Meu Frágil Esquadrão.

3.5K 542 65
                                    


Emilian foi quem me contou sobre Cecilia, ele me levou até o quarto e realmente era verdade; ela estava chorando enrolada nas cobertas, quando entrei ela cobriu a cabeça tentando se esconder de forma infantil. Suspirei, a minha vontade era deixar como estava, eu já tinha meus problemas e não precisava resolver birra de criança, mas ouvi um soluço abafado pelos cobertores, Relíquia nunca chorava, nunca. Olhei para a janela, as cortinas balançando de leve com a brisa da manhã, agora que os treinos com Adriel tinham se encerrado possuíamos a parte da manhã toda pra nós, cada um aproveitava do seu jeito, Sará dormia até mais tarde. Ivna lia o tempo todo, eu ajudava Emilian com seu problema de raiva e Cecilia geralmente brincava com Yandra a filha de Nestor.

– Ela precisa de ajuda. – Cochichou Emilian puxando a minha mão.

– Eu sei.

– Então vai.

– Eu vou droga, calma.

Caminhei arrastando os passos emburrada. Olhando aquele montinho debaixo da coberta que tremia, Cecilia parecia minúscula encolhida daquele jeito, gaguejei, parei, pensei, olhei pra trás e Emilian me instigou a continuar.

– Hum, bem, Relíquia, o que foi que houve?

– Nada, só me deixa.

– Viu Emil? Ela não quer falar eu...

Emilian me encarou com olhos profundos, geralmente ele também não se importaria, estaria cagando pra quem quer que fosse, menos eu ou ele próprio, mas essa mudança era resultado de nossas lições, eu estava fazendo Emilian nutrir empatia pelos outros, se colocar no lugar das pessoas, na esperança de que si percebesse como poderia machucar ou magoar as pessoas ele se controlaria mais. Parecia estar funcionando. Respirei com calma e puxei as cobertas de Cecilia.

– ME DEIXA!

– Vai, chega disso, só quero conversar.

Ela sentou de uma vez, estendeu a mão sem luva me encarando, estava descabela e com os olhos inchados. Aquela mão na minha cara.

– Esse é o problema. – Disse Cecilia.

Eu encostei minha mão na dela e os dedinhos de Cecilia fecharam em volta dos meus. Eu a peguei de surpresa mas ela foi sorrindo, Emilian se aproximou e estendeu a mão também, confesso que tive receio, eu ser amaldiçoada era uma coisa, já Emilian...

Cecilia tocou na mãozinha dele.

– Porque vocês fazem isso? – Perguntou a menina.

Eu dei de ombros.

– Porque Plim faz. – Disse Emilian. – E porque você parecia precisar. – Cecilia sorriu ainda mais.

– Agora me conta. – Eu disse – O que aconteceu?

Eu e Emilian caminhamos pela rua. As eleições estavam se aproximando e as pessoas focam completamente no pleito. Pequenos comícios nas ruas, panfletos, garotos espalhando notícias vexaminosas sobre alguns candidatos, provavelmente pagos por algum dos concorrentes. Emilian ia olhando tudo, o sol brilhando e o céu limpo e azul, carroças passavam, cães corriam atrás de crianças risonhas, e pássaros faziam ninhos nos telhados.

– É ali Emil, vem.

Paramos na frente da casa e bati na porta. Frida, a mulher de Nestor atendeu, ela me olhou com uma pequena careta e suspirou.

– Pode entrar.

Tomamos café sentados à mesa, Nestor chegou, avisado sobre minha visita. Ele nos encarou, o rosto cansado, as eleições eram desgastante para todos principalmente para o prefeito e eu sabia que ele tinha se esforçado para nos receber. Ele pegou uma xícara de café e sentou conosco.

Escama NegraWhere stories live. Discover now