Capítulo 10 - Parte 04

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Laura se afastou e seguiu pelo meio da mata. Seguia a uma grande velocidade entre as árvores. Quando o dia chegava, era capaz de arranjar abrigos embaixo do solo, cavando e enfiando-se entre as raízes. A irmã que conhecera, seguia a certa distância. Não entendia porque se atrevia a segui-la. Não existia lembranças de morte de irmã contra irmã na história dos vampiros. E bem que sentiu vontade de inaugurar um novo hábito fratricida. Logo desistiu da ideia. Era um absurdo como tudo que ouvira.

Os devoradores seguiam com o grupo dos homens. Eram homens poderosos, que pagavam grandes quantias de dinheiro para escravos e homens de má índole, bandidos e piratas. Eles atravessavam o mar e mergulhavam na floresta.

Era verdade o que sua irmã lhe dizia. Ela viajava o mais rápido que podia durante a noite. Eles avançavam durante o dia, e seguiam sempre em movimentos variados, divididos em dois grupos. Um devorador devia seguia em cada. Eles, sem dúvida a cercavam.

Seguiam seu rastro de sangue, as mortes de suas presas. Compartilhavam da mesma incapacidade de se mover durante o dia, com a exceção de que seus grupos de homens nunca paravam.

Nas próximas noites, haveria o encontro. Não havia dúvidas.

Certa vez, percebeu que o luar estava diferente. Uma imensa lua de sangue flutuava no céu. E os devoradores corriam desesperadamente. Laura estava insatisfeita de fugir. Aquilo a estava aborrecendo.

Lutava para manter-se viva, mas de certa forma, sabia que sua existência era indiferente. Os tempos vinham e iam. O seu tempo passara, e talvez devesse ser sepultada com o império que ficou soterrado pelos séculos. A morte lhe era tão comum, que mesmo a ameaça a própria vida era banal. E fora tão gradual, tão agonizante, que com os anos, chegou a esperar que aquela agonia terminasse logo, e a civilização deixasse de existir de uma vez.

Por algum tempo permaneceu no seu império esperando enquanto suas irmãs a quilômetros de distância, ou caiam ou fugiam. A maior parte fugiu. Seus súditos pensaram que tinham feito algo de errado. Talvez esperassem que suas rainhas tomassem o partido deles, que o defendessem. Foram abandonados para uma mortandade que perdura por séculos, e que agora estava em seu encalço.

Poderia então satisfazer a sua curiosidade, de ver quem eram aquelas criaturas tão temidas. Parecia justo, a agonia da qual era mensageira, guardara uma mensagem pra ela. Seus emissários chegariam logo. Mas sua irmã, pelo o que entendia, fugira a sua percepção. Ela os seguia mais próxima, e mesmo assim, parecia-lhes invisível.

Eles já sabiam onde laura se encontrava. Havia um barrando qualquer, e ela se encostou a um deles. Ali, com as costas protegias, poderiam somente ataca-la de frente. Então ela teria a oportunidade de fita-lo diretamente.

Os dois homens chegaram ao mesmo tempo. Não se podia imaginar que eram capazes de cobrir distâncias a uma velocidade incrível. Eles caminhavam lentamente. Possuíam o olhar voraz, um olhar transbordando do mar das eras. Um homem dourado como uma espiga de milho, os cabelos dourados, a pele branca. O outro com os olhos puxados, a pele clara, e o cabelo liso muito preto. Era uma espécie de homem que nunca vira. Em certa medida, assemelhava-se com os próprios súditos que possuía. Revelavam um parentesco distante.

Novamente, é impossível dizer o que conversavam, com suas linguagens e não-linguagens primitivas. Os homens, sem dúvida, falavam a língua do mundo. Não esperava que conseguissem conversar com ela. Por isso, sentiu certa surpresa quando eles começaram a falar nos idiomas antigos dos povos das américas.

— Procuramos por você há muito tempo. Dizia o homem louro. O outo mantinha certa distância, com os braços estendidos da frente do corpo, não demonstrava sua força tremenda.

— E com que objetivo? Trocar algumas palavras?

— Sem dúvida. Somos pessoas muito gentis.

— Vão cortar minha cabeça com gentileza também.

— Quem lhe disse que faremos isso?

— Vocês não me enganam. Eu sei o que fazem. Vocês nos caçam Vocês nos devoram. Consigo sentir o cheiro de vocês a quilômetros.

Os homens se olharam. Em seguida, usaram uma língua que ela não podia compreender. O homem de cabelos pretos sorriu. Devia ser algo engraçado.

— E mesmo assim, não nos evitou?

— não tenho medo de vocês. Se vão me matar, não são muito diferentes de mim. Espero que um dia façam o mesmo com vocês.

Eles começaram rir alto.

— Essa é uma questão interessante. Não há ninguém que seja capaz de nos caçar. Talvez os homens. Mas eles são completamente cegos pra nós. Nós os dominamos usando as ilusões que eles mesmo criaram: os deuses e o ouro. Com estes dois elementos, eles fazem tudo por nós, matam e morrem. Se oferecermos, além disso, sexo, então nossa formula é infalível.

— Eu também pensava assim até o dia em que vocês chegaram. Mas haverá um dia em que trocaremos de lugar. Não estarei aqui mais, gostaria de ver a cara de terror de vocês. Duvido que conservem tanta dignidade quanto sou capaz de manter. No dia em que os seus próprios devoradores chegarem...

— Bem, talvez se um dia vier um novo povo de um outro mundo, algum que fique além das estrelas. Mas acredito que você não faça ideia do que estou falando. Sabe? Eu acho muito interessante falar com você. Somos jovens também, então temos muito o que aprender. Fomos criados um pouco antes deste novo mundo ser descoberto. E fomos mandados pra cá, pelos nossos anciãos. E nossa vida é um tanto solitária, sabia? Nós nos sentimos muito sós. E entre o nosso lado e o de vocês, existem muitas semelhanças. Pelos menos existem mais semelhanças entre vocês e nós do que entre nós e os outros homens. Sem falar que esses encontros, assim como temos hoje nós e você, são raros. No começo, quando chegamos, e vocês não estavam preparadas, confesso que foi mais fácil. Hoje, todas estão muito cientes da situação. Possuem a mesma ideia que você. Parece existir uma ligação mais íntima entre vocês, entre a alma de cada um, como se compartilhassem um mesmo espírito.

— não existem espíritos.

Nandi e os Filhos de Hórus (Em Revisão)Where stories live. Discover now