De volta ao lar.

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Emilian se encolheu um pouco ao meu lado. A carroça entrava na cidade e a quantidade de pessoas era realmente assustadora. Olhei ao redor e percebi que nem quando a corrida estava pra começar a cidade ficou tão cheia. As pessoas saudavam, aplaudiam, gritavam coisas incompreensíveis, agora éramos praticamente realeza. Fid começou a se soltar e acenar com as mãozinhas, Blasco e Gil entraram na brincadeira, ficaram de pé e começaram a bater nas mãos das pessoas, cumprimentando como se fossem velhos amigos, a multidão adorando. Emilian observava atento e se levantou pra imitar os meninos, mas eu mandei que sentasse novamente, ele era meu item e tinha que se comportar feito tal, fora que eu tinha medo que ele caísse para o meio das pessoas, ser engolido pela aglomeração.

Os soldados tentavam impelir a multidão para trás, empurravam, xingavam, balançavam as lanças, alguns davam uns passos pra trás, só pra mais tarde voltarem pra cima da carroça. Ficamos sorrindo enquanto a carroça avançava.

– Eles gostam de vocês. – Disse Emilian do meu lado.

– Gostam dos nossos itens. – Explicou Gil. – Eles devem estar imaginando como nossas terras ficarão mais fortes e valorizadas agora.

Eu fiquei olhando os rostos das pessoas, tinham elfos, orcs, goblins que apontavam para Fid emocionados e não acreditando, havia gente de posses, camponeses, vagabundos e bêbedos. Eles queriam se aproximar, ver e comentar, se puder até tocar na gente. Os soldados impeliam, mas a multidão avançava, chegaram até a carroça e os meninos começaram a apertar as mãos e cumprimentar como se fossem importantes, estufavam o peito e empinavam os narizes, e a plebe enlouquecia. Emilian curioso, começou a imitar a pose deles, parecia um principezinho esnobe e galante, alguém tocou meu ombro, quando me virei senti um aperto no pescoço, a correntinha do meu medalhão estourou e eu gritei. Os meninos me olharam, os soldados finalmente conseguiam conter o povo.

– O que foi Plim? – Perguntou Blasco com uma marca de beijo no rosto.

– Roubaram meu medalhão. – Fiquei olhando pra multidão os guardas forçando que o povo recuasse. – Droga, meu medalhão, dos meus pais, eu...

– Na certa pensaram se tratar de algum item magico. – Comentou Gumercindo também olhando pra multidão.

Eu estava desesperada, era um medalhão de latão sem valor, mas pra mim era o único elo com minha origem e embora não tivesse vontade de conhecer meus pais eu sentia que aquele medalhão fazia parte de mim, de quem eu era, um lembrete para nunca esquecer que as pessoas abandonam até seus filhos. Eu o queria de volta, mas olhei pra multidão e sabia que seria impossível encontra-lo, senti uma lagrima no rosto e me odiei por aquilo. Os meninos tentavam ver onde poderia estar o ladrão.

– Esqueçam. – Eu disse. – Já era.

Emilian me olhou, bem nos olhos, ficou sério e saltou na multidão, um pulo de mais de dois metros de altura, a roupa balançando no ar, o corpo solto caindo na direção da multidão, ele mergulhou nas pessoas e sumiu na aglomeração.

– Caraca! – Exclamou Blasco e todos fomos pra beira da carroça que quase virou com nosso peso. – Vocês viram isso?

– Ele praticamente voou. – Comentou Gil de boca abera.

– Sabia que não se tratava de um garoto comum. – Disse Gumercindo tomando notas.

Eu olhei para a multidão que ainda ovacionava os campeões e gritava vivas, a maioria não tinha visto o que Emilian fez, mas alguns, assustados e confusos, ficavam olhando ao redor.

– Ele enlouqueceu. – Eu disse. – Ele vai se perder.

– Olhem ali!

Blasco apontou pra nossa frente e realmente naquele ponto as pessoas se empurravam, formou-se uma clareira no meio da multidão e alguém gritou, guardas foram até lá e mais gritaria. Um sujeito caiu de joelhos, bem no meio da clareira, segurava o próprio ventre e quando tirou as mãos do abdômen suas tripas despencaram no chão como um saco de estrume, as pessoas gritaram, houve confusão, os guardas tentavam ver o que acontecia, enquanto nossa carroça avançava pra longe deles. Vi alguém abrir espaço entre as pessoas, correr pra fora da multidão e driblar dois guardas, Emil se pendurou na carroça e o puxamos pra dentro.

Escama NegraWhere stories live. Discover now