Orelhas e flechas pontudas.

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O céu estava cheio de estrelas, ventava frio e eu não conseguia dormir. As cigarras continuavam cantar. Caminhei até Rodhir em silencio, não queria despertar ninguém. Rodhir estava de costas pra mim, vigiava atento o mato. Encostei no ombro dele e ele se assustou, fez um movimento rápido e preciso colocando o cajado na minha garganta, eu nem respirava, levantei as mãos.

– Sou eu. Plim. – Cochichei.

Ele se acalmou e retirou o cajado devagar.

– Você é bem sorrateira. Quase ninguém consegue me pegar pelas costas, você tem sangue élfico?

Eu sorri e sentei ao lado dele no tronco caído.

– Eu posso ficar de vigia. Tô sem sono mesmo.

– Você, de vigia? – Ele perguntou sorrindo debochado.

– É ué, o que que tem?

Ele tocou na minha face esquerda e eu me assustei porque nem tinha visto sua mão.

– Entendeu? E se alguém vier pela esquerda? Você não consegue ver direito.

Fiquei escutando os sons das cigarras. A lua estava alta e bem cheia. O vento balançava as folhas.

– Você acha que vamos conseguir? – Perguntei olhando o céu.

– Talvez, depende de quanto os outros avançaram. Talvez tenha até quem continua andando.

– De noite? – Aquilo me pareceu absurdo, ninguém caminharia de noite numa floresta como aquela.

– Você acha estranho porque pensa como humana. Mas e os elfos? Orcs? Anões? Será que eles não caminhariam na escuridão? Os elfos são acostumados a viverem nas florestas. E os Anões então? Eles vivem em minas nos subterrâneos, enxergam tão bem no escuro como uma coruja.

Ele tinha razão e a ideia de pessoas se aproximando do portal me arrepiou, eu tinha que conseguir, não podia perder. Rodhir deve ter percebido minha angustia.

– Não se preocupe, você acha que se eu pensasse que tinha alguém tão na nossa frente eu iria ficar aqui? Parado?

– Mas você acabou...

– Sim, e é verdade. Mas acontece que essa floresta ficou fechada por muito tempo, e mesmo antes ninguém se atreveria andar por aqui. Ninguém conhece os caminhos, mesmo com o mapa, as chances de alguém estar chegando perto do templo do portal é quase nula. Por isso amanhã vamos redobrar os esforços e tentar avançar o máximo, e vamos acordar muito cedo.

Eu sorri. Rodhir era um ótimo líder e fiquei feliz por ter decidido ficar. A noite estava silenciosa, tirando nossa voz, só o vento fazia barulho. Me apavorei. Virei e fiquei atenta.

– O que foi? – Perguntou Rodhir me encarando.

– Tá ouvindo?

– O que? Não tem nada.

– E as cigarras onde foram?

Rodhir se levantou, mas era tarde. Eu senti me agarrarem e alguém lutava com Rodhir, ele era preciso com o bastão mas os atacantes eram três e ele estava sozinho. Foi segurado e acabou apanhando. Mais pessoas saíam da floresta e eu percebi que eram elfos, talvez dez ou doze deles. A pessoa que me segurava torceu meu braço pra trás e eu senti muita dor.

– Vamos. Fique com seus amigos. – Disse pra mim me jogando junto com o resto do nosso grupo.

Todos tinham acordado mas estávamos em desvantagem e quatro deles tinham arcos e flechas. Eles nos enfileiraram e eu percebi que Lídia estava assustada. Carlen manteve-se calmo como sempre, Alana de joelhos me olhou, talvez esperasse que eu fizesse algo mas o que eu poderia fazer? Fid sem entender levou um chute pra que ficasse mais junto da gente, Bradir não se movia, apenas ficou ajoelhado como todos nós. Chamusca deu trabalho, quatro elfos tiveram que segura-lo e um levou uma cabeçada que quebrou seu nariz, jogaram Chamusca no chão e deram tantos pontapés nele que pensei que iriam mata-lo. Lídia gritou que parassem. Fid choramingava e Rodhir derrotado no chão era amarrado pelos elfos.

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