Capítulo 23

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Capítulo 23

O veneno se dissipou no corpo do demônio. Cristiano observava o aspecto debilitado atenuar. Ainda assim, não era a mesma criatura. A pele adquirira um tom pálido equilibrado, como uma escultura de pedra. Os cabelos estavam grisalhos. E o rosto apresentava rugas de um homem maduro. Apesar de gerar certa estranheza, ainda era um homem atraente. A seu modo, até mais. Sua aparência estava mais de acordo com o peso dos anos. A bengala, antes inútil, agora ajudava a firmar os passos incertos, e certa fraqueza nos quadris.

O jovem advogado não se enganava. A criatura ainda era perigosa. Por trás de seus olhos, que aos poucos tinham retomado a vivacidade, escondia-se um pensamento veloz. Ele podia perceber. Sua lógica rígida continuava avançando e juntando as informações.

Eles tinham noção do destino da vampira. Ela abandonara a cidade imediatamente. Foi para uma cidade na fronteira do estado, em que matou outras vítimas. Depois desapareceu. Aparecia novamente em outra cidade, onde matava mais vítimas. Esta vampira era singular. Evitava mulheres. Matava sempre homens. Ás vezes fazia isso em bairros periféricos. Outras vezes em bairros nobres. Ficava claro que decidira chamar a atenção. Ainda assim, seu trabalho era sistemático. Agia de forma que era sempre possível definir sua movimentação, mas seria complicado antever seus movimentos.

Ficou mais estranho quando receberam notícias de que ela estava na cidade do cabo, na África do sul. Gerou estranheza maior quando chegaram notícias de que não estava sozinha. Havia relatos de uma jovem com traços asiáticos andava com ela.

Cristiano não imaginava que sua caça podia pegar um avião e atravessar o Atlântico. Havia certa expectativa de que elas fossem espécies de bestas, de feras. Deviam escapar a racionalidade, algo tão presente em seus empregadores. Mas estava enganado. As duas criaturas, caça e caçadores, não eram tão diferentes, o que o fez se sentir abalado pelo terror.

Esperava pegar um voo imediatamente para o extremo da África. Não foi o Atlas fez. Achou estranho quando ele fretou um jato para a Itália. Pensou novamente, surpreso, que deveriam ir pra Roma. Criaturas ancestrais deviam ter assuntos para resolver nas áreas mais antigas da cidade. e mais uma vez se enganou. Seu destino era Milão.

Andou pela cidade repleta de prédios elegantes e baixos. Entre os ricos havia esse mundo formado como pequenas cidade e vilas. As ruas estreitas repletas de carros caros. As pessoas desfilando diante de vitrines de lojas de alto padrão. Tudo era muito diferente daquele mundo perdido entre torres de pedras. Havia certo ar bucólico na cidade. Pararam diante de um hotel com nome de mandarim. Era estranho vir a Itália para ficar num hotel que lembrava o China. Se fosse a Pequim, certamente encontrariam o melhor hotel italiano. O mundo era palco daquelas contradições.

Não foram parados na portaria, não fizeram chekin. Simplesmente rumaram para um quarto na cobertura do prédio baixo. Era mais amplo do que os apartamentos que conhecera. Tudo era disposto para conferir a sensação de refinamento e conforto. Havia reserva para apenas um quarto. Ainda que amplo, havia somente uma cama. Não tinha parado pra pensar ainda, mas tudo indicava que dormiriam juntos.

Desde que voltaram, não chegaram a conversar detalhadamente sobre o que acontecera. Atlas não fez menção a tentativa de violência. Desde que voltaram, sequer o tinha tocado. Ele permanecia todo o tempo na sede do escritório. Ninguém entendia como ele não ia dormir na própria casa. Era impossível. Ninguém poderia supor, mas poderiam ter a impressão de que por vários dias, não se levantara de sua cadeira.

Cristiano sabia a verdade. Ele não se movera de lá por dias consideráveis. Permaneceu sentado em sua cadeira, balançando levemente de um lado para o outro, de vez em quando, como que agitava um líquido precioso num recipiente de vidro.

Nandi e os Filhos de Hórus (Em Revisão)Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin