Capítulo 09 parte 06

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— Não tem como eu saber. Disse, tentando ser doce, amenizando suas palavras com um sorriso. Pensou se ela sentia o mesmo, se entendia sua vontade de tomar sua mão. Ela percebeu quando ele olhou para suas mãos. Elas consolavam-se uma a outra. — Está com frio?

— Um pouco! Era mentira. Imaginou se seu tremor era aparente.

Ele pegou-lhe a mão. Ela parecia tão frágil, e se aproximou para a tomar nos braços, quando ouviu a voz os passos de alguém que se aproximava. Pensou que seus ingratos senhores tinham voltado. Mas logo percebeu que havia lago de errado. Os passos eram de apenas uma pessoa, que se aproximava como um felino, um barulho aterrador de pedras rolando.

— Os tempos mudaram.

Era uma voz desastrada, de uma pessoa que não tinha aprendido a língua direito, e falasse com um sotaque carregado, de uma pessoa que não conhece a entonação da língua, e fala igual a um robô.

A mulher andava descalça. As roupas estavam esfarrapadas, mas era uma mulher linda. Parecia saída daquelas revistas de bodybilder.

— Senhora? O que faz aqui? A senhora não sabe que este é um lugar extremamente perigoso. Rita dizia, um misto de piedade e conforto, estendendo uma das mãos, como se estivesse prestes a tocá-la. Deu alguns passos, tropeçando entre as pedras com o sapato de salto. O terreno lhe dava a impressão de ser uma aranha desengonçada. Estava prestes a chegar na figura daquela mulher deslumbrante e abandonada. Deveria ser louca. Moraria naquele fim de mundo? Se fosse louca, linda daquela forma, deveria ter sido violentada várias vezes. Quando a mulher simplesmente desapareceu.

— Rita, gritou Cristiano, saia daí!

Uma animal medonho se abateu sobre Rita. O impacto do monstro sobre a mulher fez com que seu corpo fosse destroçado, e ela ficasse retorcida no chão, como uma pessoa que um caminhão passou por cima. Cristiano ouviu somente o som dos ossos se quebrando como uma bolacha, e em seguida o som de alguém devorando algo suculento. Era o animal que arrancava lascas profundas do pescoço daquilo que a poucos segundos era uma mulher, e empapuçava-se de sangue.

Cristiano caiu prontamente no chão, sentado, e logo em seguida tentou se afastar empurrando as pernas nervosa e descontroladamente. Mais um segundo, e o terror misturou-se com uma curiosidade mórbida, para quase no mesmo instante, ser tomado de um terro maior ainda, ao perceber que o animal que devorava o corpo de rita, era a mesma mulher que lhes tinha aparecido, arreganhada sobre o chão, as pernas afastadas em ângulos impossíveis, a bocarra abertas até o limite da loucura.

Tomado do horror, Cristiano levantou-se aos tropeções, apoiando-se no chão com as mãos, que ficaram completamente sujas de terra, as unhas cheias de barro. Quando saiu em disparada, trombou com Heitor, que o reteve nos braços.

— Heitor! Corra! Aquilo é um monstro. Ele vai matar a todos nós. Gritava Cristiano desesperado. As lágrimas caíam em abundância, o rosto de formado pelo horror e pelo medo. Heitor sorria, de forma tão doce, que encheu Cristiano de emoção. Ele pousou o amigo desesperado no chão, sem violência, de forma tão suave, que Cristiano sentiu como se alguém o pousasse sobre uma almofada. A sensação durou somente o momento em que ele sentou. Logo em seguida, foi tomado pelo desconforto das pedras contra as nádegas, e levantou-se procurando se recompor.

Heitor seguiu em frente calmamente. A bengala que trazia, ornada com um leão no suporte para a mão, de uma madeira muito clara, deu lugar a uma longa lâmina que tinha permanecido oculta. Ele estendeu para o lado de forma elegante, como quem se prepara para uma competição de esgrima.

Do outro lado do caminho, no alto da elevação, Cristiano podia perceber um homem que, apesar a escuridão e da impossiblidade de distinguir o rosto, tinha certeza que se tratava de Atlas. Ele também exibia uma longa lâmina, sem elegância. Apenas uma espada pesada. Poderia ser simplesmente um açougueiro.

O monstro ergueu a cabeça e olhou para Heitor. Tinha o olhar feroz e ensandecido, tomado por euforia. Falou com aquela foz mecânica e sem entonação, igual a um relógio.

— Tu não perdem a mania de andar com os homens.

— Eles são úteis. Não posso negar.

— Servem de quê a Tu? Sentis o cheiro? Estais pra fome? Escuto tuas vísceras ranger! E começava a gargalhar.

A esse instante, Cristiano já tinha desabado novamente no chão. Perdera a força das pernas. Ele desabou assim que ouviu aquela gargalhada sinistra. Ao mesmo tempo, o que poderia pensar de seus patrões agindo de forma tão natural? Eles se conhecem? Aquele animal é o verdadeiro motivo daquela caçada? E sendo uma criatura tão terrível, capaz de destroçar um ser humano tão facilmente, que arma teriam para lhe opor? Que segredo guardavam?

— Esse seu sotaque de grego estraga qualquer piada. Observe bem, seria de muito bom gosto se você simplesmente colaborasse. Você sabe. Este é o nosso destino. Você se alimenta de humanos, e nos alimenta. A natureza nos fez assim. Ela nos aprisionou nesta corrente. Não há como nos dissociarmos disso. Os homens nos servem de escravos, e nós os usamos para as caçarmos, como cães, como minhocas, minhocas gordas e indefesas, contra as ratazanas do mundo. Nosso interesse, deixe eu explicar bem, não é vingar os homens. Acho que você tem plena consciência disso. Vocês sequer são o maior mal que assola a humanidade. A humanidade é um mal para si mesma. Mas o estrago que vocês fazem é tão pequeno, que os humanos nem se importam. Eles são acostumados a morrer, morrer aos milhares, morrer aos milhões, de uma tacada só. Com um único golpe. Numa única noite. Ninguém liga para as azeitonas que escorregam da cesta. Sabe, como mensageiras da morte, vocês são de fato muito incompetentes. Por isso, creia em mim, vocês são desnecessárias, dispensáveis para a humanidade. Talvez no passado, até servissem para manter o equilíbrio. Mas o equilíbrio está perdido. Se existe uma razão de ser, um motivo, que justifique esta sua existência, que julgo, confesso, sequer agradável, seria nos servir. Venha, curve-se, me ofereça o seu pescoço, e juro que o vou cortar de forma rápida e limpa. Não vou desperdiçar uma gota de sangue sua. Tanto deveria te deixar orgulhosa. Porque nós a consideramos extremamente valiosa, ao contrário dos homens, que não dão a mínima pra vocês. Sequer sabem que vocês existem.

— Escuto lixo! Tua é umaraça de carniceiros e covardes. Porque tu não me enfrentas sozinho? Tu precisadeste teu macho pra te ajudar?

Nandi e os Filhos de Hórus (Em Revisão)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora