Capítulo 03 - Parte 02 - Roza e Cruz

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Mais tarde, depois de entrevistar todos os candidatos, Pan atravessou o escritório, e chegou a porta da sala que ficava no último andar. Quando o elevador abriu, uma recepção branca e espaçosa se revelou. Uma mulher jovem e loura, os olhos castanhos, a pele levemente bronzeada, recebeu Pan com um sorriso.

— Boa tarde Senhora Pan. Os Sócios aguardam pela Senhora.

— Obrigado Letícia. Pode me anunciar?

— Eles me pediram para que Vossa Excelência entre imediatamente. Não há necessidade de anuncia-la.

— Agradeço, novamente. E seguiu com seu passo apressado, os sapatos marcando ritmo sobre granito. A porta se abriu e encontrou os dois sócios, cada um em sua mesa. Um olhava a tela enorme de um computador, e o outro folheava um livro.

Heitor era louro natural. Tinha as madeixas longas em um tom de louro escuro. Os olhos azuis, o nariz bem desenhado, a barba bem feita, era quase feminino. Usava um terno creme, e a gravata marrom escuro. Atlas, do outro lado da sala, era um homem com a pele morena, os cabelos negros e lisos, os olhos possuíam um tom prateado. Usava um terno escuro, a camisa branca a reter na gola uma gravata dourada. Eram os herdeiros dos sócios originais, com os quais guardavam espantosa semelhança. As más línguas diziam que os dois eram amantes. Se fosse verdade, acharia o fato mais natural do mundo. Ela mesma se deitaria com qualquer um deles, ou com os dois. Traziam o estranho hábito de carregarem cada um a sua bengala, sem terem qualquer problema ou precisarem de apoio. Julgava que esse deveria ser um costume que adquiriram quando moraram na Inglaterra. Os ricos têm o direito a certas extravagâncias.

— Pandora. Como foram as entrevistas de hoje? Perguntou olhando fixamente para sua empregada, as mãos com os dedos unidos na frente do rosto, os cotovelos sobre a mesa.

— As faculdades, Senhor, como sempre, despejam um monte de tranqueiras no mercado. Mesmo assim, há candidatos promissores.

Ela podia jurar que ele percebia o quanto o desejava. Seu olhar revelava que ele sabia algo, alguma verdade profunda, que devia passar pelos seus apetites e desejos. Os olhos moviam-se de forma muito rápida. Pareciam fotografar cada atitude sua: sua respiração, seus peito arfando, as curvas de seus pescoço, desde o sapato que usava, até a dobra da saia.

O escritório não se restringia a carteira criminal. Um escritório grande geralmente atua em várias áreas. O escritório possuía uma certeira trabalhista, uma carteira civil e empresarial fortíssima, assim com uma carteira especializada em família e sucessões. Todas as áreas despejavam rios de dinheiro na sociedade.

Apesar de todo o sucesso empresarial, os investimentos da sociedade, não se limitavam a advocacia. Prestavam serviços para os sócios um exército de administradores que tinham como única função multiplicar a riqueza dos contratantes. E nem sempre os negócios podiam ser considerados lícitos. Mesmo os lícitos, transitavam entre zonas cinzentas, em que era quase inacreditável que tais manobras fossem legais. Tais encantadores de fortunas compraram ouro ilegal na Amazônia, ou terras sem título, forjando documentos falsos para explorar soja e expulsar famílias ribeirinhas, vendiam remédios que nunca eram entregues em prefeituras perdidas em buracos jamais imaginados, e muitas outras formas inimagináveis de fazer dinheiro, de forma legal ou nebulosa, sendo a maior parte imoral.

Mesmo assim, a intuição de Vitório estava correta. A razão de existir da firma era a carteira criminal. Ela drenava a maior parte dos recursos da sociedade. Gastavam sem dó os milhões produzidos e roubados da boca de crianças famintas. Assim como consumiam os advogados mais competentes, era também o reduto mais competitivo, o mais selvagem. Todos sabiam: quem administrasse a carteira, teria acesso direto aos Homens, ao seu luxo, e ao seu glamour.

Nandi e os Filhos de Hórus (Em Revisão)Where stories live. Discover now