Capítulo 20

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Nandi decidiu sair imediatamente de Macapá. Ela precisava ir o mais longe possível de seu filho e do túmulo de Shinobu. Deveria se afastar rápido e chamar a atenção. Seguiu pela estrada que ia para o interior. O Estado era uma ilha. De um lado havia o amazonas e o oceano, do outro, a floresta densa e os rios.

No começo a estrada possuía asfalto, mas logo, foi substituído por um chão nu e vermelho. Eram estradas de sangue. Movia-se a uma velocidade que não era percebida pelos humanos. Quando encontrava automóveis pela estrada, afastava-se e seguia caminho por dentro da mata agressiva, entre pedras e espinhos. Passou diante de casas a beira da estrada com a luz amarela brilhando na noite.

Rapidamente o céu ficou denso. Na noite, quando as nuvens ficam carregadas pela tempestade, o céu brilha, e tudo parece claro. Caiu uma chuva torrencial, e a estrada de terra transformou-se rapidamente em um mar de lama. Os carros paravam a beira da estrada aguardando a chuva passar, e quando a chuva reduzia, não era possível vencer os atoleiros.

Nandi avançava. Ficou coberta de lama. Sua velocidade desenhava sulcos profundos no barro, e os pingos de chuva batiam contra ela como uma avalanche de pedras.

Poucas horas foram suficientes para chegar até uma cidade a beira de um rio largo. Não era uma cidade rica. As ruas precárias, as casas mal iluminadas e fechadas. E mesmo assim, havia uma cheiro de maldade no ar. Ao longo do rio, uma outra cidade se erguia, de casas suspensas sobre as águas por cima de vigas de madeira e passarelas. Parecia um grande cortiço a céu aberto. Nandi imaginou que durante o dia, devia imperar um cinza deprimente, que era o aspecto da madeira gasta pelo sol e pela chuva. As pessoas eram como vermes se remexendo num tronco pobre e árvore.

Mesmo avançado na noite, a movimentação era expressiva. Homens andavam na rua de um lado para o outro. Procuravam bebida e mulheres. Muitas andavam entre as pontes de madeira oferecendo seus serviços, guiavam seus clientes para quartos escondidos.

Nandi andou na escuridão. Evitou os poucos focos de luz. A madeira rangia debaixo de seus pés. Em determinados trechos, esgueirou-se por trás de construções de madeira, e galgou por baixo das casas, próxima a água suja que cheirava a esgoto. Seguiu para uma casa afastada, onde um grupo de homens se reunia ao redor de uma mesa com várias garrafas de bebia por cima. A escuridão a levou até lá, assim como o cheiro de maldade. Parou do lado de fora e se pôs a ouvir.

— vamos ouvir o zeca. Ele vai nos contar como foi lá.

— Foi muito fácil. — Ele ria — Eu cheguei na casa dos velhos, os bestas. Disse que eu tinha uma casa de família pra menina deles trabalhar. Eles me entregaram a menina, os bestas. Logo na primeira noite eu conferi o material. Ela era virgem. Era! — Ouviram-se outras gargalhadas. — Eu trouxe a maiorzinha. Tem outras duas na agulha esperando. Eu disse que voltaria para pegar as outras duas.

— Eu quero experimentar essa novinha, Zeca. Antes que ela fique foló.

— Tu vai ter que correr. Ela está atendendo os clientes a todo o vapor.

O grupo caiu na gargalhada novamente.

Nandi sentiu o cheiro deles. Talvez um apenas servisse. O sangue dos restantes era imprestável. Mas ela precisava realizar uma chacina o mais rápido possível. Então perceberiam que ela estava em movimento e qual era a sua direção.

Um dos homens saiu para urinar no lado de fora sobre as águas. Ele ainda ria lembrando das histórias. Nandi o erguei do piso de madeira e abriu seu pescoço rapidamente. Ela o reteve o ar e tapou sua boca, enquanto o chorava sobre o rio. Quando ele parou de se mexer, se aproximou novamente da casa o arrastando como um saco de lixo. As mãos apertaram o pescoço entrando na carne. O sangue sujava a madeira deixando um caminho vermelho. Eram apenas quatro homens. Seria rápido.

Nandi e os Filhos de Hórus (Em Revisão)Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum