Araragi - Parte 01

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Nandi dormiu o dia inteiro. Em um quarto de uma casa distante que alugara, tinha a tranquilidade de dormir o dia inteiro. Quando acordou, Shinobu esperava por ela do lado de fora do quarto. Por algum motivo a criança tinha limpado e casa e feito alguma comida. Sentou à mesa e pôs-se a olhar a criança comendo. Em determinado momento, levantou e foi pentear os seus cabelos. Pegou uma escova e pôs-se a mexer no cabelo de Shinobu, que aos poucos foi adquirindo algum brilho. Tinha um anjo em casa, muito quieta. Parecia que podia ser devolvida a qualquer momento, e isso a aterrorizava.

— Você tem família?

— Não tenho mais.

— E quem era aquele homem.

— Aquele que você matou?

— Quem mais?

— Houve muitos outros. Ele era meu dono. Eu fui vendida.

— e o que sou agora?

— Minha nova dona. Você matou meu dono e ficou comigo pra você.

— Isso quer dizer que eu posso fazer o que quiser com você?

— Sim, minha senhora. O que você quiser.

— E seu e quiser devolver você?

— Seria impossível minha senhora. A senhora matou meu antigo dono. Ele não pode mais me receber.

— Não quis dizer isso, mas para a sua família.

— Eu já disse. Eu não tenho família. Eu tive apenas donos. Eu fui vendida. Você pode me abandonar, ou me vender de novo. Mas devolver é impossível.

— E você? o que quer?

— Eu queria morrer. A senhora pode fazer isso, se quiser. Mas eu preferiria ficar por aqui.

Nandi tinha terminado de pentear o cabelo da menina. A casa era ampla e clara, embora modesta. Quem olhasse de fora, vendo uma mulher dormir o dia inteiro, e sair à noite, diria que se tratava de uma prostituta. Onde morava, não precisava de um carro. Com os poderes de vampiro, podia ir a qualquer lugar em alguns instantes. Longas distâncias e milhas não significavam nada pra ela. Tudo precisaria mudar com a chegada de Shinobu.

Naquela casa, já estava a algum tempo. Em breve chegaria o momento que teria que mudar. Depois de duzentos anos, passava cada vez mais tempo em um lugar somente, o que começava a ficar perigoso. Com o tempo, passava a cada vez ligar menos. Ter uma criança, no entanto, não era um perigo que podia ignorar. Uma mulher negra, com uma criança loura, em breve poderia chamar a atenção. Se recebesse a polícia, não teria como explicar suas origens, sem documentos. Além disso, todas as informações que chegam a polícia também chegam aos seus caçadores.

— me leva com você!

— Levar comigo? Você tem ideia de quem eu sou? Você tem ideia pra onde eu vou?

— Eu sei. Você é um anjo. E eu sei por onde você anda. Você me tirou de lá. Lembra?

— Estou longe de ser uma anjo, minha querida. Eu sou somente uma vadia. E você é a minha putinha.

Shinobu então começou a rir.

— Falando sério. Eu sou uma vampira. Você não pode andar comigo. Não preciso explicar nada depois do que você viu. Realmente seria mais fácil matar você, mas é contra o meu princípio matar putinhas lindas de olhos claros.

— Então me diga, minha senhora vadia. Devo ter medo de quê? Devo ter medo da senhora? A Senhora mesmo disse que não vai me matar. O que pode ser mais perigoso que uma vadia?

— Poucas coisas são mais perigosas que uma vadia, devo confessar. Mas existem. Os vampiros não estão no topo da cadeia alimentar. Existe uma criatura ainda mais perigosa, não para os seres humanos, mas para nós, porque somos seus alimento, como vocês humanos são o nosso.

— então eles são os mocinhos?

— Não são mocinhos pra ninguém além de si mesmos. Eles não se alimentam de homens, mas não ligam pra eles. Se for necessário, eles passam por cima de você também. Não há mocinhos nessa história. Eu sou mocinho pra mim. E o sou pra você, enquanto não a devorar. Então venha comigo.

Num primeiro momento eles foram para a rua e Shinobu andou de mãos dadas com Nandi. A noite avançava, e foram comer algo. Uma parte afastada da rua, aconchegaram-se a uma barraquinha de hambúrguer. Shinobu adorava o cachorro quente que faziam com carne moída, milho e ervilha e repolho. Comeram mais um pouco lá. A mulher observava. O homem estava ocupado na chapa e servindo as pessoas. Ninguém prestava atenção nelas.

— E como você faz para comer? Você bebe sangue?

— Sim. Geralmente é assim que funciona.

— mas não pode comer outra coisa?

— Posso? Mas não funciona. Não mata a nossa sede.

— E como era a sua vida anterior? Você nasceu vampira?

— Ninguém nasce vampiro. Pelo isso é no que se acredita. Mas não se tem memória de vidas anteriores. Os antigos ou sumiram ou se recusam a falar. Esconderam-se nos breus mais recônditos.

— Recom, o quê?

— Eles sumiram. Ou melhor, elas sumiram. Eu fiz parte de uma das últimas que foram criadas. Isso foi a trezentos anos. Desde lá, vi tudo o que aconteceu neste mundo.

— não tem problema você me contar essas coisas.

— Que problema? Se você quisesse contar para alguém, para quem contaria? Além do mais, as informações que eu estou te passando são de conhecimento de todos os demônios que vagam pela terra, sejam vampiros, ou sejam filhos de Hórus.

— Filhos de Hórus?

— Sim. São nossos predadores.

— Eu não consigo imaginar que tenha uma criatura mais forte do que você.

— Não existe. Eles não são tão mais fortes do que uma vampira. Mas eles se alimentam de nós. Então eles encontram um caminho para sobreviverem. Mas o mundo está mudando. Nós estamos sumindo. E em breve, não sobrará nenhum de nós.

— e porque motivo?

— Os filhos de Hórus pesquisam a respeito. Nós, vampiros, não ligamos. Venha comigo. Você comeu. Agora é minha hora.

Nandi e os Filhos de Hórus (Em Revisão)Where stories live. Discover now