Adoráveis monstrinhos.

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— O que? — Gritei. Eu estava tremendo, tenho que confessar que fiquei assustada com a notícia, embora parecesse que só eu ficara daquela maneira.

— Não sei pra que tanto alarde. — Disse Gil. — E daí que a corrida vai ser na floresta amaldiçoada? Se ela fosse no centro não seria menos perigosa, o problema são os concorrentes.

— Engano seu, meu caro. — Disse Gostantin. Gil ficou em silêncio escutando o homem. Blasco também se aproximou e largou a espada de madeira no chão. Treinávamos no quintal do orfanato quando Gostantin e Plem trouxeram notícias sobre a corrida. Estávamos suados, sujos de terra e nem um tantinho melhor em combate. — Você não deve subestimar a floresta.

— Mas se ela é tão perigosa, — Começou Blasco – Por que decidiram fazer a corrida ali?

— Não decidiram. — Disse Gostantin. — As corridas não são feitas, e sim uma causa natural, na verdade o portal que mantêm os itens simplesmente está lá, no fim da floresta, sempre esteve, a corrida acontece porque todos querem chegar lá ao mesmo tempo.

— Entendi.

— De qualquer forma, é melhor tomarem cuidado, eu soube que demoram três dias para atravessar a floresta. — Gostantin disse isso e com ajuda de Plem voltou pra dentro do casarão.

Gil pegou a espada do chão e ficou em posição de ataque.

— Bom, não importa onde seja a corrida, temos que treinar do mesmo jeito.

Concordei com a cabeça e sem avisar desferi meu ataque. Treinamos a tarde toda e eu como sempre fui a pior com a espada, sempre tinha sido, mas depois que perdi um olho tudo piorou. Nunca percebia o inimigo chegando pela esquerda o que me tornava uma presa fácil. Eu não contava minhas preocupações para ninguém, mas no fundo não sabia o que faria na corrida, eu não tinha a mínima chance de vencer, e preferia perder do que precisar da ajuda de alguém.

Terminamos de treinar quando o céu ficou laranja. Os meninos foram tomar banho num córrego fora da cidade e eu me lavei como pude numa tina, misturando água quente com a gelada tirada do poço. Coloquei roupas limpas e escovava os dentes quando as crianças me cercaram. Estavam todas animadinhas me mostrando o livro, do jeito caótico deles, um falando por cima do outro, tentavam me mostrar os itens mágicos que achavam mais maravilhosos.

— Tem esse que puxa raio do céu. — Disseram os gêmeos super empolgados.

— O de domar feras é o melhor. — Concluiu Plem cruzando os braços e empinando o nariz, mostrando que sua opinião era a mais acertada.

— Nada disso! — Exclamou Lilin. — Gostantin disse que o aço negro vale uma montanha de ouro.

Eles começaram a discutir e eu fiquei com raiva. Cuspi a água pela janela e olhei meus dentes no espelho, branquinhos.

— Fedelhos do meu coração, será que podem calar as boquinhas?

Eles calaram e ficaram me olhando, estranhei e os encarei de volta, eles continuaram ali.

— O que? — Perguntei.

— E então? — Perguntou Plem.

— E então o que?

— Qual item você vai escolher? — Perguntaram todos de uma só vez.

— Queridos burrinhos, não é assim, não se escolhe os itens, eles veem por acaso, é o destino quem vai escolher. E isso se eu conseguir ser uma das primeiras.

Escama NegraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora