Confissões Na Fogueira.

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Ver ele calmo e respirando devagar era um alivio e tanto, mas ainda assim me sentia horrível, não era como se Emilian simplesmente dormisse. Os cabelos grudados na testa, o rosto pálido ao exagero e a respiração fazendo um chiado que me cortava cada vez que o ouvia, evidenciavam o perigo que ele correu. Mas Adriel tinha sido fantástica ela usara todo seu conhecimento em poções e antídotos, baixara a temperatura de Emilian, e conseguiu com alguns encantos retirar a toxina de suas veias. Segundo ela Emilian não morreria, mas os efeitos colaterais poderiam ser cruéis e muitos. Eu a ouvi dizer para Orin, "Só sobreviveu porque não é humano". Olhei para Emilian mais uma vez e saí do quarto.

Na sala todos jantavam em silêncio, quando me viram perguntaram como ele estava e fui sincera ao dizer que não sabia. Comemos à luz de velas e nessa noite não houve conversas.

A história do envenenamento se espalhou por toda Petúnia. As pessoas afirmavam que teria sido um rival político tentando eliminar a concorrência, isso fez nossa fama aumentar, afinal se estávamos incomodando a ponto de tentarem matar nossos membros era porque tinham medo do que representávamos. Nossa popularidade subiu e Cecilia conseguiu capitalizar muitos votos prometendo descobrir os criminosos e puni-los. Mas eu não me sentia bem com toda essa história, queria voltar para Porto Verde, queria o conforto de Treysa e descansar no orfanato, queria ver Gil e Blasco, queria meu Emilian de volta, queria muito.

Descobri depois que Adriel e Orin não acreditavam na teoria dos inimigos políticos, eles perguntaram tudo o que acontecera no dia anterior:

– Ela disse Ivis Imperis? – Perguntou Adriel encarando Orin.

– Sim, por quê? – Perguntei.

Eles continuaram se olhando e eu me irritei.

– Por quê?! Por quê?

– Calma. – Pediu Orin olhando ao redor, só tínhamos nós na sala. – Ainda não sabemos ao certo mas...

– Não foi droga de candidato nenhum. – Eu disse.

– Não, não foi. – Revelou Adriel. – Checamos o corpo da assassina, ela tinha a marca do olho cego. – Adriel percebeu meu olhar e explicou. – Um grupo de assassinos, os melhores que existem, ninguém aqui teria contato com eles nem dinheiro pra pagar, eles geralmente servem...

Os dois ficaram se olhando novamente, não queriam contar, eu percebi em que terreno pisávamos e eu mesma me senti na beira de um precipício olhando o fundo infinito de queda livre.

– O império. – Eu disse e Adriel ficou em silencio. – Mas...

– Não sabemos. – Comentou Orin. – Não podemos ter certeza, nem o motivo e nem se foi realmente o império, já teve caso que a irmandade Rubra trabalhou com outros, mas em todo caso temos que tomar cuidado, alguém quer Emilian morto, e não é qualquer um.

Fiquei sentada ao lado do leito de Emilian, Irmandade Rubra, esse era o nome. Peguei na mãozinha de Emil e fiz a promessa de protegê-lo.

As coisas não caminhavam muito bem no esquadrão. Na verdade nosso trabalho em equipe estava péssimo. Todos tinham problemas e as eleições estavam chegando, faltava três dias e mesmo que nessa parte íamos bem os treinamentos não eram dos melhores. Sará abusava tanto do anel que ninguém queria usa-lo pra ajudar o jovem cigano, ele não ligava pro próprio corpo e todos sabíamos disso, ele se cortava, se queimava, apanhava sem desviar dos golpes, e isso sem usar o anel, quando estava compartilhando a força de outra pessoa ele ficava muito pior, já que não se feria muito e se sentia mais forte abusava demais de seu poder. Adriel vigiava Emilian enquanto treinávamos e Sará ficava sem ninguém pra por o anel com ele, eu me ofereci para ajuda-lo no treinamento que consistia em tirar um sino de Orin, uma tarefa muito mais difícil do que parecia. Já que eu estava sem Emilian pensei em ajudar. Mas Sará mostrou como não ligava pra si mesmo e de quebra não ligando pra mim, ele nem desviava dos golpes de fumaça, dos ataques de espada, acabei com um braço cortado os pulmões gritando por ar puro e um olho roxo, Sará pegou o sino e o treino acabou com Cecilia e Ivna ofegantes vindo me ajudar com os machucados.

Escama NegraWhere stories live. Discover now