Destino é Tudo.

3.1K 523 228
                                    



Fazia algum tempo que não conseguíamos água. E na noite anterior todos estávamos contentes com a descoberta de comida que nos fartamos de carne salgada. Ao acordar eu já sabia que nossa prioridade do dia não seria encontrar as marcas que faltavam, mas sim uma fonte para beber. Caminhamos mudos, minha língua grudando no céu da boca, os lábios secos e rachando. Até Emilian, que sofria menos nesses assuntos fisiológicos, reclamava de sede. E foi ele mesmo quem parou no meio do caminho, eu o encarei.

– O que? – Perguntei a voz saindo rouca de pouco uso.

– Shhh.

– O que foi aí atrás? – Perguntou Liandra parando a marcha.

– Silencio, por favor. – Pediu Emilian, ele inclinou a cabeça, correu pela caverna e virou num caminho escuro.

Corri atrás dele e pedi que Liandra viesse com a tocha e quando ela iluminou o lugar vimos Emilian agachado, bebendo de uma pequena poça d'água numa pedra, Liandra arregalou os olhos e sorriu ao ver que a água escorria pela parede, uma nascente.

– É água, água boa. – Disse ela alertando todos.

Ficamos felizes e uma fila natural formou-se. Eu e Liandra que estávamos perto fomos as próximas a beber e Cecilia veio logo depois. Na inocência a menina tirou as luvas para não molha-las e meteu a mão nua na água assim como fizeram antes dela. Cecilian se esbaldou e todos a encararam não acreditando no que viam.

– Ah, delicia. – Disse ela levantando com a boca molhada e sacudindo as mãozinhas. – O que?

– Cecilia. – Eu disse a olhando preocupada.

– Como o que?! – Gritou Fidlian furioso ele se aproximou e empurrou Cecilia. – Ocê estragou a água.

Cecilia olhou pras próprias mãos entendendo o que tinha feito e seus olhos se encheram de lagrimas, o rosto ficando vermelho com a vergonha.

– Sinto muito eu...

– E agora o que vou beber?

– Me desculpe mestre Fidlian eu...

– Desde que andamos com ela – Começou Davel também furioso. – começamos a ter azar, não encontramos mais nenhum sol, e agora isso.

– Chega. – Pediu Liandra.

– Mas capitã, o que vamos beber?

– Se querem beber façam como eu. – Liandra pegou um pano e o encharcou com a água que brotava da parede e depois o torceu na boca.

Davel bufando pegou o pano de Liandra e a imitou encarando Cecilia que ainda sentada no chão olhava os próprios pés, sabia que ela estava chorando e a levei para um canto. Antes de sair vi Ivna e Sará bebendo água com um pano e não direto da poça. Coloquei a tocha espetada num canto de terra e me sentei com Cecilia, só nós duas, ela chorava sem fazer barulho algum, ela bateu na própria cabeça com raiva.

– Burra, eu sou mesmo uma estupida.

– Não. – Eu disse. – Você não é, e não faça isso, não se machuque.

– Isso é culpa sua Plim.

– Minha?

– Sim, antes eu não cometeria um erro desses, sabia bem o meu lugar, mas você me fez acreditar... – Ela tinha os olhos vermelhos e cheios de lagrimas, mas sorria pra mim. – Me fez acreditar de que eu fosse normal.

Eu a abracei e beijei o rosto dela, Cecilia ficou em choque, era muita intimidade para ela.

– Você não é normal. – Eu disse. – Nunca foi. Você é especial, um tesouro, uma Relíquia.

Escama NegraUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum