Capítulo 03 - Parte 03 - Roza e Cruz

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A máquina funcionava de forma tão perfeita, que teriam condições de perpetuarem suas atividades por mil anos, consumindo estagiários e enterrando advogados, e produzindo saldos em paraísos fiscais para satisfazer a sede dos donos. E saber que aqueles homens eram insaciáveis, fazia com que Pan esfregasse uma coxa torneada na outra.

— Temos plena confiança que sua sensibilidade vai garantir a perpetuação de nossas atividades. Gostaria muito de discutir alguns casos com você.

Pan tinha se preparado para aquele momento. Aquela era mais uma paixão de seus empregadores. Eles pediam que ela cuidasse pessoalmente de alguns casos para eles. Ela deveria acompanhar os casos e identificar alguns que reunissem certas condições. Aos poucos foi desenvolvendo a sensibilidade necessária para saber o que eles queriam, que nunca fizeram questão de explicar. Gostavam de assassinatos sem solução, mortes violentas, em que a vítimas reuniam fraturas, possuíam ferimentos profundos no pescoço, ou tivessem sido degoladas, por golpes de instrumentos cortantes ou objetos não identificados, que os legistas podiam dizer que eram machados, ou foices, na maior parte das vezes, homens jovens. Para tanto era obrigada manter correspondentes espalhados pelo mundo, que lhe informavam sempre que aparecia um caso que se encaixava nos seus critérios.

— Senhor, reunimos alguns casos interessantes. Estou à disposição para discutir com Vossa Excelência.

— Chamou minha atenção este assassinato de um homem idoso, na casa dos 43 anos, nesta cidadezinha inexpressiva. Ele foi encontrado em um quarto imundo de um cortiço. O que me intriga, é o fato de pelas fotos, havia roupas de uma criança, mas esta criança não foi encontrada.

— Achei esse caso curioso também, Senhor. Roupas de uma menina de 08 a 10 anos. Alguns fios louros. Mas sem registros dessa criança, se era sua parente, sua filha, ou sua neta. Este escapa um pouco dos nossos padrões.

— Há outros casos também na mesma localidade.

— Sim. O assassinato de um membro de uma ingrejazinha de bairro, aquelas igrejas evangélicas barulhentas. Foi na mesma cidade. O homem sumiu numa noite, e um dia depois encontraram seu corpo num terreno baldio a dois quilômetros de distância.

— Existem outros casos?

— Gostaria de destacar um caso que identificamos na Colômbia. Um homem, fora encontrado degolado dentro de uma casa. A família inteira foi morta. Sua mulher, seus dois filhos, e uma criança no berço. Todos foram degolados.

— Esse é interessante.

— Tem mais um. Novamente algo parecido com um degolamento, no interior de Pernambuco. Novamente uma família inteira. Eles moravam em uma casa afastada de uma comunidade rural. Os vizinhos tem medo de se aproximarem do local. Dizem que as terras são amaldiçoadas. Também não há suspeitas. Era uma família que participava das atividades religiosas, e tinham boas relações com sua comunidade. Não há sinais que tivessem desafetos que motivassem tal crime. Todos falam que eram muitos queridos, apesar da pobreza. Há uma espécie de rastro de mortes. Vários animais mortes no raio de vários quilômetros. Alguns sugerem a atuação de psicopata, ou de um doente mental. No entanto, a forma com ele se move é inconstante. Há saltos, trajetórias improváveis, assim como a velocidade de deslocamento. Só podem imaginar que ele se move de carro. São somente pontas de mistérios que não conseguem ligar. Muitas vezes essas mentes doentias realizam feitos que os aproximam de verdadeiros demônios.

— Não sabia, Senhora Pan, que acreditava em demônios.

— Acredito em pessoas. Pra mim é suficiente.

Atlas, que permanecia silencioso enquanto Heitor falava, olhando por trás de sua grossas sobrancelhas, interviu:

— Senhora Pan, os casos que nos trouxe são muito interessantes. Você se importaria de providenciar passagem e hospedagem para os referidos locais. Gostaríamos de acompanhar estes casos pessoalmente. Se possível, gostaríamos de partir hoje mesmo.

— Sem dúvida, Vossa Excelência. Gostaria somente de saber qual o trajeto. Para qual lugar gostariam de ir primeiro, e de onde para onde.

— Vamos primeiro para Pernambuco. Disse olhando para um mapa aberto na tela do computador. De lá, fazemos questão de ir para a Colômbia. Depois voltamos para esta cidadezinha com nome esquisito. Como se chama mesmo? Pelo o que percebo, é dentro de uma área metropolitana.

— Ananindeua, Senhor.

— Sim. Foi lá que o senhor foi encontrado morto? No quarto com indícios de que havia uma criança com ele? Esse lugar vamos visitar por último. De todos os casos, esse é o que mais foge dos nossos padrões. Mas como houve outras mortes no local, vamos verificar este por último. Obrigado, Senhora Pan. A Senhora pode se retirar.

— Vou providenciar suas passagens imediatamente.

Nandi e os Filhos de Hórus (Em Revisão)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora