Mestres e discípulos.

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Quando uma coisa muito ruim acontece, tenho a mania de recapitular detalhes, tentar entender o acontecido, nisso eu caio na armadilha do "e se". E se eu tivesse ficado firme e não pestanejado com Emilian? e se tivéssemos nos apresentado? e se eu o vendesse mesmo e me tornasse a porra de uma condessa com dinheiro e poder?

Na pousada as pessoas comemoravam felizes, Dora ria com Davel, Lídia bebia com Fidlian e os outros, enquanto Chamusca jogava dardos com Gil. Um clima festivo nada condizente com o que sentia em meu coração. Olhei minha mão, o corte, a primeira vez que Emilian me ferira. O chá de Lídia era bom, mas nem ele podia me curar, não completamente, eu tinha feito besteira e sabia disso.

– Dia difícil? – Perguntou a mãe de Lídia, que reparando bem era muito parecida com a filha.

– Pode se dizer que sim.

Ela continuou enxugando uma xícara.

– E seu amiguinho, Emilian né?

– Subiu, deve estar deitado.

– Porque você não leva uma xícara de chá pra ele? Essa formula é especial. Olha, experimenta aqui.

Eu não estava afim, mas eles tinham sido maravilhosos, nos serviam de graça e ainda nos deixariam pernoitar na pousada. O chá era levemente azul, mesmo assim dava pra ver o fundo branco da xícara.

– Esse é gelado. – Disse a mãe de Lídia sorrindo assemelhando-se ainda mais com a filha. Tomei um gole e não gostei, mas minha boca ficou com um gostinho bom, e meio refrescante, tomei mais um gole e dessa vez desceu melhor, depois mais outro e a bebida era maravilhosa, senti algo leve, não na bebida, em mim. Minhas dores e tristezas já não eram tão grandes embora ainda pairassem sob mim. – Geladinho né? Pra congelar os males, a Lídia quem me disse.

Eu sorri e agradeci, peguei uma xícara e caminhei pela taberna. As pessoas conversavam, Chamusca se preparou para atirar mais um dardo e, uma flecha atingiu o alvo, era Davel com seu arco de flechas infinitas, era só tencionar o arco e uma flecha branca aparecia nele, ela sumia com tempo mas deixava suas marcas. Chamusca perseguiu Davel xingando. Eu subi as escadas e as risadas foram sumindo. O corredor estava escuro, bati na porta e ninguém respondeu, abri devagar e vi Emilian na janela, olhando a paisagem da grande cidade de Alba. Ele estava de costas e nem se virou.

– Eu trouxe chá. – Ele não respondeu. – É muito bom, se você beber....

– Não quero.

– Vai te fazer bem.

– Já disse que não quero.

– Toma só um golinho eu prometo que....

– Já disse que não quero você é surda?

– Emilian! Você é meu item e estou ordenando que beba.

Ele se virou e me encarou, estava com raiva, andou na minha direção e pegou a xícara.

– Sim senhora.

Ele bebeu o chá e aquilo me arrasou. Sua feição tomou notas mais suaves, seus olhos ainda zangados me fitavam entre a xícara.

– Como se sente? – Perguntei.

– Melhor.

– Que bom. – Eu disse pegando a xícara de suas mãozinhas. – Emil, eu... Eu queria me desculpar. Sinto muito por... Mas eu não ia eu só....

– Não tem problema. Você sempre quis um grifo, ir com Gil e Blasco, era seu sonho e eu arruinei, entendo, eu também me decepcionei com tudo isso.

Escama NegraWhere stories live. Discover now