Capítulo 04 - Caminho de Sangue - Parte 03

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Enquanto isso, longe das duas casas, próximo uma árvore alta, a jovem aguardava. Pouco tempo depois, seu amado chegou. Eles se beijaram apaixonadamente. Os corpos se apertando um contra o outro, beijos cheios de furor. Ele a agarrava com toda a sua força. Doía, mas ela não queria que ele parasse. Talvez essa força fosse capaz de amenizar parte da dor que sentia.

— Precisamos conversar. Você sabe que meu pai vai me mandar embora.

— Tem alguma forma de evitarmos isso? Como vamos fazer?

— Existe uma forma. Eu vou para a capital para estudar. Você poderia vir comigo.

— Deixar meu pai e minha mãe?

— Não tem outro jeito. Vamos estudar. Um dia, quando estivermos formados, poderemos voltar. Essa é a única maneira. eu tenho medo do que o meu pai pode ser capaz de fazer. Eu tenho medo por nós e por você.

Ele se afastou dela. Olhou para a grande árvore que estava a frente deles. Os passos de um homens dificilmente são planejados. Acontecem assim, do nada para o nada, para mudar a sua vida para sempre, sendo que sua vida nada significa. Seria mais fácil permanecer onde estava, mesmo que fosse para morrer aos poucos ou de uma vez.

— Eu não sei se consigo.

— Nós vamos conseguir. Estamos juntos. Podemos vencer qualquer desafio.

— Pra você é fácil falar. Mas pra mim, filho de agricultores, com um estudo pobre, sem ajuda, eu sinceramente não sei.

— Essa pode ser a nossa única chance. De fato, ela compreendia que não era a única chance dela. Mas podia ser a única chance dele, e ele não percebia. Como dizer isso a ele sem ofendê-lo, sem magoá-lo?

Aquele homem sentia-se preso aquela terra. Fosse pelas gerações que viveram ali antes dele, fosse pelas suas próprias memórias de infância. Devia ser fácil pra ela partir, ela que nunca tivera, nem ela nem seu sangue, relação tão estreita com aquele chão. Mesmo assim, passou a perceber que era necessário realizar aquela viagem, para que conseguisse resgatar o direito perdido há várias gerações de chamar aquela floresta, aquele campo, aquelas árvores, de suas. Os animais estavam estranhamente inquietos. Podia ouvir os cães chorarem aterrorizados.

— Tudo bem. Eu vou. Você vai primeiro. Eu vou aguardar um mês ou dois. É o tempo que tenho para conversar com meu pai, preparar minha família, reunir algumas coisas. Eu te encontro lá.

— Vou deixar o endereço com Estela. Ela vai te informar exatamente onde estou, porque não sei para onde vou ainda. Eles guardam tudo em segredo.

— Eu entendo. Eles estão decididos a nos separarem.

— Seriam capazes de coisas piores. Ela já devolvia aos braços do amado. Era um homem baixo, pouco maior que ela, mas era um homem robusto, e ela se sentia segura ao seu lado. Eles se beijaram novamente com furor, quando ouviram gritos desesperados vindo de uma das casas. Primeiro os gritos vieram da casa de Marcos. Eles ouviram assustados.

— O que foi isso?

Novos barulhos, de móveis sendo revirados, e novos gritos de desespero, que logo se extinguiram. Em seguida, os gritos foram ouvidos na casa de Laura. Os dois saíram correndo, para um para ver a própria família.

Quando chegou em sua casa simples, a porta tinham sido derrubada. Pela casa pequena, os vários corpos estavam espalhados pelo chão. Primeiro o corpo de sua irmã pequena, de pois o corpo de sua mãe, e por último o corpo de seu pai. Todos apresentavam a um ferimento profundo no pescoço, os corpos retorcidos, como que arremessados por qualquer animal feroz. Ele não teve tempo sequer de gritar. Ouviu os gritos da namorada na outra casa, e correu pra lá.

Marcos entrou na casa de Laura e correu para onde ficavam os quartos dos irmãos dela. Laura estava ajoelhada no chão, em estado de choque. Os corpos dos três rapazes estavam jogado no chão, com os pescoços dilacerados. Do outro lado do quarto, a mãe de Laura fora arremessada contra a parede, e corpo dela estava retorcido de costas, com a cabeça completamente virada pra trás, a mandíbula completamente aberta, escancarada, provavelmente quebrada.

— Mataram minha família. Minha família está toda morta.

— Calma, Laura. Minha família está morta também. Vamos fugir daqui o mais rápido possível, ou vamos morrer também. Ele a arrastou para fora. Ela tinha perdido as forças das pernas. Tremiam, e ela não conseguia andar. Nós vamos morrer, ele pensava. Eu vou morrer, pensava ela.

Eles saíram pela porta da frente e foram se esconder na parte de trás da casa. Marcos olhava para todos os cantos. Quem teria feito aquilo. Se fosse um animal, ele iria atrás deles. Mas que animal faria aquilo? Era um ataque de uma onça? Mas pular de casa para a outra? matar todos? Ter força para arremessar a mãe de Laura? Também não poderia ser uma pessoa. E se fosse, teria que ser um homem muito forte. Talvez eles tivessem uma chance se fosse uma pessoa.

Olharam para todos os lados e não viram ninguém. Quando saíram da casa, Marcos conseguiu ver a chave da caminhonete da família sobre um suporte, perto da porta. Ele as pegou, e agora pensava em levar Laura para o carro e fugirem. Ele aguardava na parte da frente. Eles teriam apenas que entrar nele e acelerar o máximo possível para pegar a estrada.

Nandi e os Filhos de Hórus (Em Revisão)Where stories live. Discover now