◇Terceira Temporada: Capítulo 72◇

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Lin Gutierrez 🤗

— Tem certeza, minha filha? — minha avó perguntou de onde estava sentada no sofá, no lado oposto ao meu.

— Tenho sim. Minha vida é no Brasil — respondi, mas aquelas palavras me pareceram vazias. Eram genéricas demais, e se querem saber, sou jovem o bastante para ter certeza de que meu futuro é onde quer que eu queira e alcance. E o Brasil seria um alcance meio limitado.

— Quando uma jovem garota desiste de uma oportunidade dessas, é porque tem um grande amor envolvido — retrucou. — Ouça a voz da experiência, minha filha.

Eu a olhei, e enxerguei o mestre Oogawy, a grande tartaruga do kung fu. Não consegui me desfazer da imagem, e até que combinava com ela.

— Não há nenhum amor envolvido na minha decisão. — Senti minhas bochechas queimarem, por está sendo observada demais pela mulher mais velha.

— Alguém já disse a você, Rosa, que é uma péssima mentirosa? — De repente, lembrei do AJ, a quentura do meu rosto passou. Arrumei no sofá, antes de respondê-la.

— Já, vovó, e peço desculpas se o que falei te deu essa impressão — abaixei a cabeça. Bem, eu realmente não menti, minha decisão não é baseada no romance.

— Não tem do que se desculpar, netinha. — Levantei a cabeça e a encontrei sorrindo, nos cantos da boca e dos olhos, várias linhas de expressão decoravam seu rosto, sinais de a minha avó sempre fora uma pessoa sorridente. — Prepare-me chá e biscoitos.

Meus cantos da boca se ergueram involuntariamente e me levantei do sofá para atender ao pedido da minha avó.

Tinha se tornado algo rotineiro me juntar a vovó ou preparar o seu chá da tarde todos os dias. Felizmente, Oliver se propôs a maior missão da sua vida: me ensinar a cozinha. E por incrível que pareça, consegui não estragar a receita de biscoitos favorita dela, ou o preparo do chá. Às vezes ele nos acompanha, mas na grande maioria, é apenas vovó, Liz e eu. E agora que ela está muito melhor de saúde e que estarei voltando pro Brasil, não sei se a Liz continuará por aqui.

É algo que me preocupa. Não gostaria de deixar ela sozinha novamente, mas não acho que conseguiria continuar aqui. Sinto que ainda não estou preparada para abandonar a vida que conheço e que já estou acostumada no Brasil, para viver aqui. Minha avó me entenderia, se contasse que estou assustada demais com a possibilidade de passar mais seis meses aqui? Não que a minha vida lá fosse um mar de rosas, mas ao menos, estaria ao redor de pessoas que me conhecem, que poderiam me segurar quando eu caísse.

Tudo isso consegue ser ainda mais baboseira do que 'minha vida é no Brasil'. Sinto que não consigo, verdadeiramente, me entender nesse momento.

— A senhora não vai ficar chateada por eu ter decidido voltar? — perguntei a ela quando voltei para sala segurando uma bandeja.

— Não vou negar que fiquei um pouquinho, mas não irei te impedir ou pedir pra ficar, porque sei a sensação de estar em um lugar ao qual você sente que não pertence. — Quando mais o tempo passa, mais sábio a pessoa fica? Minha avó estava me dando um baile de sabedoria, um atrás do outro. E o que eu poderia fazer? Ela estava certa, claro.

Fiquei curiosa para saber mais do que ela estava falando. Ela parecia ter viajado no tempo segurando sua xícara de chá, com olhar vago. Mas não perguntei sobre sua experiência, que ao meu entender, não foi muito agradável. Ao invés disso, me concentrei em tomar chá, comer biscoitos e perguntar se ela pretendia pedir a Liz que continuasse por aqui depois da minha partida.

[...]

— E você falou com o seu pai sobre a sua decisão? — Oliver me perguntou.

Reencontros e Encontros Where stories live. Discover now