Capítulo 15

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A viatura se aproximou lentamente de um viaduto escuro. Próximo de um acesso havia alguns restos de lixo sendo levados pelo vento. Dois policiais militares desceram. Um deles sivia uma barriga protuberante derramando para fora da calça apertada pelo cinto abaixo da circunferência. Pela abertura da camisa, por entre os botões, ele coçava, a sensação incômoda do volante contra a gordura.

Do outro lado desceu um homem com os braços muito fortes, quase rasgando a camisa. Contrastava seu tórax robusto com suas pernas muito finas. Ele trazia uma garrafa de shake e tomava seu conteúdo, balançando muito, com certa vaidade ao ver os braços definidos.

— Esse negócio vai te matar. — Disse o policial que dirigia.

— O que vai te matar é essa tua barriga.

— Ela me acompanha a mais tempo que você, e ela vai continuar aqui quando esse veneno fizer parar os teus rins.

— Fala isso pro teu coração. Eu consigo ouvir as artérias entupidas como a descarga de um carro velho.

Eles foram interrompidos por uma ratazana que correu como uma bala, estourou o galope feito um cavalo, saindo de um monturo de lixo. Pararam por um momento e em seguida seguiram para dentro da dentro da escuridão.

Assim que adentraram mais, o policial musculoso cuspiu o que tinha na boca. Seu copo de shake caiu no chão. Ele gritou:

— Puta que pariu! Que porra é essa?

Falava com uma das mãos sobre a boca, como se fosse se contaminar com qualquer bactéria ou vírus terrível.

— Deixa de viadagem, porra! Parece que nunca viu um defunto.

— Um corpo? Eles tocaram o terror. Mataram geral aqui. Deve ter uns dez corpos.

— Verdade! Não deve ser o nosso pessoal. Eles fizeram a maior cagada.

— Olha esse negócio aqui. Rodou até criança, meu! Eles pegaram pesado.

— É, meu amigo! No meio da guerra não tem esse negócio de criança. Tá na frente do cano, leva bala.

— Não teve bala aqui não, meu! Olha só! — e o policial musculosos deu um chute numa cabeça estendia no chão. — Eles mataram o povo na braba. Olha só essa brecha que abriu no pescoço dessa senhora! O que foi isso? Uma foice?

— Realmente! Rolou um festinha aqui.

Os dois policiais permaneceram alguns instantes comtemplando a cena. Os vários corpos espalhados de mendigos. Davam a impressão de que um trator tinha passado por ali. Alguns homens a um canto. Mais adiante, uma mulher com sua filha. Os dois corpos revirados. Juntos não eram capazes a compor qualquer cena comovente. Eram apenas corpos com as cabeças e os pescoços destroçados. Não havia qualquer conexão entre eles.

Os policiais temeram por suas vidas. Preferiam não encontrar os responsáveis. Não imaginavam por que haviam alterado o modus operandi. Se o objetivo era matar, por que não o fazer a tiros? Qual o prazer de matar as pessoas a golpes com as próprias mãos? Havia, sem dúvida, todo o tipo de pessoa na polícia. Alguns encaravam aquilo como um trabalho apenas. Outros realmente sentiam prazer em matar.

— Precisamos contar para o comandante. — disse o policial musculoso.

— Pra quê?

— Tem algo estranho nessa porra. Não está certo.

— Deixa de ser frouxo. Tu é um viadinho. Está com peninha desses filhas da puta? Não sei quem fez essa merda. Mas eles limparam a área. Fizeram um favor pra nós. Se não fossem eles, outros fariam o serviço.

Nandi e os Filhos de Hórus (Em Revisão)Where stories live. Discover now