Pássaros No Frio.

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De manhã não fomos treinar com Adriel. Mesmo mais tarde nada de exercícios com Orin. Um almoço leve, uma tarde tranquila. Ivna lendo, Sará observando o louva-deus que tinha apanhado, com Emilian em seu cangote querendo ver o bicho. Cecilia balançava a espadona, sozinha nos fundos do salão, e eu observava a janela. Orin estava nos deixando descansar, eu concordei em não dizer nada antes do tempo, mas sabia que estavam preparando algo. Assim que o sol se foi Adriel chegou. Todos a encararam, ela olhou para Orin e assentiu com a cabeça. O anão deixou fumaça escapar, tirou o cachimbo de lado, nos olhando, ostentado a farta barba branca.

– Existe um treino. – Disse Orin. – É muito perigoso, pode ser que seja a única chance de vocês, mas também a última coisa que façam.

Todos ficaram em silencio.

– Só vão os que quiserem. – Comentou Adriel. – Ninguém será obrigado.

Nós nos olhamos. Sará levantou abriu o frasco do louva-Deus na janela.

– O que tá fazendo? – Perguntou Emilian vendo o inseto fugir.

– Se eu morrer. – Disse Sará. – O bichinho não pode ficar preso pra sempre.

Eu sorri, observando o destemido Sará. Mas Orin fez uma careta.

– O problema não é só morrer, se acharam os treinos anteriores abusivos com a mente de vocês já desistam desse, não é brincadeira, nem motivo de bancar o corajoso, vocês podem acabar com a mente esvaziada, como mortos, mas ainda respirando.

Até Sará hesitou, eu mesma olhei para Emilian, a coisa não parecia ser pouca merda. Eu dei um passo à frente.

– Eu aceito.

Sará veio ao meu lado. Cecilia olhou pra enorme espada em suas mãos, olhou seu livrinho de poesias lá na mesa e deu um passo, Emilian já estava ao meu lado. Apenas Ivna permaneceu sentada no sofá, fechou o livro e nos olhou. Ela era a que mais tinha sofrido nos treinos anteriores, visto coisas terríveis que habitavam o interior de seu ser. Orin e Adriel se encararam, eles iam cancelar a missão eu podia sentir. "Todos ou nada".

– Você consegue Ivna. – Eu disse. – Lembra do que eu disse no navio?

Ela me olhou, um medo visível em seus olhos, certa melancolia e cansaço embalavam seu corpo, ela sorriu de leve como se usasse suas últimas forças.

– Lembro.

– Você já conseguiu antes, já conseguiu.

– Mas só fui porquê....

– Mas você quem ganhou, essa máscara é sua, de mais ninguém, não quer saber do que ela é capaz? Do que você é capaz?

Ivna levantou e parou ao meu lado. Todos olhamos Orin e Adriel, dei uma última olhada em Ivna e desejei com todas minhas forças ter feito a coisa certa em insistir com ela.

– Certo. – Suspirou Orin. – Então vamos.

A noite estava fria, estávamos agasalhados, eu escondia minhas mãos dentro das peles que me cobriam. Todos soltavam vapor pela boca, ouvindo poucos sons, poucos insetos, nossos pés amassando pedrinhas na terra úmida. Chegamos ao lago e dessa vez todos puderam ver a maravilha que Emilian e eu tínhamos visto noites atrás. A água límpida refletindo o céu e a lua, emolduradas por montanhas, o céu tão baixo, quase como se pudéssemos toca-lo.

– Incrível. – Exclamou Ivna.

– Digno da tinta. – Comentou Cecilia. – É quase como...

Escama NegraKde žijí příběhy. Začni objevovat