de gestação. No entanto Malvina não demorou nem dez minutos em descumprir o acordo. E a primeira pessoa a quem contou, depois de Nico, foi Cielo.

- Miga, querida, vai ser titia!

- Nem miga, nem querida, nem tia...

- Ai, me mato, por favor, quanto ressentimento...

- É do Indi esse filho? Ou é daquele outro embuste que acabou de tirá-lo de Cristobal?

Malvina fez uma série de sons indignados e se afastou, mas deu a volta.

- Não diga ao Nicky que te contei, it's our secret, ok?

E saiu. O certo era que por mais indignação que lhe produzira a pergunta de Cielo, Malvina estava se torturando pela mesma duvida. Pelo tempo, cabia a possibilidade de que esse filho fosse de Ibarlucia. Ela rogou desesperadamente que não fosse assim. Não se podia estar arrependida de tantas coisas, e não suportaria uma vida inteira de remordimento por ter um filho de outro homem que não fosse seu marido.Bartolomeu não lhe foi de nenhum ajuda, já que para ele, a partir da renuncia da herança, o matrimonio de Malvina e Nicolas lhe importava tanto como os direitos dos pescadores na Tailândia.

Malvina, a partir desse dia, tentou sepultar no mais profundo de sua memória essa duvida que a perseguia. E todas as noites rezava, pedindo a Deus que por favor esse filho fosse de Nico, como se pudesse ser mudado o que já estava feito.

Ainda que existia a possibilidade de que não fosse de Nico, a noticia da gravidez havia devastado Cielo. Sentia que esse sonho que alguma vez havia tido estava cada vez mais longe.

- E com Alex, Cielo? - lhe perguntou Mar ao vê-la tão triste.

- O que tem Alex? - reperguntou Cielo.

- Não, digo... é um cara lindo, a térmica dele está fazendo falso contato, mas não deixa de ser simpático... os dois tem em comum que lhes derrapa o eixo, não sei...

- Você está me dizendo que eu tenho que agarrar o Alex como premio de consolação?

- Só estou te dizendo que não pode ficar a vida toda chorando por Nico.

Mar tinha razão em várias coisas: em que não podia continuar chorando, em que Alex era um homem lindo, e em que ambos poderiam ser um casal muito exótico, pelo menos; uma que se esquecia rapidamente os rancores. Mas como se fosse uma ironia da vida, um texto sublinhado com marca-texto que lhe dizia "a felicidade não é para você", quando foi ver Alex para convidá-lo para tomar algo, o encontrou muito comovido com uma mulher grávida.

- Encontrei minha família, Cielo... ela é minha mulher, está me procurando há meses... vou ter um filho! - lhe contou muito emocionado.

- Alex... que alegria! - disse sinceramente Cielo.

A esposa de Alex tinha uma barriga a ponto de explodir, e não podia parar de chorar enquanto lhe contava seu desespero de todos aqueles meses. Cielo, e também Alex, souberam que ele morava em uma cidade sobre a cordilheira no sul, que ele havia vindo a capital para buscar trabalho quando ela havia ficado grávida, e que nunca mais soube dele. Alex lhe contou o que supunha que havia ocorrido: o haviam assaltado e agredido, e isso lhe provocou uma lesão e sua amnésia.

No dia seguinte, quando Cielo se despediu deles e os viu partir, pensou que a vida podia dar pauladas na cabeça, mas também proporcionava reencontros.

Quase Anjos - A Ilha de Eudamón (Português)Where stories live. Discover now